Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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metafísica de Nietzsche

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

A METAFÍSICA DE NIETZSCHE   faz aparecer, na vontade de poder, o penúltimo estágio do desdobramento da vontade de entidade dos entes enquanto vontade de querer. O último estágio não aparece em virtude do domínio da "psicologia", no conceito de poder e força, no entusiasmo da vida. Isso explica por que falta a esse pensamento tanto o rigor e o cuidado do conceito como a tranquilidade de uma meditação histórica. Predomina a historiografia e, por isso, a apologia e a polêmica.

Por que a METAFÍSICA DE NIETZSCHE desprezou o pensamento em nome da "vida"? Por não ter percebido, segundo a doutrina de Nietzsche, como é essencial para a "vida" tanto assegurar a consistência (Bestandsicherung) da re-presentação e planificação (apoderadoras) quanto a "intensificação" e a elevação. Estas foram consideradas apenas (psicologicamente) sob o aspeto da embriaguez, na perspetiva decisiva de serem o que confere o impulso próprio e renovado para o asseguramento da consistência das coisas e também o que justifica a intensificação. Pertence assim à vontade de poder o predomínio incondicional da razão calculadora e não a poeira e o caos de uma turva convulsão vital. O culto desorientado de Wagner envolveu o pensamento de Nietzsche e sua exposição com uma "atmosfera de esteticismo". Este esteticismo, acrescido do escárnio da filosofia (isto é, de Hegel   e Schelling  ), cumprido por Schopenhauer   e sua interpretação superficial de Platão   e de Kant  , fez amadurecer nas últimas décadas do século XIX um entusiasmo que usou e abusou da superficialidade e do embaçamento da não-historicidade como critério do verdadeiro.

Por trás de tudo isso encontra-se, porém, uma única incapacidade, qual seja, de se pensar a partir da vigência da metafísica e reconhecer a envergadura da transformação da vigência da verdade e o sentido histórico do crescente domínio da verdade como certeza. E ainda a incapacidade de se reconduzir, a partir desse reconhecimento, a METAFÍSICA DE NIETZSCHE aos simples encalços da metafísica moderna, ao invés de fazer disso um fenômeno literário, visando mais a esquentar as cabeças do que a purificá-las, surpreendê-las ou, quem sabe, até espantá-las. Por fim, também a paixão que Nietzsche nutria pelos criadores trai a sua proveniência. Trai que ele pensa modernamente a partir de uma ideia de gênio, do genial e, também, tecnicamente a partir da noção de desempenho e eficácia. No conceito de vontade de poder, ambos os "valores" constitutivos (a verdade e a arte) não passam de circunscrições da "técnica", no sentido essencial de disponibilização planejadora e calculadora para um desempenho capaz de trazer para a ação de criar da "criatividade", sempre além de cada vida em particular, um novo estímulo do vivo e assim assegurar o êmulo da cultura.

Tudo isso serve à vontade de poder. Mas tudo isso também impede que seu vigor de essência apareça na luz clara de um saber amplo e essencial, que só pode originar-se no pensamento voltado para a dimensão da história do ser.

(…)

Com a METAFÍSICA DE NIETZSCHE, a filosofia acaba. Isso quer dizer: ela já percorreu todo o âmbito das possibilidades que lhe foram presignadas. [GA7  ]