Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA27:§17 – Dasein - ser-aí - ser-o-aí

segunda-feira 27 de fevereiro de 2017

Na medida em que existe, esse ente que não infundadamente denominamos ser-aí, pela primeira vez em seu ser e por meio de seu ser, deixa ser algo do gênero de um "aí". O ser-aí é aquele ente que consiste em ser algo assim como um "aí". O "aí": um círculo de manifestação em direção ao qual pela primeira vez o ente por si subsistente também pode se tornar manifesto, isto é, descoberto.

O "aí" não é uma posição, um lugar em contraposição ao "lá". Ser-aí não significa estar aqui em vez de lá, também não estar aqui e lá. Ao contrário, ele é a possibilidade, a viabilização do ser orientado ao aqui ou ao lá. O "aí" é, entre outras coisas, o espaço que emerge em si, mas não se fragmenta e esfacela em meio a essa emergência. Ser-aí é uma irrupção que se abre no espaço. E não apenas no sentido de que uma coisa material extensa ocupa um lugar no espaço. O ser-aí irrompe de um tal modo no espaço que esse espaço mesmo se manifesta em sua espacialidade; mas o ser-aí não é apenas isso. Mais exatamente: o espaço que se abre em meio a uma tal irrupção nada mais é que uma determinação essencial do aí, junto à qual primariamente demonstramos um elemento essencial do ente que somos. Certamente não é por acaso que muitos significados da língua, que não se referem absolutamente a conteúdos espaciais, acabam possuindo um significado espacial. Com isso é possível ver que o espaço desempenha um papel central no interior da metafísica, um papel que só pode ser problematizado numa relação originária com o tempo concebido de modo radical. Nenhuma física e nenhuma geometria jamais são capazes de desencobrir a essência do espaço; as duas permanecem eternamente fora dessa problemática e, expresso em termos metafísicos, só captam algo que é indiferente ao espaço. À ciência natural e à física, revela-se, dessa problemática, apenas um broto inteiramente vazio de conteúdo. Em contrapartida, a arte como escultura ou pintura consegue em certa medida se assenhorear do espaço.

O ser-aí é um ente que essencialmente se descerra. Isso significa: ele é um ente que promove, no e com o seu ser, pela primeira vez a emergência de uma esfera de manifestação; não de modo ulterior e ocasional, mas ao longo do tempo em que existe. Ele forma (de modo ambíguo) essa esfera de manifestação: qua ser-aí, ele a constitui e lhe confere forma. Com a existência do homem ocorre essa irrupção súbita no ente, de modo que o ente se introduz no círculo de manifestação como algo manifesto, bem como no aí manifesto, como aquilo que o ser-aí também pode manifestar em si mesmo. (Trad. CASANOVA  , p. 144-145)


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