Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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poesia e pensamento

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Dichten   und Denken  

Para nós, no entanto, ainda não está decidido se somos capazes de fazer, de forma apropriada, uma experiência poética com a linguagem [v. fazer uma experiência coma linguagem]. Estamos sempre no perigo de sobrecarregar um poema com excesso de pensamento e assim impedir que o poético nos toque. Um perigo ainda maior — hoje dificilmente assumido — é o de pensar de menos, de resistir ao pensamento de que a experiência em sentido próprio da linguagem só pode ser uma experiência de pensamento, de que a grandeza poética de toda poesia sempre vibra num pensamento. Mas se em jogo está uma experiência pensante com a linguagem, por que fazer referência a uma experiência poética? Porque o pensamento segue seu caminho na vizinhança da poesia. Por isso, é bom pensar no vizinho, naquele que habita a mesma proximidade. Ambos, POESIA E PENSAMENTO, precisam um do outro ao extremo, precisam de cada um em sua vizinhança. Qual o campo em que essa vizinhança tem seu âmbito próprio, isso a poesia e o pensamento terão de definir cada um a seu modo, não obstante ambos se encontrarem no mesmo âmbito. Como há séculos nos alimentamos do preconceito de que o pensamento é coisa da ratio, ou seja, do cálculo em sentido amplo, falar sobre a vizinhança de pensamento e poesia parece sempre muito suspeito.

O pensamento não é nenhum meio para o conhecimento. O pensamento abre sulcos no agro do ser. Por volta do ano de 1875, Nietzsche   escreve (WW XI, 20) o seguinte: "Nosso pensamento deve ter o cheiro forte de um trigal numa noite de verão". Quantos ainda possuem olfato para esse cheiro? [GA12  ]


Mas se fala tanto de POESIA E PENSAMENTO! Essa expressão já se tornou até fórmula vazia e monótona. É possível, porém, que o "e", presente na expressão "POESIA E PENSAMENTO", receba seu sentido pleno   e sua determinação se admitirmos que esse "e" possa significar a vizinhança [Nachbarschaft] de POESIA E PENSAMENTO. [GA12]
O discurso [Rede  ] sobre a vizinhança entre POESIA E PENSAMENTO diz, portanto, que um habita diante do outro, que um se instalou frente ao outro, que um se voltou para a proximidade do outro. Essa referência ao que caracteriza a vizinhança fala por imagens. Será que dizemos com isso algo pertinente à nossa questão? O que significa "falar por imagens" [bildliche Redeweise]? Ouvindo essa pergunta logo corremos para obter uma resposta sem nos darmos conta de que não é possível pretender uma forma segura enquanto não determinarmos o que é discurso e imagem, se e em que medida a linguagem fala por imagens. Mas deixemos tudo isso em aberto. Guardemos apenas o mais urgente que é buscar a vizinhança de POESIA E PENSAMENTO: esse encontro face a face de um e de outro. [GA12]
…é correto representar a vizinhança [Nachbarschaft] como um relacionamento [Beziehung  ]. Essa representação corresponde à vizinhança entre POESIA E PENSAMENTO. Todavia essa representação [Vorstellung  ] não nos diz se a poesia se volta para a vizinhança do pensamento, se o pensamento se volta para a vizinhança da poesia ou se ambos se voltam para a vizinhança entre um e outro. Tanto a poesia como o pensamento movimentam-se no elemento do dizer. Pensando a poesia, já nos vemos no mesmo elemento em que se movimenta o pensamento. Aqui não é possível decidir se a poesia é propriamente um pensamento ou se o pensamento é propriamente poesia. Fica obscuro o que determina a sua relação mais própria e a partir de onde isso que chamamos sem hesitar de próprio surge propriamente. No entanto, qualquer que seja o modo em que nos vem à mente POESIA E PENSAMENTO, um mesmo elemento já sempre está a nos alimentar, quer lhe prestemos atenção ou não. Esse elemento é a saga do dizer [Sagen  ]. [GA12]