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Nietzsche (VP:§254): estimação moral
sexta-feira 19 de outubro de 2018
A questão da origem de nossas estimações e tábuas de valores [Gütertafeln] não coincide, de maneira alguma, com a sua crítica, como tão frequentemente se acreditou: se bem que o entendimento de uma pudenda origo [1] qualquer para o sentimento traz consigo uma depreciação da coisa assim surgida e contra ela prepara uma disposição e uma atitude críticas.
De que valem as nossas estimações e tábuas de valores elas mesmas? O que vem à luz em sua dominação? Para quem? Com referência a quê? — Resposta: para a vida. Mas o que é vida? Aqui, portanto, necessita-se de uma nova e mais determinada apreensão do conceito “vida”. Minha fórmula para isso soa da seguinte maneira: vida é vontade de poder.
O que significa o estimar ele mesmo? Remonta a um outro mundo, a um mundo metafísico, como ainda Kant acreditava (o qual antecede o grande movimento histórico), [2] ou o rejeita? Em suma: onde ele “nasceu”? Ou ele não “nasceu”? — Resposta: o estimar moralmente é uma interpretação [Auslegung ], uma maneira de interpretar [eine Art zu interpretieren]. A interpretação, ela mesma, é um sintoma de um determinado estado fisiológico, tanto quanto de um determinado nível espiritual de juízos dominantes: Quem interpreta? — Nossos afetos [Affekte].
[Excerto de NIETZSCHE , Friedrich. A Vontade de Poder. Tr. Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, p. 152]
Ver online : VONTADE DE PODER
[1] Em latim no original: “origem infame”, “origem vergonhosa”. [N.T.
[2] Referência ao movimento historicista alemão, que surgiu na esteira de Kant, com autores como Ranke e Droysen, entre outros. Nietzsche também pode estar se referindo a Hegel e ao próprio idealismo alemão. [N.T.