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Seis estudos sobre “Ser e tempo” [6ST]

Ernildo Stein (2008:13-15) – Qual é a estrutura sistemática de ST?

segunda-feira 13 de novembro de 2023, por Cardoso de Castro

A estrutura fundamental de ST pode também ser descrita a partir de uma sequência de regras de predicadores ou de definições que correspondem às seis teses centrais do livro.

Qual é a estrutura sistemática de ST? As teses centrais são seis.

1) No início da obra Heidegger situa a questão da ontologia fundamental, do sentido do ser.

2) A clarificação desta questão somente pode resultar do recurso ao único ente que compreende ser — o homem (Dasein), o estar-aí.

3) O estar-aí é ser-no-mundo.

4) Ser-no-mundo é cuidado, cura (Sorge).

5) Cuidado é temporal (zeitlich).

6) A temporalidade do cuidado é temporalidade ecstática que se distingue do tempo linear, objetivado.

A estrutura fundamental de ST pode também ser descrita a partir de uma sequência de regras de predicadores ou de definições que correspondem às seis teses centrais do livro:

1) No domínio da questão do sentido do ser Heidegger estabelece a distinção de “ser” e “ente” (diferença ontológica), exige programaticamente uma destruição da ontologia do ente puramente subsistente e elabora metodologicamente uma fenomenologia hermenêutica cujos enunciados pretendem validade transcendental.

2) No recurso às condições de possibilidade da questão do sentido do ser Heidegger interroga pelas condições de possibilidade do discurso sobre a situação do homem constituída linguisticamente. Pois somente o homem pode como tal perguntar pelo sentido de algo. Com estes passos da elaboração da questão de ST se ocupam os §§ 1-11.

3) A análise da situação fundamental do homem é denominada por Heidegger como fenomenologia do ser-no-mundo (§§ 12-13). Assim ele passa então para a análise, tanto do ponto de vista linguístico como do ponto de vista filosófico-existencial, das partes componentes desta [14] expressão sincategorimética: “mundo” (§§ 14-24), “ser-com e ser-si-mesmo” (§§ 25-27); “ser-em”, antropologicamente como “sentimento de situação” (§ 29), “medo” (§ 30), “compreender” (§ 31), “interpretação” (§ 32), “enunciação” (§ 33), “discurso” e “linguagem” (§ 34), “tagarelice” (§ 35), “curiosidade” (§ 36), “ambiguidade” (§ 37), “decaída”, “estar-jogado” (§ 38).

4) A situação total que Heidegger designa “ser-no-mundo” pode ser designada como situação do “cuidado”. A relação de cuidado consigo mesmo e com o mundo caracteriza todas as realizações da vida relacionando-se, assim, com a vida como um todo (§§ 39-44).

5) O “cuidado”, por sua vez, manifesta uma forma especificamente temporal. Ela se manifesta na morte (§§ 46-53).

6) Com base na “temporalidade do cuidado” podem ser distinguidos dois modos de compreender inteiramente diferentes do ser-no-mundo. Heidegger os denomina “autenticidade” e “inautenticidade” (§§ 54s). As análises dos §§ 54 a 83 repetem as análises anteriores sob a perspectiva da “temporalidade”. É nestas análises que irão sendo mostradas as estruturas reificadas que o estar-aí apresenta em sua autocompreensão e são então retro-referidas a situações de compreensão reificada da própria temporalidade do homem. Mas esta reificação que remete à “inautenticidade” e se distingue assim da não-reificação que é o estado existencial de “autenticidade” não é uma falta produzida historicamente, nem representa uma falha que possa ser preenchida. A condição de “autenticidade” e “inautenticidade” é existencial e assim constitui a estrutura do estar-aí [1].

Heidegger, com esta obra inacabada, atingira com as teses desenvolvidas nos 83 parágrafos tanto aqueles que foram seus mestres, como aqueles com quem polemizava no interior de ST. Mas sua crítica à metafísica como um todo, a planejada [15] destruição das ontologias tradicionais, usando como fio condutor a crítica de seu conceito de tempo, instalara uma profunda confrontação entre paradigmas filosóficos. E isto é a via que permite ampliar e radicalizar a leitura de sua obra.

[STEIN, E. Seis estudos sobre “Ser e tempo  ”. 4. ed ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.]


Ver online : Ernildo Stein


[1Rentsch, Thomas. Heidegger und Wittgenstein. Stuttgart, 1985, p. 63