Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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circunvisão

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Umsicht  

O modo de lidar, talhado segundo o instrumento, e único lugar em que ele se pode mostrar genuinamente em seu ser como, por exemplo, o martelar com o martelo, não apreende tematicamente esse ente como uma coisa que apenas ocorre, da mesma maneira que o uso não sabe da estrutura do instrumento como tal. O martelar não somente tido sabe do caráter instrumental do martelo como se apropriou de tal maneira desse instrumento que uma adequação mais perfeita não seria possível. Ao se lidar com o instrumento no uso, a ocupação se subordina ao ser para (Um-zu  ) constitutivo do respectivo instrumento; quanto menos se fixar na coisa martelo, mais se sabe usá-lo, mais originário se torna o relacionamento com ele e mais desvelado é o modo em que se dá ao encontro naquilo que ele é, ou seja, como instrumento. O próprio martelar é que descobre o “manuseio” especifico do martelo. Denominamos de manualidade o modo de ser do instrumento em que ele se revela por si mesmo. O instrumento está disponível para o manuseio, em sentido amplo, unicamente porque todo instrumento possui esse “ser-em-si”, não sendo o que simplesmente ocorre. Por maior que seja o grau em que se visualize precisamente a “configuração” das coisas na qual elas aparecem desta ou daquela maneira, nunca se conseguirá descobrir o que é o manual. A visualização puramente “teórica” das coisas carece de uma compreensão da manualidade. O modo de lidar com os instrumentos no uso e no manuseio não é porém cego. Possui seu modo próprio de ver que dirige o manuseio e lhe confere uma segurança especifica. O modo de lidar com instrumentos subordina-se a multiplicidade de referências do “ser para” (Um-zu). A visão desse subordinar-se é a CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

A atitude teórica visualiza meramente, sem CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

Embora destituído de CIRCUNVISÃO, visualizar não é por isso desprovido de regras. STMSC: §15

O que está à mão, o manual, nem se apreende teoricamente nem se torna diretamente tema da CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

Isso significa: descobri-lo nas referências constitutivas da obra, em vários graus de explicitação e em diferentes envergaduras de aprofundamento da CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

Mas o que a impossibilidade de emprego descobre não é a constatação visual de propriedades e sim a CIRCUNVISÃO da lida no uso. STMSC: §16

Numa perturbação da referência – na impossibilidade de emprego para…, a referência se explicita, se bem que ainda não como estrutura ontológica, mas, onticamente, para a CIRCUNVISÃO, que se depara com o dano do utensílio. STMSC: §16

A CIRCUNVISÃO desperta a referência a um específico ser para isso (Dazu  ), tornando assim visível não apenas tal ser, mas o contexto da obra, todo o “canteiro da obra” e, na verdade, como aquilo em que a ocupação sempre se detém. STMSC: §16

O conjunto instrumental não se evidencia como algo nunca visto e sim como um todo já sempre visto antecipadamente na CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

Da mesma forma, a falta de um manual, cuja disponibilidade cotidiana é tão evidente que dele nem sequer tomamos conhecimento, constitui uma quebra dos nexos referenciais descobertos na CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

A CIRCUNVISÃO depara-se com o vazio e só então é que vê para que (wofur) e com que (womit) estava à mão aquilo que faltava. STMSC: §16

Embora já sempre aberto à CIRCUNVISÃO, ele mesmo é inacessível à CIRCUNVISÃO por esta estar sempre voltada para o ente. “ STMSC: §16

Para que se possa encontrar o instrumento manual em seu “ser-em-si” nas ocupações cotidianas do “mundo circundante”, as referências e conjuntos referenciais em que a CIRCUNVISÃO “se empenha” não devem ser tematizados nem para ela e nem, principalmente, para uma apreensão “temática”, desprovida de CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

Como o manual intramundano já se tornou acessível, o mundo já deve ter-se aberto previamente para a ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

Segundo a interpretação feita até aqui, ser-no-mundo significa: empenhar-se de maneira não temática, guiando-se pela CIRCUNVISÃO, nas referências constitutivas da manualidade de um conjunto instrumental. STMSC: §16

Como se deve compreender mais precisamente a totalidade referencial em que se “move” a CIRCUNVISÃO e cujas possíveis quebras impõem o ser simplesmente dado dos entes? STMSC: §16

Ele se volta para a CIRCUNVISÃO do modo de lidar da ocupação e isso de tal maneira que a CIRCUNVISÃO, seguindo-lhe a indicação, dá uma “visão panorâmica” explícita de cada envergadura do mundo circundante. STMSC: §17

A visão panorâmica da CIRCUNVISÃO não apreende o que está à mão; ao contrário, ela recebe uma orientação no mundo circundante. STMSC: §17

Sinal não é uma coisa que se ache numa relação caracterizada pelo mostrar, mas um instrumento que, explicitamente, eleva um todo instrumental à CIRCUNVISÃO, de modo que a determinação mundana do manual se anuncie conjuntamente. STMSC: §17

No vestígio, o que se deu e aconteceu torna-se acessível à CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

Cria-se o sinal numa previsão cuidadosa própria da CIRCUNVISÃO e a partir dela. STMSC: §17

É uma previsão cuidadosa que necessita da possibilidade manual de, a cada passo, fazer anunciar o mundo circundante para a CIRCUNVISÃO, mediante o que está à mão. STMSC: §17

Por isso o modo de lidar da CIRCUNVISÃO no mundo circundante necessita de um instrumento à mão que assuma, em seu próprio caráter instrumental, a “obra” de causar surpresa de um manual. STMSC: §17

A ação de mostrar não dá origem apenas a uma disponibilidade orientada na CIRCUNVISÃO de um conjunto instrumental à mão e do mundo circundante em geral, mas ela pode até mesmo principiar um movimento de descoberta. STMSC: §17

É a CIRCUNVISÃO própria ao cultivo do campo que, levando-o em conta, descobre justamente aí o vento sudeste em seu ser. STMSC: §17

Fica, no entanto, a questão de como se descobre o ente nesse encontro prévio, se é como uma coisa que ocorre pura e simplesmente e não tanto como um instrumento não compreendido, ou se é como um manual que até então se mantinha entranhado para a CIRCUNVISÃO por não se saber “o que fazer” com ele. STMSC: §17

Também aqui, novamente, não se deve interpretar os caracteres instrumentais ainda não descobertos do manual pela CIRCUNVISÃO como mera coisalidade, destinada a uma apreensão do que é simplesmente dado. STMSC: §17

O que ele mostra é que há sempre algo com que se ocupar na CIRCUNVISÃO da cotidianidade. STMSC: §17

Na maior parte das vezes, enquanto sinal, ele não apenas está à mão somente para o seu “inventor” como, mesmo para ele, pode tornar-se inacessível, de tal maneira que um segundo sinal se faz necessário para o emprego possível do primeiro pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

O sinal não está apenas à mão junto com outro instrumento, mas, em sua manualidade, o mundo circundante torna-se, cada vez, explicitamente acessível à CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

Aí se enraíza o privilégio desse manual em meio ao mundo circundante, ocupado pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

A análise feita até o momento mostrou: o ente intramundano que vem ao encontro é liberado em seu ser para a CIRCUNVISÃO própria da ocupação, é levado em conta. STMSC: §18

Essas “relações” e “relatas” do ser-para, do ser em virtude de, do estar com de uma conjuntura, em seu conteúdo fenomenal, resistem a toda funcionalização matemática; também não são algo pensado, posto pela primeira vez pelo pensamento, mas remissões em que a CIRCUNVISÃO da ocupação sempre se detém como tal. STMSC: §18

O ente “à mão” sempre possui uma proximidade diferente que não se estipula medindo-se distâncias. Essa proximidade regula-se a partir do uso e manuseio “a se levar em conta” na CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

A CIRCUNVISÃO da ocupação fixa o que, desse modo, está próximo também quanto à direção em que o instrumento é, cada vez, acessível. STMSC: §22

Chamamos de região este para onde da possível pertinência instrumental, previamente visualizado no modo de lidar da ocupação dotada de uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

Para que a indicação e o encontro de lugares dentro de uma totalidade instrumental disponível à CIRCUNVISÃO sejam possíveis, é preciso que já se tenha descoberto previamente uma região. STMSC: §22

O lugar “em cima” é o lugar no “teto”, o “embaixo” é o “no chão”, o “atrás” é o “junto à porta”; todos os onde são descobertos e interpretados na CIRCUNVISÃO, através das passagens e caminhos do modo de lidar cotidiano, e não constatados e enumerados numa leitura de medições do espaço. STMSC: §22

Os próprios lugares dependem dos entes que se acham à mão na CIRCUNVISÃO da ocupação ou que, como tais, são encontrados. STMSC: §22

O que constantemente está à mão não tem um lugar, pois é previamente levado em conta pelo ser-no-mundo da CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

Assim, por exemplo, o sol cuja luz e calor são usados cotidianamente possui seus lugares marcados e descobertos pela CIRCUNVISÃO, a partir da possibilidade de emprego variável daquilo que ele propicia: o nascente, o meio-dia, o poente, a meia-noite. STMSC: §22

Ela mesma só se torna visível no modo da surpresa, numa descoberta do que está à mão, guiada pela CIRCUNVISÃO segundo os modos deficientes de ocupação. STMSC: §22

O espaço que, no ser-no-mundo da CIRCUNVISÃO, descobre-se como espacialidade do todo instrumental, pertence sempre ao próprio ente como o seu lugar. STMSC: §22

O “mundo circundante” não se orienta num espaço previamente dado, mas a sua manualidade específica articula, na significância, o contexto conjuntural de uma totalidade específica de lugares referidos à CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

Dis-tanciar é, numa primeira aproximação e, sobretudo, um aproximar dentro da CIRCUNVISÃO, isto é, trazer para a proximidade no sentido de providenciar, aprontar, ter à mão. STMSC: §23

Essas medidas exprimem que elas não apenas não querem “medir” como também indicam que as distâncias avaliadas pertencem a um ente com que lidamos numa CIRCUNVISÃO e ocupação. STMSC: §23

As distâncias são avaliadas, em primeiro lugar, de acordo com a CIRCUNVISÃO, mesmo quando se conhecem medidas estabelecidas “oficialmente”. STMSC: §23

O manual do mundo circundante, na verdade, não se oferece como algo simplesmente dado para um observador eterno, destituído de presença [Dasein  ], mas vem ao encontro na cotidianidade da presença [Dasein], empenhada em ocupações dentro da CIRCUNVISÃO. STMSC: §23

Por mais que se saibam com exatidão aqueles intervalos, este saber permanecerá cego por não possuir a função de aproximar o mundo circundante descoberto na CIRCUNVISÃO; este saber só se aplica num ser e para um ser que, em suas ocupações, não está medindo trechos de um mundo que “lhe diz respeito”. STMSC: §23

O dis-tanciamento guiado por uma CIRCUNVISÃO na cotidianidade da presença [Dasein] descobre o ser-em-sido “mundo verdadeiro”, isto é, de um ente junto ao qual a presença [Dasein], existindo, já sempre está. STMSC: §23

É a ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO que decide sobre a proximidade e distância do que está imediatamente à mão no mundo circundante. STMSC: §23

Aproximar significa: na periferia do que está imediatamente à mão numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §23

Ocupar um lugar deve ser concebido como distanciar o manual do mundo circundante dentro de uma região previamente descoberta numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §23

Espacial, a presença [Dasein] existe segundo o modo da descoberta do espaço inerente a CIRCUNVISÃO, no sentido de se relacionar num continuo distanciamento com os entes que lhe vêm ao encontro no espaço. STMSC: §23

A ocupação exercida na CIRCUNVISÃO é um distanciamento direcional. STMSC: §23

É ele que mantém expressamente abertas as regiões utilizadas na CIRCUNVISÃO, cada destino do pertencer, do encaminhar-se, do ir buscar e levar. STMSC: §23

Assim como o dis-tanciamento, o direcionamento é conduzido, previamente, como modo de ser-no-mundo pela CIRCUNVISÃO da ocupação. STMSC: §23

Dis-tanciamento e direcionamento enquanto características constitutivas do serem determinam a espacialidade da presença [Dasein] de estar no espaço intramundano, descoberto na CIRCUNVISÃO das ocupações. STMSC: §23

A ação liberadora de deixar e fazer em conjunto se perfaz no modo da referência, guiada pela CIRCUNVISÃO e fundada numa compreensão prévia da significância. STMSC: §24

Mostra-se assim que, dentro de uma CIRCUNVISÃO, o ser-no-mundo é espacial. STMSC: §24

De acordo com a possível transparência da CIRCUNVISÃO ocupacional, distancia-se e direciona-se o manual intramundano junto ao ser fático da presença [Dasein]. STMSC: §24

Enquanto ocupação com o mundo numa CIRCUNVISÃO, a presença [Dasein] pode tanto “arrumar” como desarrumar e mudar a arrumação, e isso porque o arrumar, entendido como existencial, pertence a seu ser-no-mundo. STMSC: §24

Em si mesma, ela está presente à CIRCUNVISÃO na não surpresa do manual a cuja ocupação se entrega a CIRCUNVISÃO. STMSC: §24

A espacialidade do que vem imediatamente ao encontro numa CIRCUNVISÃO pode tornar-se tema da própria CIRCUNVISÃO e suscitar uma tarefa de cálculo e medição como, por exemplo, na construção de uma casa ou na medição do campo. STMSC: §24

Com esta tematização da espacialidade do mundo circundante, operada de forma predominante na CIRCUNVISÃO, o espaço já é, de certo modo, visualizado em si mesmo. STMSC: §24

A pura visão pode seguir o espaço que assim se revela, abandonando a única possibilidade de acesso prévio, isto é, o cálculo empreendido pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §24

A descoberta do espaço puramente abstrato, destituído de CIRCUNVISÃO, neutraliza as regiões do mundo circundante, transformando-as em puras dimensões. STMSC: §24

Os lugares e a totalidade de lugares, orientados pela CIRCUNVISÃO dos instrumentos à mão, mergulham num sistema de coordenadas, destinado a qualquer coisa. STMSC: §24

O “também” significa a igualdade no ser enquanto ser-no-mundo que se ocupa dentro de uma CIRCUNVISÃO. “ STMSC: §26

Eles vêm ao encontro a partir do mundo em que a presença [Dasein] se mantém, de modo essencial, empenhada em ocupações guiadas por uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §26

No “aqui”, a presença [Dasein] que se empenha em seu mundo não se dirige para si mesma, mas de si mesma para o “lá” de um manual da CIRCUNVISÃO, aludindo, porém, a si na espacialidade existencial. STMSC: §26

O “estar em volta” é um modo existencial de ser: o ficar desocupado e desprovido de CIRCUNVISÃO junto a tudo e a nada. STMSC: §26

Se o ser-com constitui existencialmente o ser-no-mundo, ele deve poder ser interpretado pelo fenômeno da cura, da mesma forma que o modo de lidar da CIRCUNVISÃO com o manual intramundano que, previamente, concebemos como ocupação. STMSC: §26

Assim como a CIRCUNVISÃO pertence à ocupação enquanto modo de descoberta do manual, a preocupação está guiada pela consideração e pela tolerância. STMSC: §26

Por isso, a mundanidade do mundo assim constituída, em que a presença [Dasein] já sempre é e está de modo essencial, deixa que o manual do mundo circundante venha ao encontro junto com a co-presença [Dasein] dos outros, na própria ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §26

Ele se move, de início, segundo o modo de ser mais imediato do ser-no-mundo que é com, no conhecer compreensivo do que a presença [Dasein] encontra e do que ela se ocupa na CIRCUNVISÃO do mundo circundante. STMSC: §26

Com efeito, pode-se sempre ainda ampliar a análise no sentido de se distinguir a presença [Dasein] dos entes não dotados do caráter de presença [Dasein], mediante uma caracterização comparativa dos desdobramentos da ocupação e sua CIRCUNVISÃO, da preocupação e sua consideração, e através de uma explicação mais apurada do ser de todos os entes intramundanos possíveis. STMSC: §28

Nele, a presença [Dasein] se faz cega para si mesma, o mundo circundante da ocupação se vela, a CIRCUNVISÃO da ocupação se desencaminha. STMSC: §29

Deixar e fazer vir ao encontro é, primariamente, uma CIRCUNVISÃO e não simplesmente sensação ou observação. STMSC: §29

Numa ocupação dotada de CIRCUNVISÃO, deixar e fazer vir ao encontro tem o caráter de ser atingido, como agora se pode ver mais agudamente a partir da disposição. STMSC: §29

Que a CIRCUNVISÃO cotidiana se equivoque, devido à abertura primordial da disposição e esteja amplamente sujeita a ilusão, isto é, segundo a ideia de um conhecimento absoluto de “mundo”, um me ón  . STMSC: §29

A CIRCUNVISÃO vê o amedrontador por já estar na disposição do medo. STMSC: §30

A visão que, junto com a abertura do pre [das Da], se dá existencialmente e, de modo igualmente originário, a presença [Dasein], nos modos básicos de seu ser já caracterizados, a saber, a CIRCUNVISÃO da ocupação, a consideração da preocupação, a visão de ser em virtude da qual a presença [Dasein] é sempre como ela é. STMSC: §31

Ao se mostrar que toda visão funda-se primariamente no compreender – a CIRCUNVISÃO da ocupação é o compreender enquanto compreensibilidade – retira-se da intuição pura a sua primazia que, noeticamente, corresponde à primazia ontológica tradicional do ser simplesmente dado. “ STMSC: §31

A CIRCUNVISÃO descobre, isto é, o mundo já compreendido se interpreta. STMSC: §32

Todo preparar, acertar, colocar em condições, melhorar, completar, se realiza de tal modo que o manual dado na CIRCUNVISÃO é interpretado em relação aos outros em seu ser-para e vem a ser ocupado segundo essa interpretação recíproca. STMSC: §32

O que se interpreta reciprocamente na CIRCUNVISÃO de seu ser-para como tal, ou seja, o que expressamente se compreende, possui a estrutura de algo como algo. STMSC: §32

A questão que se levanta numa CIRCUNVISÃO: o que é esse manual determinado? A interpretação da CIRCUNVISÃO responde do seguinte modo: ele é para… STMSC: §32

O modo de lidar da CIRCUNVISÃO e interpretação com o manual intramundano, que o “vê” como mesa, porta, carro, ponte, não precisa necessariamente expor o que foi interpretado na CIRCUNVISÃO num enunciado determinante. STMSC: §32

Se, porém, todo e qualquer perceber de um instrumento à mão já é compreender e interpretar, e assim permite, na CIRCUNVISÃO, o encontro de algo como algo, não será que isso significa que primeiro se faz a experiência de algo simplesmente dado para depois apreendê-lo como porta ou como casa? STMSC: §32

Tudo o que está à mão sempre já se compreende a partir da totalidade conjuntural. Esta, no entanto, não precisa ser apreendida explicitamente numa interpretação temática. Mesmo quando percorrida por uma interpretação, ela se recolhe novamente numa compreensão implícita. E é justamente nesse modo que ela se torna fundamento essencial da interpretação cotidiana da CIRCUNVISÃO. STMSC: §32

O mostrar a partir de si mesmo e por si mesmo no enunciado se dá com base no que já se abriu no compreender e descobriu na CIRCUNVISÃO. STMSC: §33

Sem nenhum exame, pressupõe-se de antemão como “sentido” da proposição que a coisa martelo tem a propriedade de peso. Numa primeira aproximação”, não existem tais enunciados na CIRCUNVISÃO ocupacional. STMSC: §33

O exercício originário da interpretação não se acha numa enunciação teórica, mas na recusa e na troca do instrumento inadequado dentro de uma CIRCUNVISÃO ocupacional, “sem se perder tempo com uma palavra sequer”. STMSC: §33

Por outro lado, a interpretação pronunciada na CIRCUNVISÃO ainda não é, necessariamente, um enunciado no sentido definido. STMSC: §33

Quais as modificações ontológico-existenciais que fazem com que a interpretação CH: de que modo a proposição pode realizar-se mediante uma transformação da interpretação? da CIRCUNVISÃO gere o enunciado? STMSC: §33

A vantagem do enunciado consiste nesse nivelamento que transforma o “como” originário da interpretação, guiada pela CIRCUNVISÃO, no “como” de uma determinação do que é simplesmente dado. STMSC: §33

Chamamos de “como” hermenêutico-existencal o “como” originário da interpretação que compreende numa CIRCUNVISÃO (hermeneia  ), em contraste ao “como” apofântico do enunciado. STMSC: §33

Assim como estas, elas têm “origem” na interpretação da CIRCUNVISÃO. STMSC: §33

A ocupação é dirigida pela CIRCUNVISÃO que descobre o que está à mão e o preserva nesse estado de descoberta. STMSC: §36

A CIRCUNVISÃO confere a todos os desempenhos e a todos os dispositivos a pista de procedimento, os meios de execução, a ocasião adequada e o momento apropriado. STMSC: §36

A CIRCUNVISÃO é que, sem dúvida, se libera por não mais se achar comprometida com o mundo do trabalho. STMSC: §36

No repouso, a cura se recolhe à liberdade da CIRCUNVISÃO. STMSC: §36

A descoberta do mundo do trabalho, própria da CIRCUNVISÃO, tem o caráter ontológico do dis-tanciar. STMSC: §36

A CIRCUNVISÃO liberada já não tem mais nada à mão, de cuja proximidade tivesse de se ocupar. STMSC: §36

Mesmo esse nada ter a ver, o único que a fala cotidiana da CIRCUNVISÃO é capaz de compreender, não é um nada completo. STMSC: §40

Apenas por isso o ente “independente” pode fazer-se acessível como algo intramundano, que vem ao encontro na CIRCUNVISÃO. STMSC: §43

A ocupação que se dá na CIRCUNVISÃO ou que se concentra na observação descobre entes intramundanos. STMSC: §44

Na presença [Dasein] está em jogo o seu poder-ser-no-mundo e, com isso, a ocupação que descobre na CIRCUNVISÃO o ente intramundano. STMSC: §44

A presente análise deve esclarecer apenas como o em-penhar-se da ocupação comporta-se frente ao possível: não através de uma consideração temática e teórica do possível como possível e nem mesmo no tocante à sua possibilidade como tal, mas sim no modo em que ele, na CIRCUNVISÃO desvia o possível na direção de um possivelmente para-quê. STMSC: §53

Compreendendo-a, a presença [Dasein] ocupada numa CIRCUNVISÃO remete para o que vem ao encontro da mão. STMSC: §60

Na descoberta de “mundo”, guiada pela CIRCUNVISÃO nas ocupações, visualiza-se conjuntamente a ocupação. STMSC: §63

Quer “teórica”, quer “praticamente”, a compreensibilidade só se ocupa dos entes passíveis de serem supervisionados pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §63

Toda experiência ôntica de um ente, tanto a avaliação do que está à mão a numa CIRCUNVISÃO como o conhecimento científico de algo simplesmente dado, está sempre fundada em projetos mais ou menos transparentes do ser do respectivo ente. STMSC: §65

A decisão antecipadora abre de tal maneira cada situação do pre [das Da] que, agindo, a existência se ocupa numa CIRCUNVISÃO do que, faticamente, está à mão no mundo circundante. STMSC: §65

Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a cura é ocupação guiada por uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §66

A ocupação que conta e controla na CIRCUNVISÃO descobre, de início, o tempo, e leva à elaboração de uma contagem do tempo. STMSC: §66

Contando com seu tempo, o descobrir da CIRCUNVISÃO nas ocupações deixa vir ao encontro no tempo o manual e o ser simplesmente dado descobertos. STMSC: §66

Esta deve confirmar-se mediante a caracterização do ser-no-mundo cotidiano e imediato da ocupação decadente na CIRCUNVISÃO. STMSC: §67

É a sua temporalidade que possibilita a modificação da CIRCUNVISÃO em visualização perceptiva e em conhecimento teórico aí fundado. STMSC: §67

Ao contrário, compreender constitui o ser do pre [das Da] na medida em que uma presença [Dasein], com base na compreensão, pode, em existindo, formar as múltiplas possibilidades de visão, CIRCUNVISÃO e mera visualização. STMSC: §68

No modo da CIRCUNVISÃO cotidiana, o ter medo abre algo que ameaça. STMSC: §68

O extrair-se no esquecimento de um poder-ser fático e decidido baseia-se nas possibilidades de salvação e escape previamente descobertas numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §68

A análise da temporalidade da ocupação se atém, inicialmente, ao modo de atarefar-se, numa CIRCUNVISÃO, com o que está à mão. STMSC: §69

Depois, persegue a possibilidade existencial e temporal   de a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, modificar-se em descoberta “meramente” visualizadora dos entes intramundanos, no sentido de certas possibilidades da pesquisa científica. STMSC: §69

A interpretação da temporalidade do ser junto a, tanto o guiado pela CIRCUNVISÃO como o que se ocupa teoricamente do que está à mão e é simplesmente dado dentro do mundo, mostra, igualmente, como esta temporalidade já é, preliminarmente, a condição de possibilidade do ser-no-mundo, em que se funda o ser junto aos entes intramundanos. STMSC: §69

A interpretação existencial e temporal do ser-no-mundo considera, pois, três aspectos: a) a temporalidade da ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO; b) o sentido temporal em que a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, se modifica em conhecimento teórico do que é simplesmente dado dentro do mundo; c) o problema temporal da transcendência do mundo. STMSC: §69

a ) A temporalidade da ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO Como obter a visão capaz de orientar a análise da temporalidade da ocupação? STMSC: §69

O modo de lidar da ocupação só pode deixar que um manual venha ao encontro numa CIRCUNVISÃO, caso já se compreenda a conjuntura, isto é, que sempre algo está junto com algo. STMSC: §69

O ser junto a… da ocupação, que descobre numa CIRCUNVISÃO, é um deixar e fazer em conjunto, ou seja, um projeto que compreende a conjuntura. STMSC: §69

O deixar e fazer em conjunto, fundado na temporalidade, já instalou a unidade das remissões em que se “movimenta” a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

É baseado nele que o manual, enquanto o ente que é, pode vir ao encontro numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

Por isso, pode-se esclarecer ainda mais a temporalidade da ocupação com o exame dos modos de deixar vir ao encontro numa CIRCUNVISÃO, já caracterizados como surpresa, importunidade e impertinência. STMSC: §69

Na CIRCUNVISÃO, o não estar à mão descobre-se no dar pela falta. STMSC: §69

O que não pode ser dominado pelo modo de lidar na ocupação, entendido como produzir, providenciar e também desviar, afastar, proteger-se de…, desvela-se em sua impossibilidade de superação. A ocupação se contenta com isso. O contentar-se com… é, no entanto, um modo próprio de deixar vir ao encontro numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

Neste intuito, observaremos o “surgimento” da atitude teórica frente ao “mundo” a partir da ocupação do manual, guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

Tanto a descoberta guiada pela CIRCUNVISÃO quanto a descoberta teórica dos entes intramundanos danos fundam-se no ser-no-mundo. STMSC: §69

b ) O sentido temporal em que a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, se modifica em descoberta teórica do que é simplesmente dado dentro do mundo Se, no movimento das análises ontológico-existenciais, questionamos o “aparecimento” da descoberta teórica a partir da ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO, então o que se problematiza não é a história e o desenvolvimento ôntico da ciência e nem suas condições fatuais ou seus fins mais imediatos. STMSC: §69

Orientando-se pelo propósito de penetrar na constituição temporal do ser-no-mundo, investigaremos apenas a transformação formação da ocupação do manual, guiada pela CIRCUNVISÃO, em pesquisa do ser simplesmente dado dentro do mundo. STMSC: §69

É fácil caracterizar a transformação do manejo e uso “práticos”, guiados pela CIRCUNVISÃO, em pesquisa “teórica”, considerando que: a pura visualização dos entes aparece na medida em que a ocupação se abstém de todo manejo. STMSC: §69

Todavia, a suspensão de um manejo específico no modo de lidar da ocupação não faz da CIRCUNVISÃO orientadora um simples resto. STMSC: §69

A ocupação é que se desloca para a mera CIRCUNVISÃO de si mesma. STMSC: §69

Ao contrário, demorando-se na suspensão do manejo, a ocupação pode assumir o caráter de uma CIRCUNVISÃO ainda mais aguçada, no sentido de “testar”, examinar o que foi alcançado ou de supervisionar o “funcionamento” que justamente agora “está parado”. STMSC: §69

Abster-se do uso instrumental significa tão pouco “teoria” que, na “observação” demorada, a CIRCUNVISÃO permanece inteiramente atada ao instrumento ocupado e à mão. STMSC: §69

De acordo com a primazia da “visão”, deve-se iniciar a demonstração da gênese existencial da ciência, mediante a caracterização da CIRCUNVISÃO que rege a ocupação “prática”. STMSC: §69

A CIRCUNVISÃO movimenta-se nas remissões conjunturais de um nexo instrumental à mão. STMSC: §69

Através de uma interpretação do que se vê, a CIRCUNVISÃO “supervisora”, própria da ocupação, coloca mais perto da presença [Dasein] aquilo que, em cada uso e manejo, está à mão. STMSC: §69

Chamamos de reflexão a aproximação específica que interpreta, numa CIRCUNVISÃO, aquilo de que se ocupa. STMSC: §69

A reflexão guiada pela CIRCUNVISÃO ilumina cada posição fática da presença [Dasein] em seu mundo circundante de ocupações. STMSC: §69

A reflexão também pode realizar-se sem que aquilo mesmo que se aproxima numa CIRCUNVISÃO esteja ao alcance da mão ou vigente no campo mais próximo da visão. STMSC: §69

Este colocar mais perto o mundo circundante, na reflexão guiada pela CIRCUNVISÃO, tem o sentido existencial de uma atualização. STMSC: §69

A CIRCUNVISÃO que torna atual não se refere a “meras representações”. STMSC: §69

A atualização, guiada pela CIRCUNVISÃO, é, no entanto, um fenômeno de múltiplos fundamentos. STMSC: §69

Pela reflexão, o caráter de conjuntura do que está à mão não é descoberto mas apenas aproximado, de tal maneira que a reflexão faz ver como tal, numa CIRCUNVISÃO, aquilo junto com o que algo está em conjunto. STMSC: §69

O enraizamento da atualidade no porvir e no vigor de ter sido é a condição existencial e temporal de possibilidade para que aquilo que se projetou no compreender da compreensão, guiada por uma CIRCUNVISÃO, possa ser colocado mais perto numa atualização. STMSC: §69

Mas em que a caracterização temporal da reflexão, guiada pela CIRCUNVISÃO, e de seus esquemas contribui para responder à questão em suspenso sobre a gênese da atitude teórica? STMSC: §69

Contribui apenas para esclarecer a situação, dotada do caráter de presença [Dasein], em que a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, transforma-se em descoberta teórica. STMSC: §69

A própria análise da transformação deve ser investigada sob o fio condutor de um enunciado elementar característico da reflexão, guiada pela CIRCUNVISÃO, e de suas possíveis modificações. STMSC: §69

No uso de uma ferramenta, guiado por uma CIRCUNVISÃO, podemos dizer: o martelo é muito pesado ou muito leve. STMSC: §69

Mas a frase também pode dizer: o ente que aqui se encontra e que, numa CIRCUNVISÃO, já conhecemos como martelo, tem um peso, isto é, a “propriedade” de ser pesado; ele exerce uma pressão sobre o seu suporte; afastando-se do apoio, ele cai. STMSC: §69

A fala de “muito pesado” ou “muito leve”, guiada por uma CIRCUNVISÃO, não possui agora mais nenhum sentido, ou seja, o ente que agora vem ao encontro não oferece, nele mesmo, nada mais com referência a que algo possa ser “considerado” muito pesado ou muito leve. STMSC: §69

Mas será que uma atitude científica já se constitui por se “conceber” como simplesmente dado algo que, numa reflexão guiada pela CIRCUNVISÃO, está à mão? STMSC: §69

Visando a uma primeira caracterização da gênese da atitude teórica a partir da CIRCUNVISÃO, estabelecemos como base um modo de apreensão teórica dos entes intramundanos, a saber, a natureza física, em que a modificação da compreensão de ser equivale a uma transformação. STMSC: §69

Ela difere da atualidade da CIRCUNVISÃO, sobretudo, por a descoberta da respectiva ciência só aguardar a descoberta do que é simplesmente dado. STMSC: §69

Caso, porém, a tematização do ser simplesmente dado dentro do mundo seja uma transformação da ocupação descobridora, guiada por uma CIRCUNVISÃO, então o ser “prático” junto ao que está à mão deve ter como base uma transcendência da presença [Dasein]. STMSC: §69

c ) O problema temporal da transcendência do mundo A compreensão de uma totalidade conjuntural inserida na CIRCUNVISÃO das ocupações funda-se numa compreensão preliminar das remissões de ser-para, para quê, ser para isso, em virtude de. STMSC: §69

Sendo essencialmente decadente, a temporalidade perde-se na atualização, compreendendo-se não apenas numa CIRCUNVISÃO a partir do que está à mão nas ocupações, mas também retirando, daquilo que a atualização sempre encontra de vigente, a saber, as relações espaciais, os parâmetros para articular o que a compreensão compreende e pode interpretar. STMSC: §70

Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença [Dasein] se compreende a partir do que vem ao encontro no mundo circundante e daquilo de que se ocupa numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §75

A ocupação, comumente compreendida a partir de uma CIRCUNVISÃO, funda-se na temporalidade e no modo de uma atualização que aguarda e retém. STMSC: §79

Porque o dizer que interpreta alguma coisa pronuncia, conjuntamente, a si mesmo, isto é, pronuncia o ser junto ao que está à mão, que compreende numa CIRCUNVISÃO e que vem ao encontro na descoberta. STMSC: §79

O ser-no-mundo cotidiano da CIRCUNVISÃO precisa de possibilidade de visão, ou seja, de claridade para poder lidar, numa ocupação, com o que está à mão em meio ao que é simplesmente dado. STMSC: §80

Aguardando a possibilidade de visão dentro da CIRCUNVISÃO das ocupações, a presença [Dasein] compreende-se a partir de seus trabalhos diários, no “então, quando amanhecer” e, assim, ela dá a si mesma o seu tempo. STMSC: §80

E o faz a partir daquilo que, no horizonte do abandono ao mundo, vem ao encontro como uma conjuntura privilegiada para o poder-ser-no-mundo de uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §80

com a abertura de mundo, o tempo do mundo se torna público, de tal maneira que qualquer ser que se ocupa do tempo junto a entes intramundanos os compreende numa CIRCUNVISÃO como o que vem ao encontro “no tempo”. STMSC: §80

De que maneira o “tempo” se temporaliza numa primeira aproximação para a ocupação cotidiana, guiada por uma CIRCUNVISÃO? STMSC: §81

Como se define, portanto, o tempo revelado no uso do relógio próprio das ocupações, guiadas por uma CIRCUNVISÃO que toma tempo? STMSC: §81

Toda discussão seguinte a respeito do conceito de tempo atém-se fundamentalmente à definição aristotélica, ou seja, tematiza o tempo tal como ele se mostra na ocupação, guiada por uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §81