Romero: triagem

A triagem pode ser entendida como uma forma de administrar o medicamento. É a abordagem médica em resposta a furacões, tsunamis, terremotos, incêndios e, recentemente, por exemplo, em partes da África Ocidental onde a equipe médica trabalhou para conter a propagação do vírus mortal do Ebola. No entanto, tradicionalmente, existem duas maneiras de administrar, de fazer, triagem. Em Mountains Beyond Mountains: The Quest of Dr. Paul Farmer, A Man Who Would Cure the World, Tracy Kidder conta a verdadeira história de Paul Farmer e de Partners in Health, a prática médica de caridade que ele fundou. A discussão de Kidder sobre triagem revela duas situações nas quais a triagem é feita: na guerra e na paz.

O termo vem do francês trier do século XIV, “escolher ou destacar”, e foi usado pela primeira vez para descrever a classificação da lã de acordo com sua qualidade. No uso médico moderno, a triagem tem dois significados diferentes, quase o oposto. Nas situações em que médicos e enfermeiros e ferramentas são limitados, nos campos de batalha, por exemplo, é realizada triagem, atendendo primeiro aos feridos graves que têm maior chance de sobrevivência. O objetivo é salvar o maior número possível; os outros podem ter que morrer sem vigilância. No caso de tempo de paz, no entanto, em salas de emergência americanas bem equipadas e bem abastecidas, por exemplo, a triagem não deve implicar na retenção de cuidados de ninguém; é identificar os pacientes em maior perigo e dar prioridade a eles. Paul Farmer construiu sua vida em torno do segundo tipo de triagem.

A triagem exige mediação atenta e cuidadosa entre partes e todos. As partes são os recursos, as vítimas, os corpos, as almas, os medicamentos, enquanto o caminho para o todo é guiado por um objetivo ou princípio abrangente da prática. Além disso, para aprimorar essa distinção, podemos ver como esses dois tipos de triagem operam sob condições de escassez quando não há recursos suficientes para cuidar de todos. Por exemplo, em situações de guerra, o princípio norteador é a vitória no campo de batalha que requer o retorno ao campo de batalha dos feridos. Isso requer o tratamento daqueles que estão menos feridos primeiro e a rejeição ou sacrifício daqueles que estão gravemente feridos. Estes são destacados do resto, descartados e dispensados. Por outro lado, em situações de paz, o princípio orientador da triagem é salvar os que estão mais em perigo, e isso exige o tratamento dos mais gravemente feridos primeiro. Essa experiência de triagem parece exigir que o dador de medicamentos aja com grande vigilância e cuidado, porque qualquer ação ou curso de tratamento realizado nunca será suficiente por causa da limitação de recursos. Aqui, sob o cuidado vigilante do dador de medicamentos, os corpos vivos são inevitáveis e não podem ser discriminados do resto. Isso exige vigilância constante e cuidado atento.

Triage can be understood as a way of giving the pharmakon . It is the medical approach in responses to hurricanes, tsunamis, earthquakes, fires, and recently, for example, in parts of West Africa where medical personnel worked to stem the spread of the deadly Ebola virus. Yet, traditionally there have been two ways of administering, of giving, triage. In Mountains Beyond Mountains: The Quest of Dr. Paul Farmer, A Man Who Would Cure the World, Tracy Kidder tells the true story of Paul Farmer and of Partners in Health, the charitable medical practice that he founded. Kidder’s discussion of triage reveals two situations in which triage is given: in war and in peace.

The term comes from the fourteenth-century French trier , “to pick or cull,” and was first used to describe the sorting of wool according to its quality. In modern medical usage, triage has two different meanings, nearly opposite. In situations where doctors and nurses and tools are limited, on battlefields, for instance, one performs triage by attending first to the severely wounded that have the best chance of survival. The aim is to save as many as possible; the others may have to die unattended. In the peacetime case, however, in well-staffed and well-stocked American emergency rooms, for example, triage isn’t supposed to imply withholding care from anyone; rather, it’s identifying the patients in gravest danger and giving them priority. Farmer has constructed his life around the second kind of triage.

Triage calls for watchful and careful mediation between parts and wholes. The parts are the resources, the victims, the bodies, the souls, the drugs, whereas the path to the whole is guided by an overarching aim, or principle, of the practice. Moreover, to sharpen this distinction we may look at how these two kinds of triage operate under conditions of scarcity when there are not   enough resources to care for all. For example, in situations of war, the guiding principle is victory on the battlefield that requires the return to the battlefield of the injured. This necessitates the treatment of those who are least injured first and the culling or sacrificing of those who are most grievously injured. These are culled from the rest, discarded, and thrown away. On the other hand  , in situations of peace, the guiding principle of triage is to save those most in danger, and this calls for the treatment of the most seriously injured first. This experience of triage would seem to call for the giver of the pharmakon to act with great vigilance and care because any action or course of treatment undertaken will never be sufficient because of the limitation of resources. Here, under the watchful care of the giver of the pharmakon , the living bodies are unavoidable and cannot be culled from the rest. This calls for constant vigilance and watchful care.