Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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o entre

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Zwischen  

Mundo e coisa não subsistem um ao lado do outro como coisas justapostas. Eles se interpenetram. Assim os dois dimensionam um meio. Nesse meio, estão unidos. Assim unidos, são íntimos. O meio dos dois é a intimidade. “Entre” é o nome que nossa língua dá ao meio de dois. A língua latina diz inter. Inter corresponde ao alemão unter. A intimidade de mundo e coisa não é mistura. A intimidade prevalece somente onde o íntimo, mundo e coisa, puramente se distingue e permanece distinto. No meio de dois, entre mundo e coisa, em seu inter, nesse unter, prevalece o corte [Schied] que os separa e diferencia. [GA12MSC:19]


Em que direção deve-se olhar para que se possa caracterizar fenomenalmente o ser-em como tal? A resposta encontra-se, quando se recorda o que, na indicação do fenômeno, já foi confiado a visão fenomenológica: o ser-em difere da interioridade de algo simplesmente dado “em” um outro; o ser-em não é propriedade de um sujeito simplesmente dado, separada ou apenas provocada pelo ser simplesmente dado do “mundo”; ao contrário, o ser-em é um modo de ser essencial do próprio sujeito. Que mais se apresentaria neste fenômeno do que um commercium simplesmente dadO ENTRE um sujeito simplesmente dado e um objeto simplesmente dado? Esta interpretação aproximar-se-ia dos dados fenomenais se dissesse: a presença [Dasein  ] é o ser deste “entre”. Mesmo assim, a orientação pelo “entre” continuaria provocando mal-entendidos, pois impediria de se ver a indeterminação ontológica do ponto de partida de um ente em meio ao qual “é e está” este entre como tal. Nesse caso, O ENTRE já estaria sendo concebido como resultado da conveniência entre duas coisas simplesmente dadas. O seu ponto de partida prévio já explode o fenômeno e seria insensato tentar recompô-lo novamente a partir de seus fragmentos. Não é apenas que falte a “argamassa”. Também o “esquema”, segundo o qual a integração pode realizar-se, foi explodido ou jamais se desvendou. Do ponto de vista ontológico, é decisivo evitar previamente a fragmentação do fenômeno, o que significa assegurar o seu teor fenomenal positivo. Que sejam necessárias muitas circunstâncias para que isso se cumpra ontologicamente, isso foi, ontologicamente desvirtuado em tais proporções no modo tradicional de tratar o “problema do conhecimento” que chegou a se distorcer, a ponto de se tornar invisível. STMSC: §28
Como se apresenta, portanto, a posição prévia da situação hermenêutica até aqui considerada? Quando e como a análise existencial, que parte da cotidianidade, forçou toda a presença [Dasein] – esse ente do seu “princípio” ao seu “fim” – a entrar na visão fenomenológica propiciadora do tema? De fato, afirmou-se que a cura é a totalidade do todo estrutural da constituição da presença [Dasein]. Mas o ponto de partida da interpretação já não impõe a renúncia da possibilidade de apreender a presença [Dasein] como um todo? A cotidianidade é justamente o ser “entre” nascimento e morte. E, se a existência determina o ser da presença [Dasein] e o poder-ser também constitui CH: simultaneamente o já ser sua essência, então a presença [Dasein], enquanto existir, deve, em podendo ser, ainda não ser alguma coisa. O ente, cuja essência é constituída pela existência resiste, de modo essencial, à sua possível apreensão como ente total. A situação hermenêutica não apenas não assegurou a “posição” de todo o ente, como é até questionável se isso, por fim, se pode alcançar e se uma interpretação ontológica originária da presença [Dasein] não estará fadada ao fracasso, considerando-se o modo de ser do próprio ente tematizado. STMSC: §45
O Dito [de Anaximandro  ] diz inequivocamente que aquilo que está presente está na adikia  , quer dizer, saiu da sua articulação própria. Isto, porém, não pode querer dizer que já não está presente. Mas também não diz apenas que é ocasionalmente, ou talvez em qualquer uma das suas propriedades, que aquilo que está presente saiu da sua articulação própria. O Dito diz: o que está presente – como presente que é – saiu da sua articulação. A articulação tem de pertencer ao que está presente enquanto tal, juntamente com a possibilidade de sair da articulação. O que está presente é o que se demora por uma vez. A demora [die Weile  ] está a ser [west] enquanto chegada passageira à ida. A demora está a ser [west] entre o chegar de algures e o partir para algures. É entre este duplo estar-ausente [Ab-wesen  ] que o estar-presente de tudo o que se demora está a ser [west]. E neste “entre” que se articula aquilo que se demora por uma vez. Este “entre” é a articulação [Fuge] em que, desde a origem até à partida, se articula por uma vez aquilo que se demora. O estar-presente do que se demora arremessa-se em direcção ao “de onde” da origem e ao “para onde” da partida. O estar-presente articula-se no estar-ausente em ambas as direcções. O estar-presente está a ser [west] numa tal articulação. O que está presente desponta do chegar da origem, e vai-se na ida – as duas coisas ao mesmo tempo e, na verdade, na medida em que se demora. A demora está a ser [west] na articulação. [GA5BD  :415]