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Merleau-Ponty (1945/2006:463-467) – subjetividade

quinta-feira 21 de março de 2024, por Cardoso de Castro

Ribeiro de Moura

Essas fórmulas podem parecer enigmáticas: se a subjetividade última não se pensa logo que existe, como algum dia ela o faria? Como aquilo que não pensa poderia pôr-se a pensar, e a subjetividade não é reduzida à condição de uma coisa ou de uma força que produz seus efeitos no exterior sem ser capaz de sabê-lo? — Nós não queremos dizer que o Eu primordial se ignora. Se se ignorasse, com efeito ele seria uma coisa, e nada poderia fazer com que em seguida ele se tornasse consciência. Nós apenas lhe recusamos o pensamento objetivo, a consciência tética do mundo e de si mesmo. O que entendemos por isso? Ou essas palavras não querem dizer nada, ou elas querem dizer que nós nos proibimos de supor uma consciência explícita que duplique e subtenda o poder confuso da subjetividade originária sobre si mesma e sobre seu mundo. Minha visão, por exemplo, é “pensamento de ver”, se por isso se quer dizer que ela não é simplesmente uma função como a digestão ou a respiração, um feixe de processos recortados em um conjunto que acontece ter um sentido, mas que ela mesma é este conjunto e este sentido, essa anterioridade do futuro em relação ao presente, do todo em relação às partes. Só há visão pela antecipação e pela intenção, e, como nenhuma intenção poderia ser verdadeiramente intenção se o objeto para o qual ela se dirige lhe fosse dado inteiramente acabado e sem motivação, é verdade que toda visão em última instância supõe, no coração de subjetividade, um projeto total ou uma lógica do mundo que as percepções empíricas determinam e que elas não poderiam engendrar. Mas a visão não é pensamento de ver, se por isso se entende que [543] ela mesma faça a ligação de seu objeto, que ela se perceba em uma transparência absoluta e como a autora de sua própria presença no mundo visível. O ponto essencial é apreender bem o projeto do mundo que nós somos. O que dissemos acima sobre o mundo como inseparável das visões sobre o mundo deve nos auxiliar aqui a compreender a subjetividade como inerência ao mundo. Não existe hylè, nenhuma sensação sem comunicação com as outras sensações ou com as sensações dos outros, por essa razão mesma não existe morphè, nenhuma apreensão ou apercepção que esteja encarregada de dar um sentido a uma matéria insignificante e de assegurar a unidade a priori   de minha experiência e da experiência intersubjetiva. Meu amigo Paulo e eu estamos olhando uma paisagem. O que se passa exatamente? É preciso dizer que ambos temos sensações privadas, uma matéria de conhecimento para sempre incomunicável — que, no que concerne ao puro vivido, estamos encerrados em perspectivas distintas —, que para nós dois a paisagem não é idem numero e que se trata apenas de uma identidade específica? Ao considerar minha própria percepção, antes de qualquer reflexão objetivante, em nenhum momento tenho consciência de encontrar-me encerrado em minhas sensações. Meu amigo Paulo e eu apontamos com o dedo certos detalhes da paisagem, e o dedo de Paulo, que me aponta o campanário, não é um dedo-para-mim que eu penso como orientado em direção a um campanário-para-mim, ele é o dedo de Paulo, que me mostra ele mesmo o campanário que Paulo vê, assim como reciprocamente, fazendo um gesto em direção a tal ponto da paisagem que vejo, não me parece que desencadeio em Paulo, em virtude de uma harmonia preestabelecida, visões internas apenas análogas às minhas: ao contrário, parece-me que meus gestos invadem o mundo de Paulo e guiam seu olhar. Quando penso em Paulo, não penso em um fluxo de sensações privadas em relações mediatas com o meu através de signos interpostos, [544] mas em alguém que vive o mesmo mundo que eu, a mesma história que eu, e com quem eu me comunico através desse mundo e através dessa história. Diremos então que se trata ali de uma unidade ideal  , que meu mundo é o mesmo que o de Paulo como a equação de segundo grau da qual se fala em Tóquio é a mesma de que se fala em Paris, e que enfim a idealidade do mundo assegura seu valor intersubjetivo? Mas a unidade ideal também não nos satisfaz, pois ela existe igualmente entre o Hymette visto pelos gregos e o Hymette visto por mim. Ora, considerando esses declives arruivados, por mais que eu me diga que os Gregos os viram não chego a me convencer de que eles sejam os mesmos. Ao contrário, Paulo e eu vemos “juntos” a paisagem, estamos co-presentes a ela, ela é a mesma para nós dois, não apenas enquanto significação inteligível, mas como um certo acento do estilo mundial, e até em sua ecceidade. A unidade do mundo se degrada e se pulveriza com a distância temporal   e espacial que a unidade ideal atravessa (em princípio) sem nenhuma perda. É justamente porque a paisagem me toca e me afeta, porque ela me atinge em meu ser mais singular, porque ela é minha visão da paisagem, que tenho a própria paisagem e que a tenho como paisagem para Paulo tanto quanto para mim. A universalidade e o mundo se encontram no coração da individualidade e do sujeito. Nunca o compreendemos enquanto fizermos do mundo um objeto. Logo o compreendemos se o mundo é o campo de nossa experiência, e se nós somos apenas uma visão do mundo, pois agora a mais secreta vibração de nosso ser psicofísico já anuncia o mundo, a qualidade é o esboço de uma coisa, e a coisa é o esboço do mundo. Um mundo que nunca é, como o diz Malebranche, senão uma “obra inacabada”, ou que, segundo a expressão que Husserl   aplica ao corpo, não está “nunca completamente constituído”, não exige e até mesmo exclui um sujeito constituinte. A esse esboço de ser que transparece nas concordâncias [545] de minha experiência própria e intersubjetiva, e do qual eu presumo o acabamento possível através de horizontes indefinidos, exclusivamente pelo fato de que meus fenômenos se solidificam em uma coisa e de que eles observam em seu desenrolar um certo estilo constante — a essa unidade aberta do mundo deve corresponder uma unidade aberta e indefinida da subjetividade. Assim como a unidade do mundo, a unidade do Eu é antes invocada do que experimentada a cada vez que efetuo uma percepção, a cada vez que obtenho uma evidência, e o Eu universal é o fundo sobre o qual se destacam essas figuras brilhantes, é através de um pensamento presente que formo a unidade de meus pensamentos. Aquém de meus pensamentos particulares, o que resta para constituir o Cogito   tácito e o projeto original do mundo, e em última análise o que eu sou na medida em que posso entrever-me fora de qualquer ato particular? Eu sou um campo, sou uma experiência. Certo dia e de uma vez por todas algo começou que, mesmo durante o sono, não pode mais parar de ver ou de não ver, de sentir ou de não sentir, de sofrer ou de estar feliz, de pensar ou de descansar, em suma de se “explicar” com o mundo. Aconteceu não um novo lote de sensações ou de estados de consciência, nem mesmo uma nova mônada ou uma nova perspectiva, já que não estou fixado em nenhuma e já que posso mudar de ponto de vista, sujeito apenas a sempre ocupar um ponto de vista e a ocupar somente um a cada vez — digamos que aconteceu uma nova possibilidade de situações. O acontecimento de meu nascimento não passou, não caiu no nada à maneira de um acontecimento do mundo objetivo, ele envolvia um porvir, não como a causa determina seu efeito, mas como uma situação, uma vez armada, chega inevitavelmente a algum desenlace. Doravante havia um novo “ambiente”, o mundo recebia uma nova camada de significação. Na casa onde nasce uma criança, todos os objetos mudam de sentido, eles se põem a esperar dela um tratamento [546] ainda indeterminado, alguém diferente e alguém a mais está ali, uma nova história, breve ou longa, acaba de ser fundada, um novo registro está aberto. Minha primeira percepção, com os horizontes que a envolviam, é um acontecimento sempre presente, uma tradição inesquecível; mesmo enquanto sujeito pensante, ainda sou essa primeira percepção, sou a sequência da mesma vida que ela inaugurou. Em certo sentido, em uma vida não existem atos de consciência ou Erlebnisse distintos, assim como no mundo não existem coisas separadas. Assim como, nós o vimos, quando giro em torno de um objeto não obtenho dele uma série de visões perspectivas que em seguida eu coordenaria pela ideia de um único geometral, só há um pouco de “mover-se” na coisa que, por si, transpõe o tempo, da mesma maneira eu não sou uma série de atos psíquicos, nem tampouco um Eu central que os reúne em uma unidade sintética, mas uma única experiência inseparável de si mesma, uma única “coesão de vida”, uma única temporalidade que se explicita a partir de seu nascimento e o confirma em cada presente. É esse advento, ou ainda esse acontecimento transcendental   que o Cogito reencontra. A primeira verdade é “Eu penso”, mas sob a condição de que por isso se entenda “eu sou para mim” estando no mundo. Quando queremos ir mais longe na subjetividade, se colocamos em dúvida todas as coisas e em suspenso todas as nossas crenças, só conseguimos entrever o fundo inumano através do qual, segundo a expressão de Rimbaud, “nós não estamos no mundo”, como o horizonte de nossos envolvimentos particulares e como potência de algo em geral que é o fantasma do mundo. O interior e o exterior são inseparáveis. O mundo está inteiro dentro de mim e eu estou inteiro fora de mim. Quando percebo esta mesa, é preciso que a percepção da tampa não ignore a percepção dos pés, sem o que o objeto se desmembraria. Quando ouço uma melodia, é preciso que cada momento esteja ligado ao seguinte, sem o que não haveria melodia. [547] E todavia a mesa está ali com suas partes exteriores. A sucessão é essencial à melodia. O ato que reúne distancia e mantém à distância, eu só me toco me escapando. Em um pensamento célebre, Pascal   mostra que sob um certo ponto de vista eu compreendo o mundo e que sob um outro ponto de vista ele me compreende. Deve-se dizer que é sob o mesmo ponto de vista: eu compreendo o mundo porque para mim existe o próximo e o distante, primeiros planos e horizontes, e porque assim o mundo se expõe e adquire um sentido diante de mim, que dizer, finalmente porque eu estou situado nele e porque ele me compreende. Nós não dizemos que a noção do mundo é inseparável da noção do sujeito, que o sujeito se pensa inseparável da ideia do corpo e da ideia do mundo, pois, se só se tratasse de uma relação pensada, por isso mesmo ela deixaria subsistir a independência absoluta do sujeito enquanto pensador e o sujeito não estaria situado. Se o sujeito está em situação, se até mesmo ele não é senão uma possibilidade de situações, é porque ele só realiza sua ipseidade sendo efetivamente corpo e entrando, através desse corpo, no mundo. Se, refletindo na essência da subjetividade, eu a encontro ligada à essência do corpo e à essência do mundo, é porque minha existência como subjetividade é uma e a mesma que minha existência como corpo e com a existência do mundo, e porque finalmente o sujeito que sou, concretamente tomado, é inseparável deste corpo-aqui e deste mundo-aqui. O mundo e o corpo ontológicos que reconhecemos no coração do sujeito não são o mundo em ideia ou o corpo em ideia, são o próprio mundo contraído em uma apreensão global, são o próprio corpo como corpo-cognoscente.

original

Ces formules peuvent paraître énigmatiques : si la subjectivité dernière ne se pense pas aussitôt qu’elle est, comment le fera-t-elle jamais ? Comment ce qui ne pense pas pourrait-il se mettre à penser et la subjectivité n’est-elle pas ramenée à la condition d’une chose ou d’une force qui produit ses effets au dehors sans être capable de le savoir ? – Nous ne voulons pas dire que le Je primor-dial s’ignore. S’il s’ignorait, il serait en effet une chose, et rien ne pourrait faire qu’ensuite il devînt conscience. Nous lui avons seulement refusé la pensée objective, la conscience thétique du monde et de lui-même. Qu’entendons-nous par là ? Où ces mots ne veulent rien dire, ou ils veulent dire que nous nous interdisons de supposer une conscience explicite qui double et sous-tende la prise confuse de la subjectivité originaire sur elle-même et sur son monde. Ma vision par exemple est bien « pensée de voir », si l’on veut dire par là qu’elle n’est pas simplement une fonction comme la digestion ou la respiration, un faisceau de processus   découpés dans un en-semble qui se trouve avoir un sens, mais qu’elle est elle-même cet ensemble et ce sens, cette antériorité du futur à l’égard du présent, du tout à l’égard des parties. Il n’y a vision que par l’anticipation et l’intention  , et comme aucune intention ne pourrait vraiment être intention si l’objet vers lequel elle tend lui était donné tout fait et sans motivation, il est bien vrai que toute vision suppose en der-nier lieu, au cœur de la subjectivité, un projet total ou une logique du monde que les perceptions empiriques déterminent et qu’elles ne sauraient engendrer. Mais la vision n’est pas pensée de voir si l’on entend par là qu’elle fasse elle-même la liaison de son objet, qu’elle s’aperçoive dans une transparence absolue et comme l’auteur de sa propre présence dans le monde visible. Le point essentiel est de bien saisir [464] le projet du monde que nous sommes. Ce que nous avons dit plus haut du monde comme inséparable des vues sur le monde doit nous aider ici à comprendre la subjectivité comme inhérence au monde. Il n’y a pas de hylè, pas de sensation sans communication avec les autres sensations ou avec les sensations des autres, et pour cette raison même il n’y a pas de morphè, pas d’appréhension ou d’aperception qui soit chargée de donner un sens à une manière insignifiante et d’assurer l’unité a priori de mon expérience et de l’expérience intersubjective. Nous sommes, mon ami Paul et moi, en train de regarder un pay-sage. Que se passe-t-il au juste ? Faut-il dire que nous avons l’un et l’autre des sensations privées, une matière de connaissance à jamais incommunicable, — que, en ce qui concerne le pur vécu, nous sommes enfermés dans des perspectives distinctes, — que le paysage n’est pas pour nous deux idem numero et qu’il ne s’agit que d’une identité spécifique ? A considérer ma perception elle-même, avant toute réflexion objectivante, je n’ai à aucun moment conscience de me trouver enfermé dans mes sensations. Mon ami Paul et moi nous montrons du doigt certains détails du paysage, et le doigt de Paul, qui me montre le clocher, n’est pas un doigt-pour-moi que je pense comme orienté vers un clocher-pour-moi, c’est le doigt de Paul qui me montre lui-même le clocher que Paul voit, comme réciproquement, en faisant un geste vers tel point du pay-sage que je vois, il ne me semble pas que je déclenche chez Paul, en vertu d’une harmonie   préétablie, des visions internes seulement analogues aux miennes » il me semble au contraire que mes gestes envahissent le monde de Paul et guident son regard. Quand je pense à Paul, je ne pense pas à un flux de sensations privées en relations médiates avec le mien par des signes interposés, mais à quelqu’un qui vit le même monde que moi, la même histoire que moi, et avec qui je communique par ce monde et par cette histoire. Dirons-nous alors qu’il s’agit là d’une unité idéale, que mon monde est le même que celui de Paul comme l’équation du second degré dont on parle à Tokio est la même dont on parle à Paris, et qu’en-fin l’idéalité du monde en assure la valeur intersubjective ? Mais l’unité idéale ne nous satisfait pas davantage, car elle existe aussi bien entre l’Hymette vu par les Grecs et l’Hymette vu par moi. Or j’ai beau, en considérant ces pentes roussies, me dire que les Grecs les ont vues, je ne parviens pas à me convaincre que ce soient les mêmes. Au contraire Paul et moi nous voyons « ensemble » le paysage, nous lui sommes co-présents, [465] il est le même pour nous deux, non seulement comme signification intelligible, mais comme un certain accent du style mondial, et jusque dans son eccéité. L’unité du monde se dégrade et s’effrite avec la distance temporelle et spatiale que l’unité idéale traverse (en principe) sans au-cune déperdition. C’est justement parce que le paysage me touche et m’affecte, parce qu’il m’atteint dans mon être le plus singulier, parce qu’il est ma vue du paysage, que j’ai le paysage lui-même et que je l’ai comme paysage pour Paul aussi bien que pour moi. L’universalité et le monde se trouvent au cœur de l’individualité et du sujet. On ne le comprendra jamais tant qu’on fera du monde un objet. On le comprend aussitôt si le monde est le champ de notre expérience, et si nous ne sommes rien qu’une vue du monde, car alors la plus secrète vibration de notre être psychophysique an-nonce déjà le monde, la qualité est l’esquisse d’une chose et la chose l’esquisse du monde. Un monde qui n’est jamais, comme le dit Malebranche, qu’un « ouvrage inachevé », ou qui, selon le mot que Husserl applique au corps, n’est « jamais complètement constitué » n’exige pas et exclut même un sujet constituant. À cette ébauche d’être qui transparaît dans les concordances de mon expérience propre et intersubjective et dont je présume l’achèvement possible à travers des horizons indéfinis, du seul fait que mes phénomènes se solidifient en une chose et qu’ils observent dans leur déroulement un certain style constant, — à cette unité ouverte du monde doit correspondre une unité ouverte et indéfinie de la sub-jectivité. Comme celle du monde, l’unité du Je est invoquée plutôt qu’éprouvée chaque fois que j’effectue une perception, chaque fois que j’obtiens une évidence, et le Je universel est le fond sur lequel se détachent ces figures brillantes, c’est à travers une pensée pré-sente que je fais l’unité de mes pensées. En deçà de mes pensées particulières, que reste-t-il pour constituer le Cogito tacite et le projet originel du monde, et que suis-je en dernière analyse dans la mesure où je peux m’entrevoir hors de tout acte particulier ? Je sais un champ, je suis une expérience. Un jour et une fois pour toutes quelque chose a été mis en train qui, même pendant le som-meil, ne peut plus s’arrêter de voir ou de ne voir pas, de sentir, ou de ne sentir pas, de souffrir ou d’être heureux, de penser ou de se reposer, en un mot de s’ « expliquer » avec le monde. Il y a eu, non pas un nouveau lot de sensations ou d’états de conscience, non pas même une nouvelle monade ou une nouvelle perspective, puisque je ne suis fixé à aucune et que je peux changer de [466] point de vue, assujetti seulement à en occuper toujours un et à n’en occuper qu’un seul à la fois, — disons qu’il y a eu une nouvelle possibilité de situations. L’événement de ma naissance n’a pas passé, il n’est pas tombé au néant à la façon d’un événement du monde objectif, il engageait un avenir, non pas comme la cause détermine son effet, mais comme — une situation  , une fois nouée, aboutit inévitablement à quelque dénouement. Il y avait désormais un nouveau « milieu   », le monde recevait une nouvelle couche de signification. Dans la maison où un enfant naît, tous les objets changent de sens, ils se mettent à attendre de lui un traitement encore indéterminé, quel-qu’un d’autre et de plus est là, une nouvelle histoire, brève ou longue, vient d’être fondée, un nouveau registre est ouvert. Ma première perception, avec les horizons qui l’entouraient est un événement toujours présent, une tradition   inoubliable ; même comme sujet pensant, je suis encore cette première perception, la suite de la même vie qu’elle a inaugurée. En un sens, il n’y a pas plus d’actes de conscience ou d’Erlebnisse distincts dans une vie qu’il n’y a de choses séparées dans le monde. De même que, nous l’avons vu, quand je tourne autour d’un objet, je n’en obtiens pas une série de vues perspectives que je coordonnerais ensuite par l’idée d’un seul géométral, il n’y a qu’un peu de « bougé » dans la chose qui, de soi, franchit le temps, de même je ne suis pas une sé-rie d’actes psychiques, ni d’ailleurs un Je central qui les rassemble dans une unité synthétique, mais une seule expérience inséparable d’elle-même, une seule « cohésion de vie » , une seule temporali-té qui s’explicite à partir de sa naissance et la confirme dans chaque présent. C’est cet avènement ou encore cet événement transcendantal que le Cogito retrouve. La première vérité est bien « Je pense », mais à condition qu’on entende par là « je suis à moi » en étant au monde. Quand nous voulons aller plus loin dans la subjectivité, si nous mettons en doute toutes choses et en suspens toutes nos croyances, nous ne réussissons à entrevoir le fond inhumain par où, selon le mot de Rimbaud, « nous ne sommes pas au monde », que comme l’horizon   de nos engagements particuliers et comme puissance de quelque chose en général qui est le fantôme du monde. L’intérieur [467] et l’extérieur sont inséparables. Le monde est tout au dedans et je suis tout hors de moi. Quand je perçois cette table, il faut bien que la perception du plateau n’ignore pas celle des pieds, sans quoi l’objet se disloquerait. Quand j’entends une mélodie, il faut bien que chaque moment soit relié au suivant, sans quoi il n’y aurait pas de mélodie. Et cependant la table est là avec ses parties extérieures. La succession est essentielle à la mélodie. L’acte qui rassemble éloigne et tient à dis-tance, je ne me touche qu’en me fuyant. Dans une célèbre pensée, Pascal montre que sous un certain rapport je comprends le monde et que sous un autre rapport, il me comprend. Il faut dire que c’est sous le même rapport : je comprends le monde parce qu’il y a pour moi du proche et du lointain, des premiers plans et des horizons et qu’ainsi il fait tableau et prend un sens devant moi, c’est-à-dire en-fin parce que j’y suis situé et qu’il me comprend. Nous ne disons pas que la notion du monde est inséparable de celle du sujet, que le sujet se pense inséparable de l’idée du corps et de l’idée du monde, car s’il ne s’agissait que d’une relation pensée, de ce fait même elle laisserait subsister l’indépendance absolue du sujet comme penseur et le sujet ne serait pas situé. Si le sujet est en situation, si même il n’est rien d’autre qu’une possibilité de situations, c’est qu’il ne réa-lise son ipséité qu’en étant effectivement corps et en entrant par ce corps dans le monde. Si, réfléchissant sur l’essence de la subjectivi-té, je la trouve liée à celle du corps et à celle du monde, c’est que mon existence comme subjectivité ne fait qu’un avec mon existence comme corps et avec l’existence du monde et que finalement le su-jet que je suis, concrètement pris, est inséparable de ce corps-ci et de ce monde-ci. Le monde et le corps ontologiques que nous re-trouvons au cœur du sujet ne sont pas le monde en idée ou le corps en idée, c’est le monde lui-même contracté dans une prise globale, c’est le corps lui-même comme corps-connaissant.


Ver online : Maurice Merleau-Ponty


MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Tr. Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999/2006