Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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“mundo”

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

»Welt  «

Assim, a compreensão de ser, própria da presença [Dasein  ], inclui, de maneira igualmente originária, a compreensão de “MUNDO” e a compreensão do ser dos entes que se tornam acessíveis dentro do mundo. STMSC: §4

Ao contrário, de acordo com um modo de ser que lhe é constitutivo, a presença [Dasein] tem a tendência de compreender seu próprio ser a partir daquele ente com quem ela se relaciona e se comporta de modo essencial, primeira e constantemente, a saber, a partir do “MUNDO” CH: isto é, aqui, a partir do que é simplesmente dado. STMSC: §5

A ontologia grega e sua história, que ainda hoje determina o aparato conceitual da filosofia, através de muitas filiações e distorções, é uma prova de que a presença [Dasein] se compreende a si mesma e o ser em geral a partir do “MUNDO”. STMSC: §6

Torna-se, assim, evidente que a interpretação antiga do ser dos entes se orienta pelo “MUNDO” e pela “natureza” em seu sentido mais amplo, retirando de fato a compreensão do ser a partir do “tempo”. STMSC: §6

E, no caso de “MUNDO” já ser em si mesmo um constitutivo da presença [Dasein], a elaboração conceitual do fenômeno do mundo requer uma visão penetrante das estruturas básicas da presença [Dasein]. STMSC: §11

O “em-um-mundo”; com relação a este momento, impõe-se a tarefa de indagar sobre a estrutura ontológica de “MUNDO” e determinar a ideia de mundanidade como tal (cf cap. STMSC: §12

Não há nenhuma espécie de “justaposição” de um ente chamado “presença [Dasein]” a um outro ente chamado “MUNDO”. STMSC: §12

Sendo essencialmente desse modo, a presença [Dasein] pode, então, descobrir explicitamente o ente que lhe vem ao encontro no mundo circundante, saber algo a seu respeito, dele dispor, ter “MUNDO”. STMSC: §12

Ao contrário, deve pressupô-la e dela a fazer CH: será que aqui se trata mesmo de “MUNDO”? STMSC: §12

Por isso, conhecer o mundo (noein  ), dizer e discutir o “MUNDO” (logos  ) funcionam como modo primário de ser-no-mundo, embora este último não seja concebido como tal. STMSC: §12

Em primeiro lugar, deve-se tornar visível o ser-no-mundo no tocante ao momento estrutural “MUNDO”. O cumprimento desta tarefa parece tão fácil e trivial que sempre se acredita poder-se dela prescindir. O que poderia significar descrever o “MUNDO” como fenômeno? Seria deixar e fazer ver o que se mostra no “ente” dentro do mundo. O primeiro passo consistiria, então, em elencar tudo o que se dá no mundo: casas, árvores, homens, montes, estrelas. Podemos retratar a “configuração” desses entes e contar o que neles e com eles ocorre. Mas é evidente que tudo isso permanecerá um “ofício” pré-fenomenológico que, do ponto de vista fenomenológico, não pode ser relevante. A descrição fica presa aos entes. É ôntica. O que, porém, se procura é o ser. Em sentido fenomenológico, determinou-se a estrutura formal   de “fenômeno” como o que se mostra enquanto ser e estrutura de ser. STMSC: §14

Descrever fenomenologicamente o “MUNDO” significa: mostrar e fixar numa categoria conceitual o ser dos entes que simplesmente se dão dentro do mundo. Os entes dentro do mundo são as coisas, as coisas naturais e as coisas “dotadas de valor”. O seu caráter de coisa torna-se problema; e como o caráter de coisa das coisas dotadas de valor se edifica sobre o caráter da coisa natural, o tema primário é o ser das coisas naturais, a natureza como tal. A substancialidade é o caráter ontológico das coisas naturais, das substâncias. Esse caráter é o fundamento de tudo. O que constitui o seu sentido ontológico? Com isso damos à investigação uma direção unívoca de questionamento. STMSC: §14

Mas será que, investigando desse modo, questionamos ontologicamente o “MUNDO”? A problemática assim caracterizada é, sem dúvida, ontológica. Entretanto, mesmo que se lograsse a mais pura explicação do ser da natureza, através das afirmações fundamentais da física matemática, esta ontologia nunca alcançaria o fenômeno “MUNDO”. Em si mesma, a natureza é um ente que vem ao encontro dentro do mundo e que pode ser descoberto, seguindo-se caminhos e graus diferentes. STMSC: §14

Não deveríamos, então, ater-nos primeiro aos entes em que, numa primeira aproximação e na maioria das vezes, a presença [Dasein] se detém, isto é, às coisas “dotadas de valor”? Não serão elas que mostram “propriamente” o mundo em que vivemos? Talvez elas mostrem de fato o “MUNDO” de forma mais penetrante. Essas coisas, no entanto, são também entes “dentro” do mundo. STMSC: §14

Nem um retrato ôntico dos entes intramundanos e nem a interpretação ontológica do ser desses entes alcançariam, como tais, o fenômeno do “mundo “. Em ambas as vias de acesso para o ser “objetivo” já se “pressupõe”, e de muitas maneiras, o “MUNDO”. STMSC: §14

Não será então que, em última instância, se poderia dizer “MUNDO” simplesmente como determinação desses entes? Na verdade, chamamos esses entes de seres intramundanos. Será o “MUNDO” um caráter do ser da presença [Dasein]? Toda presença [Dasein] não terá sempre seu mundo? Mas com isso “MUNDO” não seria algo “subjetivo”? Como, então, seria possível um mundo “comum” “em” que nós, sem dúvida, somos e estamos? E quando se coloca a questão do “MUNDO”, que mundo está subentendido? Nem este e nem aquele, e sim a mundanidade do mundo em geral. Através de que caminho deparamo-nos com tal fenômeno? STMSC: §14

“Mundanidade” é um conceito ontológico e significa a estrutura de um momento constitutivo de ser-no-mundo. Este, nós o conhecemos como uma determinação existencial da presença [Dasein]. Assim, a mundanidade já é em si mesma um existencial. Quando investigamos ontologicamente o “MUNDO”, não abandonamos, de forma nenhuma, o campo temático da analítica da presença [Dasein]. Do ponto de vista ontológico, “MUNDO” não é determinação de um ente que a presença [Dasein] em sua essência não é. “MUNDO” é um caráter da própria presença [Dasein]. Isto não exclui que o caminho de investigação do fenômeno “MUNDO” deva seguir os entes intramundanos e seu ser. A tarefa de “descrição” fenomenológica do mundo é tão pouco clara que já a sua determinação suficiente exige esclarecimentos ontológicos essenciais. STMSC: §14

A polissemia da palavra “MUNDO” salta aos olhos em seu uso frequente, bem como nas considerações tecidas até aqui. Seu esclarecimento pode vir a ser uma indicação dos fenômenos e de seus nexos referidos nas diferentes significações. STMSC: §14

1. Mundo é usado como um conceito ôntico, significando, assim, a totalidade dos entes que se podem simplesmente dar dentro do mundo. STMSC: §14

2. Mundo funciona como termo ontológico e significa o ser dos entes mencionados no item 1. “MUNDO” pode denominar o âmbito que sempre abarca uma multiplicidade de entes, como ocorre, por exemplo, na expressão “MUNDO” usada pelos matemáticos, que designa o âmbito dos objetos possíveis da matemática. STMSC: §14

3. Mundo pode ser novamente entendido em sentido ôntico. Nesse caso, é o contexto “em que” uma presença [Dasein] fática “vive” como presença [Dasein], e não o ente que a presença [Dasein] em sua essência não é, mas que pode vir ao seu encontro dentro do mundo. Mundo possui aqui um significado pré-ontologicamente existenciário. Deste sentido, resultam diversas possibilidades: mundo ora indica o mundo “público” do nós, ora o mundo circundante mais próximo (doméstico) e “próprio”. STMSC: §14

4. Mundo designa, por fim, o conceito existencial-ontológico da mundanidade. A própria mundanidade pode modificar-se e transformar-se, cada vez, no conjunto de estruturas de “mundos” particulares, embora inclua em si o a priori   da mundanidade em geral. Terminologicamente tomamos a expressão mundo para designar o sentido fixado no item 3. Quando, por vezes, for usada no sentido mencionado no item 2, marcaremos este sentido, colocando a palavra entre aspas, “MUNDO”. STMSC: §14

Terminologicamente, o adjetivo derivado mundano indica, portanto, um modo de ser da presença [Dasein] e nunca o modo de ser de um ente simplesmente dado “no” mundo. O ente simplesmente dado “no” mundo, nós o chamaremos de pertencente ao mundo CH: justamente a presença [Dasein] é obediente ao mundo ou intramundano. STMSC: §14

Um passar de olhos pela ontologia tradicional mostrará que, junto com a ausência da constituição da presença [Dasein] como ser-no-mundo, também se salta por cima do fenômeno da mundanidade. Em seu lugar, tenta-se interpretar o mundo a partir do ser de um ente intramundano e, ademais, de um ente intramundano não descoberto como tal, ou seja, a partir da natureza CH: “natureza” aqui entendida kantianamente, no sentido da física moderna. Entendida em sentido ontológico-categorial, a natureza é um caso limite do ser de um possível ente intramundano. A presença [Dasein] só pode descobrir o ente como natureza num determinado modo de seu ser-no-mundo. Esse conhecimento tem o caráter de uma determinada desmundanização do mundo. Enquanto conjunto categorial das estruturas de ser de um ente determinado, que vem ao encontro dentro do mundo, a “natureza” nunca poderá tornar CH: mas o contrário! compreensível a mundanidade. Do mesmo modo, o fenômeno “natureza”, no sentido do conceito romântico de natureza, só poderá ser apreendido ontologicamente a partir do conceito de mundo, ou seja, através da analítica da presença [Dasein]. STMSC: §14

No que diz respeito ao problema de uma análise ontológica da mundanidade do mundo, a ontologia tradicional, mesmo quando dele se dá conta, movimenta-se num beco sem saída. Por outro lado, uma interpretação da mundanidade da presença [Dasein], das possibilidades e modos de sua mundanização, haverá de mostrar por que, em seu modo de conhecer o mundo, a presença [Dasein] salta por cima do fenômeno da mundanidade, tanto do ponto de vista ôntico como ontológico. Saltar por cima já indica também a necessidade de precauções especiais para se obter um ponto de partida fenomenal conveniente, que não salte por cima do fenômeno da mundanidade. STMSC: §14

As indicações metodológicas já foram assim apresentadas. O ser-no-mundo e com isso também o mundo deve tornar-se tema da analítica no horizonte da cotidianidade mediana enquanto modo de ser mais próximo da presença [Dasein]. Para se ver o mundo é, pois, necessário visualizar o ser-no-mundo cotidiano em sua sustentação fenomenal. STMSC: §14

O mundo mais próximo da presença [Dasein] cotidiana é o mundo circundante. Para se chegar à ideia de mundanidade, a investigação seguirá o caminho que parte desse caráter existencial do ser-no-mundo mediano. Passando por uma interpretação ontológica dos entes que vêm ao encontro dentro do mundo circundante, poderemos buscar a mundanidade do mundo circundante (circumundanidade). A expressão mundo circundante aponta no “circundante” para uma espacialidade. O “circundar”, constitutivo do mundo circundante, não possui, de maneira nenhuma, um sentido primordialmente “espacial”. O caráter espacial que pertence indiscutivelmente ao mundo circundante há de ser esclarecido, ao contrário, a partir da estrutura da mundanidade. Somente a partir daí poder-se-á ver o fenômeno da espacialidade da presença [Dasein], esboçado no §12. Ora, a ontologia tentou justamente interpretar o ser do “MUNDO” como res extensa  , partindo da espacialidade. É em Descartes   que se mostra a tendência mais extremada para uma ontologia do “MUNDO” desta espécie, ontologia edificada em contraposição à res cogitans   que, porém, não coincide, nem do ponto de vista ôntico, nem do ontológico, com a presença [Dasein]. Pode-se esclarecer a análise da mundanidade aqui tentada, distinguindo-a desta tendência ontológica cartesiana. É o que se haverá de cumprir em três etapas: A. Análise da mundanidade circundante e da mundanidade em geral. B. Esclarecimento da análise da mundanidade por contraposição à ontologia do “MUNDO” de Descartes. C. O circundante do mundo circundante e a “espacialidade” da presença [Dasein]. STMSC: §14

Aqui, o ente não é objeto de um conhecimento teórico do “MUNDO” e sim o que é usado, produzido, etc. STMSC: §15

Uma interpretação assim orientada desconsidera que, para tanto, o ente deveria ser previamente compreendido como algo pura e simplesmente dado e que, em decorrência, um modo de lidar com o “MUNDO” que o descobre e dele se apropria passa a ter primado e autoridade. STMSC: §15

O “MUNDO”, porém, não resulta da reunião desses entes como uma soma. STMSC: §15

Mas, presença [Dasein] e ser referiu a um “MUNDO” que lhe vem ao encontro, pois pertence essencialmente a seu ser uma referencialidade. STMSC: §18

Não nos contentaremos apenas com uma exposição sumária das coordenadas fundamentais da ontologia do “MUNDO” de Descartes. STMSC: §18

Como, por um lado, a extensão é um dos constitutivos da espacialidade e, segundo Descartes, chega até a ser idêntica a ela, e como, por outro lado, a espacialidade constitui, em certo sentido, o mundo, a discussão da ontologia cartesiana de “MUNDO” propicia igualmente um ponto de apoio negativo para a explicação positiva da espacialidade do mundo circundante e da própria presença [Dasein]. STMSC: §18

A determinação de “MUNDO” como res extensa (§19). STMSC: §18

A discussão hermenêutica da ontologia cartesiana de “MUNDO” (§21). STMSC: §18

A extensão em comprimento, altura e largura constitui o ser propriamente dito da substância corpórea que chamamos “MUNDO”. STMSC: §19

Correlativamente, a prova para a extensão e a substancialidade do “MUNDO” por ela caracterizada realiza-se, de maneira a se mostrar de tal modo que todas as outras determinações desta substância, principalmente divisio, figura, motus  , só podem ser compreendidas como modos da extensio, ao passo que a extensio é compreensível sine figura vel motu. STMSC: §19

Sem dúvida, com relação a Deus, esse ente necessita de produção e conservação, mas, dentro do âmbito dos entes criados, do “MUNDO” no sentido de ens creatum  , existe algo que “não necessita de um outro ente”, no tocante à produção e conservação das criaturas, por exemplo do homem. STMSC: §20

Assim, tornaram-se claros os fundamentos ontológicos da determinação de “MUNDO” como res extensa: a ideia de substancialidade não é esclarecida no sentido de seu ser, sendo, ademais, apresentada como o que não se deixa esclarecer quando se segue o desvio pela propriedade principal da respectiva substância. STMSC: §20

Impõe-se uma questão crítica: Será que esta ontologia de “MUNDO” investiga o fenômeno do mundo? STMSC: §21

Contudo, por mais que isso seja correto e por mais equivocada que seja a própria caracterização ontológica deste determinado ente intramundano (natureza) – tanto a ideia de substancialidade quanto o sentido de existit e ad existendum assumido em sua definição – subsiste a possibilidade de se colocar e desenvolver de algum modo o problema ontológico do mundo, através de uma ontologia fundada na distinção radical entre Deus, eu e “MUNDO”. STMSC: §21

Na discussão crítica do ponto de partida cartesiano teremos, pois, de perguntar: Que modo de ser da presença [Dasein] é fixado como a via de acesso adequada ao que, enquanto extensio, Descartes identifica com o ser do “MUNDO”? STMSC: §21

Assim, de uma determinada ideia de ser, inserida no conceito de substancialidade e a partir da ideia de um conhecimento relativo ao ente assim conhecido, dita-se, por assim dizer, ao “MUNDO” o seu ser. STMSC: §21

Essa orientação turvou-lhe a visão do fenômeno do mundo, forçando a ontologia do “MUNDO” a entrar na ontologia de um ente intramundano determinado. STMSC: §21

A análise cartesiana de “MUNDO” possibilita, pela primeira vez, uma construção segura da estrutura da manualidade; necessita apenas de uma complementação, facilmente exequível, da coisa natural para transformá-la numa perfeita coisa de uso. STMSC: §21

Como a reconstrução e a “complementação” da ontologia tradicional do “MUNDO” chegam, em seu resultado, ao mesmo ente do qual partiu a análise acima referida da manualidade de instrumental e da totalidade conjuntural, surge a impressão de se ter esclarecido, de fato, o ser deste ente ou, ao menos, de tê-lo tomado como problema. STMSC: §21

Quando, porém, lembramos que a espacialidade manifestamente também constitui o ente intramundano, torna-se, enfim, possível “salvar” a análise cartesiana do “MUNDO”. STMSC: §21

O ponto de partida da extensão como determinação fundamental do “MUNDO” possui a sua razão fenomenal, embora nem a espacialidade do mundo, nem a espacialidade primeiramente descoberta dos entes que vêm ao encontro no mundo circundante e, sobretudo, a espacialidade da própria presença [Dasein] possam por ela ser compreendidas ontologicamente. STMSC: §21

Assim, por exemplo, com a “radiodifusão”, a presença [Dasein] cumpre hoje o dis-tanciamento do “MUNDO” através de uma ampliação e destruição do mundo circundante cotidiano, cujo sentido para a presença [Dasein] ainda não se pode totalmente avaliar. STMSC: §23

Enquanto ser-no-mundo, a presença [Dasein] já descobriu a cada passo um “MUNDO”. STMSC: §24

O “MUNDO” como um todo instrumental à mão perde o seu espaço, transformando-se em um contexto de coisas extensas simplesmente dadas. STMSC: §24

Não se indica nesta doação que se deve abstrair não apenas do “MUNDO” real e do ser dos outros “eus”, mas também de tudo o mais, com vistas à sua elaboração originária? STMSC: §25

Ao se querer identificar o mundo em geral com o ente intramundano, dever-se-ia então dizer: “MUNDO” é também presença [Dasein]. STMSC: §26

Quando a presença [Dasein] descobre o mundo e o aproxima de si, quando abre para si mesma seu próprio ser, este descobrimento de “MUNDO” e esta abertura da presença [Dasein] se cumprem e realizam como uma eliminação das obstruções, encobrimentos, obscurecimentos, como um romper das distorções em que a presença [Dasein] se tranca contra si mesma. STMSC: §27

E não somente isto; a ontologia “mais imediata” da presença [Dasein] recebe previamente do “MUNDO” o sentido do ser em virtude do qual estes “sujeitos” se compreendem. STMSC: §27

A resposta encontra-se, quando se recorda o que, na indicação do fenômeno, já foi confiado a visão fenomenológica: o ser-em difere da interioridade de algo simplesmente dado “em” um outro; o ser-em não é propriedade de um sujeito simplesmente dado, separada ou apenas provocada pelo ser simplesmente dado do “MUNDO”; ao contrário, o ser-em é um modo de ser essencial do próprio sujeito. STMSC: §28

A disposição é tão pouco trabalhada pela reflexão que faz com que a presença [Dasein] se precipite para o “MUNDO” das ocupações numa dedicação e abandono irrefletidos. STMSC: §29

Que a circunvisão cotidiana se equivoque, devido à abertura primordial da disposição e esteja amplamente sujeita a ilusão, isto é, segundo a ideia de um conhecimento absoluto de “MUNDO”, um me ón  . STMSC: §29

É justamente na visão instável e de humor variável do “MUNDO” que o manual se mostra em sua mundanidade específica, a qual nunca é a mesma. STMSC: §29

A disposição não apenas abre a presença [Dasein] em seu estar-lançado e dependência do mundo já descoberto em seu ser, mas ela própria e o modo de ser existencial em que a presença [Dasein] permanentemente se abandona ao “MUNDO” e por ele se deixa tocar de maneira a se esquivar de si mesma. STMSC: §29

A possibilidade essencial da presença [Dasein] diz respeito aos modos caracterizados de ocupação com o “MUNDO”, de preocupação com os outros e, nisso tudo, a possibilidade de ser para si mesma, em virtude de si mesma. STMSC: §31

Existencialmente, a fala é linguagem porque aquele ente, cuja abertura se articula em significações, possui CH: para a linguagem, estar-lançado é essencial o modo de ser-no-mundo, de ser lançado e remetido a um “MUNDO”. STMSC: §34

Que escutamos primeiramente motocicletas e carros, isso constitui, porém, um testemunho fenomenal de que a presença [Dasein], enquanto ser-no-mundo, já sempre se detém junto ao que está à mão dentro do mundo e não junto a “sensações”, cujo turbilhão tivesse de ser primeiro formado para propiciar o trampolim de onde o sujeito pudesse saltar para finalmente alcançar o “MUNDO”. STMSC: §34

Não é possível uma presença [Dasein], que não sendo tocada nem desviada pela interpretação mediana, pudesse colocar-se diante da paisagem livre de um “MUNDO” em si, para apenas contemplar o que lhe vem ao encontro. STMSC: §35

Ela se mantém oscilante e, desse modo, sempre é e está junto ao “MUNDO”, com os outros e consigo mesma. STMSC: §35

Repousando e permanecendo, a cura transforma-se em ocupação das possibilidades de ver o “MUNDO” somente em seus aspectos. STMSC: §36

Pretende apenas indicar que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença [Dasein] está junto e no “MUNDO” das ocupações. STMSC: §38

Por si mesma, em seu próprio poder-ser si mesmo mais autêntico, a presença [Dasein] já sempre caiu de si mesma e decaiu no “MUNDO”. STMSC: §38

Decair no “MUNDO” indica o empenho na convivência, na medida em que esta é conduzida pela falação, curiosidade e ambiguidade. STMSC: §38

Ao contrário, constitui justamente um modo especial de ser-no-mundo em que é totalmente absorvido pelo “MUNDO” e pela co-presença [Dasein] dos outros no impessoal. STMSC: §38

O decair no “MUNDO” já não tem mais repouso. STMSC: §38

Pode-se, portanto, determinar a cotidianidade mediana da presença [Dasein] como ser-no-mundo aberto na decadência que, lançado, projeta-se e que, em seu ser junto ao “MUNDO” e em seu ser-com os outros, está em jogo o seu poder-ser mais próprio. STMSC: §39

Porque, na tradição, a problemática ontológica compreendeu primariamente o ser no sentido de ser simplesmente dado (“realidade”, “MUNDO”-real) e, por outro lado, o ser da presença [Dasein] permaneceu indeterminado do ponto de vista ontológico, é preciso discutir o nexo ontológico entre cura, mundanidade, manualidade e ser simplesmente dado (realidade). STMSC: §39

Imergir no impessoal junto ao “MUNDO” das ocupações revela algo como uma fuga de si mesmo da presença [Dasein], e isso enquanto seu próprio poder-ser propriamente. STMSC: §40

Chamamos de “fuga” de si mesmo o decair da presença [Dasein] no impessoal e no “MUNDO” das ocupações. STMSC: §40

O “MUNDO” não é mais capaz de oferecer alguma coisa, nem sequer a co-presença [Dasein] dos outros. STMSC: §40

A angústia retira, pois, da presença [Dasein] a possibilidade de, na decadência, compreender a si mesma a partir do “MUNDO” e da interpretação pública. STMSC: §40

A angústia, ao contrário, retira a presença [Dasein] de seu empenho decadente no “MUNDO”. STMSC: §40

Como a angústia já sempre determina, de forma latente, o ser-no-mundo, este, enquanto ser que vem ao encontro na ocupação junto ao “MUNDO”, pode sentir medo. STMSC: §40

Medo é angústia imprópria, entregue à decadência do “MUNDO” e, como tal, angústia nela mesma velada. STMSC: §40

O acoplamento da totalidade referencial, das múltiplas remissões do “para-quê” ao que está em jogo na presença [Dasein] não significa a fusão de um “MUNDO” simplesmente dado de objetos com um sujeito. STMSC: §41

A interpretação do compreender mostrou, ao mesmo tempo, que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, ela já se colocou na compreensão de “MUNDO”, segundo o modo de ser da decadência. STMSC: §43

Confunde-se e não se chega a distinguir mundo enquanto o contexto do ser-em e “MUNDO” enquanto ente intramundano em que se empenham as ocupações. STMSC: §43

No entanto, com o ser da presença [Dasein], o mundo já se abriu de modo essencial; com a abertura de mundo, já se descobriu o “MUNDO”. STMSC: §43

Tais expectativas, intenções e esforços nascem da pressuposição, ontologicamente insuficiente, de algo com relação ao qual um “MUNDO” simplesmente dado deve comprovar-se independente e exterior. STMSC: §43

Após a desagregação do fenômeno originário do ser-no-mundo, desdobra-se, com base no que resta, ou seja, no sujeito isolado, a correlação com um “MUNDO”. STMSC: §43

Ela se diferencia, porém, em seus fundamentos de todo realismo porque o realismo toma a realidade do “MUNDO” como algo que necessita de prova e, ao mesmo tempo, como algo que pode ser comprovado. STMSC: §43

Como um em compreendendo, a presença [Dasein] pode compreender-se tanto a partir do “MUNDO” e dos outros entes quanto a partir de seu poder-ser mais próprio. STMSC: §44

Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença [Dasein] se perdeu em seu “MUNDO”. STMSC: §44

O finado deixou nosso “MUNDO” e o deixou para trás. STMSC: §47

Com relação a esse ser, ser do empenho cotidiano numa convivência junto ao “MUNDO” ocupado, não apenas a substituição é possível, como chega a constituir o conviver. STMSC: §47

Caso contrário não – “MUNDO” como uma espécie de ser ao qual pertence um ser-no-mundo. STMSC: §49

Pois existir faticamente não é somente um poder-ser-lançado no mundo, genérico e indiferente, já sendo também um empenhar-se no “MUNDO” das ocupações. STMSC: §50

Com o seu mundo, ele é, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, uma presença [Dasein] para si mesmo, e isso de tal modo que, a partir do “MUNDO” das ocupações, ele já abriu para si mesmo o poder-ser. STMSC: §55

O que poderia ser mais estranho para o impessoal, perdido no “MUNDO” das múltiplas ocupações, do que o si-mesmo singularizado na estranheza de si e lançado no nada? STMSC: §57

Lançada em seu “pre” [das Da  ], a presença [Dasein] já está sempre faticamente remetida a um “MUNDO” determinado, o seu. STMSC: §60

Essa abertura própria, porém, modifica, de forma igualmente originária, a descoberta do “MUNDO” e a abertura da co-presença [Dasein] dos outros nela fundada. STMSC: §60

Quanto a seu “conteúdo”, o “MUNDO” à mão não se torna um outro mundo, o círculo dos outros não se modifica, embora, agora, o ser-para o que está à mão, no modo de compreender e ocupar-se, e o ser-com da preocupação com os outros sejam determinados a partir de seu poder-ser mais próprio. STMSC: §60

O ser decadente junto às ocupações imediatas do “MUNDO” guia a interpretação cotidiana da presença [Dasein] e encobre, onticamente, o ser próprio da presença [Dasein], a recusando CH: equívoco! STMSC: §63

Na descoberta de “MUNDO”, guiada pela circunvisão nas ocupações, visualiza-se conjuntamente a ocupação. STMSC: §63

E se, na maior parte das vezes, a presença [Dasein] se interpreta a partir da perdição no “MUNDO” das ocupações? STMSC: §63

A auto-interpretação cotidiana, porém, tem a tendência de se compreender a partir do “MUNDO” das ocupações. STMSC: §64

A atualização só se esclarecerá mediante a interpretação temporal   da decadência no “MUNDO” das ocupações que nela encontra o seu sentido existencial. STMSC: §68

No estar-lançado, a presença [Dasein] também se esgarça, ou seja, lançada no mundo, ela se perde no “MUNDO”, em referindo-se faticamente àquilo de que se ocupa. STMSC: §68

Chamamos de modo de lidar no e com o mundo circundante o ser que se ocupa junto ao “MUNDO”. STMSC: §69

Somente porque se descobre o que opõe resistência com base na temporalidade ekstática da ocupação é que a presença [Dasein] pode faticamente compreender-se em seu abandono a um “MUNDO” que ela nunca domina. STMSC: §69

E é por isso que a presença [Dasein] faticamente existente, de algum modo, já sempre se reconhece também num “MUNDO” estranho. STMSC: §69

Neste intuito, observaremos o “surgimento” da atitude teórica frente ao “MUNDO” a partir da ocupação do manual, guiada pela circunvisão. STMSC: §69

Lançada, ela está referida a um “MUNDO” e existe faticamente com os outros. STMSC: §74

O “MUNDO” é, ao mesmo tempo, solo e palco, pertencendo, como tal, à ação e à transformação cotidianas. STMSC: §75

Lançada, ela se entrega ao “MUNDO” e decai, ocupando-se dele. STMSC: §79

Como a ocupação cotidiana se compreende a partir do “MUNDO” das ocupações, ela conhece o “tempo” que ela toma não como o seu. STMSC: §79

Entregue ao “MUNDO” descoberto em seu pre [das Da] e dependente de suas ocupações, a presença [Dasein] aguarda seu poder-ser-no-mundo. STMSC: §80

Isso implica que: com a temporalidade da presença [Dasein] que, lançada e entregue ao “MUNDO”, dá a si mesma tempo, também já se descobriu o “relógio”, ou seja, um manual que, retornando regularmente, se fez acessível na atualização que aguarda. STMSC: §80