Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Nietzsche (VP:§45): não fazer nada

sábado 27 de junho de 2020

Para a higiene dos “fracos”. — Tudo o que é feito na fraqueza malogra. Moral  : não fazer nada. Mas o pior é que justamente a força para tirar o fazer de seus gonzos [auszuhängen], a força de não reagir está extremamente doente sob influência da debilidade: o pior é que nunca se age mais rápida e cegamente do que quando absolutamente não se deveria reagir…

A força de uma natureza mostra-se no aguardar e adiar de uma reação: uma certa αδιαφσρία [1]] é-lhe tão própria como é própria à debilidade a não liberdade em relação ao movimento reativo, ao repentino, à inexorabilidade da “ação”… A vontade é fraca: e a receita para prevenir coisas tolas seria ter vontade forte e não fazer nada… Contradictio [2]]… Uma espécie de autodestruição, o instinto de conservação está comprometido… A debilidade prejudica a si mesma… esse é o tipo da décadence…

De fato, encontramos uma reflexão imensa sobre práticas para provocar a impassibilidade. O instinto está, nessa medida, na pista certa, quando nada fazer é mais proveitoso do que fazer algo…

Todas as práticas das ordens, dos filósofos solitários, dos faquires são inspiradas no critério correto de que uma certa espécie de homem tira o melhor proveito quando se impede, tanto quanto possível, de agir —

Meio de facilitação: a obediência absoluta, a atividade maquinal, a separação de homens e coisas que fomentem uma decisão imediata e um agir.

[Excerto de NIETZSCHE  , Friedrich. A Vontade de Poder. Tr. Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, §45]


Ver online : A VONTADE DE PODER


[1Em grego no original: “indiferença”. [N.T.

[2Em latim no original: “contradição”. [N.T.