Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Nietzsche (VP:§333): ética

sexta-feira 10 de julho de 2020

Ética: ou “filosofia da desejabilidade”. — “Deveria ser de outro modo”, “deve vir a ser de outro modo”: a insatisfação seria, portanto, o germe da ética.

Salvar-se seria, em primeiro lugar, possível quando se elege onde não se tem o sentimento; em segundo lugar, quando se compreende a arrogância e a tolice: pois exigir que algo seja diferente do que é significa exigir que tudo seja diferente, — isso contém uma crítica que condena o conjunto total. Mas o viver é, ele mesmo, uma tal exigência!

Averiguar o que é tal como é parece algo indizivelmente mais elevado e mais sério do que todo “deveria ser assim”, pois este último, como crítica humana e arrogância, apresenta-se, por princípio, condenado ao ridículo. Nisso manifesta-se uma necessidade que exige que o nosso bem-estar humano corresponda a uma disposição do mundo; também a vontade faz tanto quanto possível por essa gabarolice.

Por outro lado, esta reclamação de que “deveria ser assim” só provocou aquela outra exigência pelo que é: o saber disso que é já é uma consequência daquela pergunta: “Como? Isso é possível? Por que é justamente assim?” A admiração sobre a não correspondência entre o nosso desejo e a marcha do mundo levou até o ponto de travar conhecimento com a marcha do mundo. Talvez haja ainda outra coisa: talvez aquele “deveria ser assim” seja o nosso próprio desejo de subjugação do mundo — —

[Excerto de NIETZSCHE  , Friedrich. A Vontade de Poder. Tr. Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, p. 182-183]


Ver online : A VONTADE DE PODER [VP]