Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Bret Davis (2007:12) – Querer quer aquele que quer

sexta-feira 4 de outubro de 2024

Voltamos, então, mais uma vez, ao caráter de dupla face da vontade, a vontade como incorporação extática, mas agora com uma vantagem crítica ainda maior, pois até mesmo o momento extático é revelado como uma questão de pura extensão do poder pelo poder. A vontade é, afinal de contas, como vemos agora, uma espécie de “encapsulamento do ego” dinâmico, não, com certeza, no sentido tímido de excluir o mundo, mas no sentido agressivo de expandir o território do sujeito para incluir o mundo em seu domínio de poder. Em última análise: “Querer quer aquele que quer, como tal; e a vontade postula o querido enquanto tal” (GA6T1  :N1 51/40). “Dessa forma, [a vontade] vem continuamente como o mesmo [der gleiche] de volta sobre si mesma como o mesmo [den Gleichen]” (GA 5  :237/81). A vontade, ao querer a si mesma, alcança o mundo como algo que ela postula e representa como um meio para seu movimento de aumento de poder e, portanto, de preservação de poder, de preservação de poder e, portanto, de aumento de poder.

O “egoísmo” da vontade, é claro, não precisa ser o de um ego individual. Heidegger, de fato, adverte persistentemente contra essa simplificação “moral” do problema da vontade (ver GA54  :203-4). Restringir o problema da vontade ao do egoísmo individual seria deixar de ver que o nacionalismo e até mesmo o humanismo (antropocentrismo) ou a religião (zelo missionário) podem repetir o problema da vontade, mesmo quando pedem a auto-sacrifício dos egos individuais. A vontade coletiva para a proteção e o desenvolvimento de “interesses nacionais”, ou para o progresso tecnológico da humanidade na conquista da natureza, ou para a assimilação missionária de todos os pagãos remanescentes sob o reinado ou as rédeas da Vontade de nosso Deus: tudo isso pode permanecer apenas como formações alteradas de autossuperação em prol da autoexpansão. Retornaremos à questão das sublimações e sublimações abertas e encobertas da vontade quando discutirmos o múltiplo “domínio da vontade”.


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