Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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pulsão

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Drang  

V. vida

A vis activa é, por conseguinte, um certo agir, mas não a ação na realização propriamente dita; ela é uma capacidade, mas não uma capacidade em repouso. Designamos o que Leibniz   aqui visa o tender para. . ., melhor ainda, para poder exprimir o específico, de certa maneira já efetivado, momento de agir, o impelir, PULSÃO. Não é nenhuma disposição nem um processo espontâneo, mas o empenhar-se desde dentro (a saber, por própria iniciativa e por si mesmo), o dispor a si para si mesmo (“ele insiste nisso”), instaurar-se na proximidade de si mesmo. [tr. Ernildo Stein  ; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

O característico na PULSÃO é que leva à ação a si mesmo, a partir de si mesmo e isto, na verdade, não ocasionalmente, mas por natureza. Este levar-se para. . . não necessita primeiro de um impulso que venha de qualquer lugar de fora. A PULSÃO mesma é o “instinto” que por natureza é impulsionado por ele mesmo. No fenômeno da PULSÃO não apenas reside o fato de que por si mesmo traz consigo como que a causa no sentido do desencadeamento, a PULSÃO enquanto tal já está sempre desencadeada, mas de tal modo que ainda sempre permanece tensa. Não há dúvida de que a PULSÃO pode ser freada em seu tender para, mas mesmo freada não é o mesmo que uma faculdade de agir em repouso. Certamente pode a eliminação das repressões libertar a PULSÃO para. . . O desaparecer de um freio, ou — para usar uma expressão feliz de Max Scheler   — o desenfrear, é, contudo, algo diferente de uma causa estranha que ainda se viesse juntar. Leibniz diz: atque ita per seipsam in operationem fertur; nec auxiliis indiget, sed sola sublatione impedimenti (ib.). O olhar para um arco tenso torna mais claro o que se quer dizer. A expressão força é por isso um pouco enganosa, porque facilmente se imagina uma qualidade em repouso. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Após esta elucidação da vis activa como PULSÃO, Leibniz passa para a determinação essencial: Et hanc virtutem omni substantiae inesse aio, semperque ex ae actionem nasci (ib. 470). Esta força, portanto — digo eu —, reside em cada substância (constitui sua substancialidade) e sempre dela nasce uma certa “ação”. Em outras palavras: ela é PULSÃO, é produtiva; producere quer dizer: conduzir algo à luz, fazer que algo resulte de si mesmo e como tal resultado guardá-lo em si. Isto também vale para a substância corporea. No choque de dois corpos a PULSÃO é meramente limitada em vários sentidos. Isto é passado por alto por aqueles (os cartesianos) qui essentiam eius (substantiam corporis) in sola extensione collocaverunt (ib.). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Cada ente possui o caráter desta PULSÃO, é determinado em seu ser como se irnpulsionante. É este o rasgo fundamental da mônada. Mas com isso, não resta dúvida, a estrutura desta PULSÃO não é ainda expressamente determinada. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Se a essência da substância é interpretada como mônada e esta como vis primitiva, PULSÃO, conatus  , nisus prae-existens, como impulsionando originariamente e levando em si o pleno   poder unificante, então, em face esta interpretação do ente tão cheia de consequências, levantam-se questões: [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

1. Em que medida é a PULSÃO enquanto tal o originário e simplesmente unificante? [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Se cada ente, cada mônada tem a PULSÃO de si, isto significa que carrega a partir de si o essencial de seu ser, daquilo por que e o modo como exerce a PULSÃO. Todo o impulsionar paralelo de outras mônadas é, em sua possível relação com cada uma das outras mônadas individuais, essencialmente negativo. Nenhuma substância é capaz de dar à outra sua PULSÃO, isto é, o que possui de essencial. Ela somente é capaz de simplesmente desenfrear ou frear, mas mesmo nesta maneira negativa ela sempre apenas funciona indiretamente. A relação de uma substância com a outra é unicamente aquela de uma delimitação, por conseguinte, uma determinação negativa. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Esclarecemos agora, de maneira geral, o conceito de vis activa: 1. vis activa significa “PULSÃO”. 2. O caráter desta PULSÃO reside em cada substância enquanto substância. 3. Desta PULSÃO brota constantemente um exercício. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A unidade da mônada não é o resultado de uma agregação, não é algo suplementar, mas aquilo que a priori   dá unidade. A unidade enquanto aquilo que dá unidade é ativa, é vis activa, PULSÃO enquanto primum constitutivum da unidade da substância. Aqui está o problema central da Monadologia. o problema da PULSÃO e da substancialidade. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

O caráter fundamental desta atividade tornou-se compreensível. Obscuro permanece como justamente a PULSÃO mesma pode dar unidade. Uma outra questão de decisiva importância é a seguinte: como se constitui, com base nesta mônada unida e concentrada em si mesma, a totalidade do universo em sua conexão? [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

“Além disso vale a pena considerar que este princípio de atividade (PULSÃO) nos é altamente compreensível, porque, de certa maneira, forma uma analogia   com relação àquilo que reside em nós, a saber, a representação e o tender para.” [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

É da auto-experiência, nascida da mudança espontânea perceptível no eu, é da PULSÃO que é tomada esta ideia de ser, único pressuposto, isto é, o conteúdo propriamente dito do projeto metafísico. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

O problema central que precisa ser retomado é o seguinte: como deve a PULSÃO que caracteriza a substância como tal dar unidade? Como deve ser determinada a PULSÃO mesma? [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Se a PULSÃO ou aquilo que é determinado como pulsionante tem o papel de dar unidade, na medida em que é aquilo que pulsiona, então ela mesma deve ser simples, não deve possuir partes como um agregado, um aglomerado. O primum constitutivum (Gerh. II, 342) deve ser uma indivisível unidade. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A PULSÃO simplesmente unificadora deve, enquanto pulsionar, levar em seu bojo o múltiplo, deve ser múltiplo. Então, porém, também o múltiplo deve ter o caráter de PULSÃO, de com-pulsado e im-pulsionado, de mobilidade como tal. Multiplicidade é movimento, é o mutável e o que está em transformação. O com-pulsado na PULSÃO é a própria PULSÃO. A modificação da PULSÃO, aquilo que se modifica na com-PULSÃO, é o im-pulsionado. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A PULSÃO como primum constitutivum deve ser simplesmente unificante e, ao mesmo tempo, origem e modo de ser do que é mutável. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A PULSÃO, a vis primitiva como primum constitutivum da unificação originária, deve, por conseguinte, ser aquilo que abre uma dimensão e abarca. Leibniz exprime isto da seguinte maneira: a mônada é, no fundamento de sua essência, re-presentadora. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

O mais íntimo motivo metafísico para o caráter representativo da mônada é a função ontológica unificadora da PULSÃO. Leibniz mesmo não se deu conta desta motivação. De acordo com a coisa mesma, no entanto, somente isto pode ser motivo, e não esta consideração: a mônada é, como força, algo vivo; do vivo faz parte a alma e da alma faz parte a representação. Se fosse assim, tudo se resumiria numa transposição extrínseca do elemento anímico para o ente como tal. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Pelo fato de a PULSÃO ter que ser aquilo que originaria e simplesmente unifica, deve ela ser o que abre a dimensão e abarca, deve ser “re-presentadora”. Re-presentar não deve ser tomado aqui como faculdade particular da alma, mas sob o ponto de vista ontológico-estrutural. Em consequência disso, a mônada não é alma em sua essência metafísica, mas dá-se o contrário: alma é uma possível modificação de mônada. A PULSÃO não é um acontecer que ocasionalmente também representa ou até produz representações; ela é por natureza representadora. A estrutura do próprio acontecer pulsivo se caracteriza pelo abrir dimensões, é ekstática. O re-presentar não é um puro fixar os olhos em…. mas é unificação no que é simples, unificação que antecipa e dis-põe para si o múltiplo. Nos Principes de la Nature et de la Grâce diz Leibniz (§ 2): . . .les actions internes. . . ne peuvent estre autre chose que ses perceptions (c’est à dire les représentations du composé, ou de ce qui est dehors, dans le simple). . . A des Bosses escreve: Perceptio nihil   aliud quam multorum in uno expressio (Gerh. II, 311) e: Nunquam versatur perceptio circa objectum, in quo non sit aliqua varietas seu multitudo (ib. 317). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Assim como o “representar”, também o “aspirar a” faz parte da estrutura da PULSÃO (noesis  orexis  ). Leibniz nomeia ao lado da perceptio (repraesentatio  ), ainda expressamente, uma segunda faculdade, o appetitus. Leibniz deve acentuar ainda particularmente o appetitus porque ele mesmo não capta logo, com suficiente radicalidade, a essência da vis activa — apesar da clareza com que a destaca da potentia activa e actio  . A força ainda permanece aparentemente algo de substancial, um núcleo, que é dotado de representação e tendência para. . ., enquanto a PULSÃO é, em si mesma, tendência para. . . representadora e representação que tende para. . . Não há dúvida que o caráter do appetitus possui ainda um significado particular, não tem a mesma significação que PULSÃO. Appetitus significa um momento próprio e essencial da PULSÃO como a perceptio. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A PULSÃO originariamente unificadora deve-se antecipar a qualquer possível multiplicidade deve estar-lhe à altura segundo a possibilidade, deve tê-la sobressaído e ultrapassado. A PULSÃO deve carregar de certa maneira a multiplicidade em si e fazê-la nascer em si pela ex-PULSÃO. Importa ver a origem essencial da multiplicidade na PULSÃO como tal. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Lembremos novamente: a PULSÃO que antecipa e ultrapassa é originariamente unidade unificadora, isto é, a mônada é substantia  . Substantiae non tota sunt quae contineant partes formaliter, sed res totales quae partiales continent eminenter (a de Volder, 21 de janeiro de 1704. Gerh. II, 263). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A PULSÃO é a natureza, isto é, a essência da substância. Como PULSÃO é ela, de certa maneira, ativa, mas este elemento ativo é sempre originariamente re-presentador (Principes de la Nature. . . § 2: Schmalenbach II, 122). Na carta a de Volder, acima citada, Leibniz continua: Si nihil sua natura activum est, nihil omnino activum erit; quae enim tandem ratio actionis si non in natura rei? Limitationem tamen adjicis, ut res sua natura activa esse possit, si actio semper se habeat eodem modo. Sed cum omnis actio mutationem contineat, ergo habemus quae negare videbaris, tendendam ad mutationem internam, et temporale   sequens ex rei natura. Aqui se afirma claramente: a atividade da mônada é, enquanto PULSÃO em si, PULSÃO para mudança. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

PULSÃO com-pele por natureza para o outro, é PULSÃO que se ultrapassa. Isto quer dizer: o múltiplo se origina naquilo que (im-)pulsiona, sendo ele mesmo (im-)pulsionante. A substância é successioni obnoxia entregue ao contínuo suceder. A PULSÃO se entrega como PULSÃO ao que se sucede, não como a algo diferente dela mesma, mas como a algo que dela faz parte. Aquilo que a PULSÃO procura ex-pulsar submete-se a si mesmo à sucessão temporal. O múltiplo não lhe é estranho, ela é a multiplicidade mesma. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Na PULSÃO mesma reside a tendência para a ultrapassagem de. . . para. . . Esta tendência para a ultrapassagem é o que Leibniz entende por appetitus. Appetitus e perceptio são, em sentido característico, determinações co-originárias da mônada. A tendência mesma é re-presentadora. Isto significa: ela é unificante a partir de uma unidade que antecipa e ultrapassa; unificante dos momentos de ultrapassagem de um representar a outro, momentos ex-pulsos na PULSÃO e que se com-pulsam. Imo rem accurate considerando dicendum est nihil in rebus esse nisi substantias simplices et in his perceptionem atque appetitum (a de Volder, Gerh. II, 270). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

O progressus perceptionum é o elemento originário da mônada, a tendência representadora para a ultrapassagem, a PULSÃO. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Para a gênese da doutrina da PULSÃO e da tendência para a ultrapassagem, é muito esclarecedora a carta de Volder de 19-1-1706 (primeiro esboço): Mihi tamen sufficit sumere quod concedi solet, esse quandam vim in percipiente sibi formandi ex prioribus novas perceptiones, quod idem est ac si dicas, ex priore aliqua perceptione sequi interdum novam. Hoc quod agnosci solet alicubi a philosophis veteribus et recentioribus, nempe in voluntariis animae operationibus, id ego   semper et ubique locum habere censeo, et omnibus phaenomenis sufficere, magna et uniformitate rerum et simplicitate (Gerh. II, 282 nota, Schmalenbach II, 54 ss., nota). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Em que medida é a PULSÃO, enquanto PULSÃO, unificante? Para responder a esta pergunta é necessário lançar um olhar para dentro da estrutura essencial da PULSÃO. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

1. A PULSÃO é originariamente unificante, e não por graça daquilo que ela unifica e de seu composto; ela é unificante enquanto antecipa e abarca como perceptio. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

2. Este percipere é abarcante, está voltado para algo múltiplo que, ele próprio, tem suas raízes na PULSÃO e dela emerge. A PULSÃO é, enquanto se ultrapassa, a-fluência (Andrang). Isto faz parte da estrutura monádica, a qual, mesma sempre, permanece representadora. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

3. A PULSÃO é como progressus perceptionum im-pulsionado a se ultrapassar, é appetitus. A tendência para a passagem é tendentia interna ad mutationem. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A mônada é originariamente simplesmente unificadora por antecipação, e isto de tal modo que justamente a unificação individualiza. A interna possibilidade da individuação, sua essência, reside na mônada enquanto tal. Sua essência é a PULSÃO. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Reunamos o que até aqui foi dito acerca da substancialidade da substância: substância é aquilo que constitui a unidade de um ente. Este elemento unificador é a PULSÃO, e precisamente tomada no sentido das determinações que foram mostradas: o múltiplo, em si mesmo re-presentar que forma, como tendência para a ultrapassagem. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A PULSÃO é, enquanto este unificante, a natureza de um ente. Cada mônada sempre tem sua propre Constitution originale. Esta é entregue juntamente com o ato da criação. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Provavelmente a individuação deve ocorrer naquilo que constitui, desde seu fundamento, a essência da mônada: na PULSÃO. Que caráter essencial da estrutura da PULSÃO possibilita cada individuação e fundamenta desta maneira cada particularidade da mônada? Em que medida é o originariamente unificante justamente um individuar-se no processo unificador? [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Se antes pusemos de lado a conexão com a criação, isto ocorreu apenas porque no caso se trata de uma explicação dogmática. O sentido metafísico, entretanto, que na caracterização da mônada como criada é expresso, é a finitude. Sob o ponto de vista formal   designa finitude: limitação. Em que medida é a PULSÃO limitável? [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Se finitude como limitação faz parte da essência da PULSÃO, deve ela determinar-se a partir do traço fundamental da PULSÃO. Este traço fundamental, porém, é unificação, e, a saber, re-presentadora; unificação que antecipa a ultrapassagem. Nesta unificação representadora reside uma antecipação de unidade visada pela PULSÃO, enquanto representadora e tendendo para a ultrapassagem. Na PULSÃO como appetitus representador reside como que um ponto para o qual, de antemão, se dirige a atenção, a unidade mesma a partir da qual ela unifica. Este ponto em que se fixam os olhos, point de vue, ponto de vista, é constitutivo para a PULSÃO. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Aqui se esconde o que até agora não foi captado explicitamente: algo que como PULSÃO abre em si mesmo um âmbito — e, de tal maneira, que justamente se mantém e é neste abrir âmbito — possui em si a possibilidade de captar-se a si mesmo. Neste (im-) pulsionar-se para. . . percorre o que assim (im-)pulsiona sempre uma dimensão, isto é, percorre a si mesmo e é desta maneira aberto para si mesmo e a saber, segundo sua possibilidade essencial. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Neste ponto em que se fixa o olhar, é — em cada caso numa determinada perspectiva do ente e do possível — como que visado todo o universo, mas de tal maneira que, de um modo determinado, se refrata no olho, a saber, conforme o grau de PULSÃO de uma mônada, quer dizer, sempre conforme sua possibilidade de se unificar a si mesma em sua multiplicidade. A partir daí torna-se claro que na mônada, como PULSÃO representadora, reside uma certa co-representação de si mesma. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Justamente na medida em que unifica — isto é sua essência —, individua-se a mônada. Mas na individuação, na PULSÃO desde a perspectiva que lhe é própria, unifica ela somente de acordo com sua possibilidade o universo nela de antemão representado. Cada mônada é, desta maneira, em si mesma um mundus concentratus. Cada PULSÃO concentra no (im-)pulsionar cada vez o mundo — em si — segundo sua maneira. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Pelo fato de cada mônada ser, de certa maneira que lhe é própria, o mundo, na medida em que o representa, está cada PULSÃO em consensus com o universo. Fundadas nesta concordância de cada PULSÃO representadora com o universo, estão também as próprias mônadas em conexão entre si. Na ideia da mônada como PULSÃO representadora, tendendo para a ultrapassagem, já está decidido que dela faz parte o mundo, cada vez numa refração que gera determinada perspectiva, que, por conseguinte, todas as mônadas, como unidades de PULSÃO, estão orientadas antecipadamente para a harmonia preestabelecida do todo do ente: harmonia praestabilita. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

A harmonia praestabilita é, contudo, como constituição fundamental do mundo real, dos actualia, aquilo que se contrapõe à mônada central — Deus — como aquilo para onde tudo é (com-)pulsiado. A PULSÃO de Deus é sua vontade, porém o correlato da vontade divina é o optimum, distinguendum enim inter ea, quae Deus potest et quae vult: potest omnia, vult optima. Actualia nihil aliud sunt quam possibilium (omnibus comparatis) optima; Possibilia sunt, quae non implicant contradictionem (a Bernoulli, 21-1-1699, Schmalenbach II, 11). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Em cada mônada reside, conforme a possibilidade, todo o universo. A individuação que se realiza como unificação na PULSÃO é, portanto, sempre essencialmente individuação de um ente que faz monadicamente parte do mundo. As mônadas não são partes isoladas, que apenas dão como resultado o universo, quando somadas. Cada mônada é como PULSÃO caracterizada, cada vez o universo mesmo, à sua maneira. A PULSÃO é PULSÃO re-presentadora, que sempre representa o mundo desde um ponto de vista. Cada mônada é um pequeno mundo, um microcosmo. O que foi dito por último não atinge o essencial na medida em que cada mônada é o mundo de tal maneira que como PULSÃO representa a totalidade do mundo em sua unidade, ainda que não o capte totalmente. Cada mônada é, de acordo com o grau de seu estar desperto, uma história do mundo que toma presente o mundo. Por conseguinte, está o universo, de certa maneira, tantas vezes multiplicado quantas sejam as mônadas que existem, de maneira análoga como a mesma cidade é diversamente representada para o observador individual, segundo as diversas situações (Discours, § 9). [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Nesta proposição são expressas diversas coisas: 1. A diferenciação das mônadas é necessária, ela faz parte de sua essência. Unificando, sempre a partir de seu ponto de vista, individuam-se a si mesmas. 2. As mônadas são por isso, elas mesmas, a fonte de sua diversidade por causa de seu modo de ver, perceptio-appetittus. 3. Esta re-presentação unificante do universo cada vez numa individuação é justamente aquilo que importa à mônada como tal em seu ser (PULSÃO). 4. Ela é o universo numa concentração. O centro da concentração é cada PULSÃO determinada desde um ponto de vista: concentrationes universi (Gerh. II, 278). 5. A mônada é speculum vitale (vide Principes de la Nature, § 3; Monadologia, §§ 63 e 77, e a carta a Rémond, Gerh. III, 623). Espelho, speculum, é um fazer-ver: Miroir actif indivisible (Gerh. IV, 557, Schmal. I, 146), um espelhar (im-)pulsionador indivisível e simples. À maneira do ser monádico realiza-se apenas este fazer-ver, acontece o singular desvelamento do mundo. O espelhar não é um parado retratar, mas ele mesmo impulsiona como tal para novas possibilidades de si mesmo que lhe foram esboçadas. Na antecipação do único universo num único ponto de vista, a partir de onde somente se torna visível a multiplicidade, o espelhar é simples. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Na medida em que a mônada sempre é o todo num ponto de vista, é ela, justamente com fundamento nesta integração no universo, finita: ela se relaciona com uma resistência, com algo que ela não é, e contudo poderia ser. Não há dúvida que a PULSÃO é ativa, mas em toda PULSÃO finita que se realiza numa perspectiva sempre reside, e necessariamente, algo que resiste, que se contrapõe à PULSÃO enquanto tal. Pois, na medida em que ela sempre (im-)pulsiona contra todo o universo desde um ponto de vista, não é tanta e tanta coisa. Ela é modificada pelo ponto de vista. Deve-se notar que a PULSÃO como (im-) pulsionar sempre está justamente relacionada com a resistência, porque ela, segundo a possibilidade, pode ser todo o universo, mas não o é. Da finitude da PULSÃO faz parte esta passividade, no sentido daquilo que a PULSÃO não com-pulsa. [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]

Este elemento negativo, puramente como momento estrutural da PULSÃO finita, marca o caráter daquilo que Leibniz entende como matéria-prima. A des Bosses escreve (Gerh. II, 324): Matéria prima cuilibet Entelechiae est essentialis, neque unquam ab ea separatur, cum eam compleat et sit ipsa potentia passiva totius substantiae completae. Neque enim materia prima in mole seu impenetrabilitate et extensione consistit. . . [tr. Ernildo Stein; Heidegger: A determinação do ser do ente segundo Leibniz]