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transcendental
quarta-feira 13 de dezembro de 2023
Ora, mas se o ente não é aquilo em direção ao que acontece a ultrapassagem, como deve ser então determinado este “em-direção-ao-que” [Woraufhin ]; mais, como ele deve, em última análise, ser procurado? Nós designamos aquilo em direção do que o ser-aí [Dasein ] como tal transcende o mundo [Welt ], e determinamos agora a transcendência [Transzendenz] como ser-no-mundo [In-der-Welt-sein ]. Mundo constitui a estrutura unitária [einheitliche Struktur ] da transcendência; enquanto dela faz parte, o conceito de mundo [Weltbegriff] é um conceito TRANSCENDENTAL. Com este termo é denominado tudo aquilo que faz parte essencialmente da transcendência e dela recebe de empréstimo sua possibilidade interna. E é somente por causa disto que a clarificação e interpretação da transcendência também pode ser chamada de uma exposição “TRANSCENDENTAL”. Com certeza, aquilo que o termo “TRANSCENDENTAL” [transzendental] significa não deve ser retirado agora de uma filosofia a que se atribui o (elemento) “TRANSCENDENTAL” como “ponto de vista” [Standpunkt] quiçá mesmo “epistemológico”. Isto não exclui a constatação de que precisamente Kant reconheceu o (elemento) “TRANSCENDENTAL” como o problema da possibilidade interna [inneren Möglichkeit ] de uma ontologia [Ontologie ] em geral, apesar de o “TRANSCENDENTAL” ainda manter para ele uma significação essencialmente “crítica” [wesentlich »kritische « Bedeutung ]. O TRANSCENDENTAL se refere, para Kant, à “possibilidade” [Möglichkeit] (o possibilitante [Ermöglichende]) daquele conhecimento [Erkenntnis ] que não sem razão “sobrevoa” a experiência [Erfahrung ], isto é, que não é “transcendente”, mas é a experiência mesma. O TRANSCENDENTAL dá, desta maneira, a delimitação essencial [Wesensbegrenzung] (definição [Definition ]) que, ainda que restritiva, é, contudo, por meio daí, ao mesmo positiva, do não transcendente, isto é, do conhecimento ôntico possível ao homem enquanto tal. Uma concepção mais radical e universal da essência da transcendência é, então, necessariamente acompanhada por uma elaboração mais originária da ideia da ontologia e, por conseguinte, da metafísica [Metaphysik ].
A expressão “ser-no-mundo”, que caracteriza a transcendência, nomeia um “estado de coisas” [Sachverhalt], e, na verdade, um que aparentemente se compreende com facilidade. Contudo, o que com isto é visado depende da condição de o conceito de mundo ser tomado em um sentido pré-filosófico vulgar ou em um sentido TRANSCENDENTAL. A análise de uma dupla significação do discurso [Rede ] sobre o ser-no-mundo pode esclarecer isto. [GA9 :139-140; tr. Ernildo Stein :GA9GS:151-152]