McNeill (2006:23) – Mitsein / ser-com

No caso da terceira pergunta — Podemos nos transpor em outro ser humano? — a própria pergunta, indica Heidegger, não tem sentido. Não porque o ir-junto-com o outro ser humano seja impossível, mas porque nós, como seres humanos, já estamos transpostos para outros seres humanos no próprio modo de existir. Na medida em que o Ser dos seres humanos é o Dasein   (conforme analisado no tratado de Heidegger de 1927, Ser e Tempo  ), e o Dasein intrinsecamente implica Ser-com-outros, é fundamentalmente inquestionável para nós que podemos, por exemplo, "compartilhar uns com os outros" o mesmo comportamento em relação às mesmas coisas e, de fato, sem que esse comportamento seja fragmentado no processo. Como modo específico de Ser que nós mesmos somos em cada caso, o Dasein, como Heidegger explicou em Ser e Tempo, não é uma esfera isolada nem uma interioridade, mas é, como sua maneira de Ser, um sempre-já-ser/estar-em-o-mundo com outros seres de sua própria espécie (e na presença de outras entidades não semelhantes ao Dasein). É claro que essa possibilidade de comunidade, de Ser-com (Mitsein  ), não impede que tenhamos dificuldades fáticas de conviver com o outro ser humano. Não exclui a diferença, mas deve permitir precisamente a diferença dentro (e, de fato, como primeira habilitação) da comunidade. Ser/Estar com (outros), como diz Heidegger, "pertence à essência da existência humana, isto é, à existência de cada indivíduo único em cada caso" (301). Não existe indivíduo humano que nem sempre já teria sido exposto a estar em um mundo, a um Ser-no-mundo que também é um Ser com outros seres humanos. Heidegger não explicita isto aqui, mas a "inquestionabilidade" do compartilhamento (teilen) em questão se deve ao fato de que "nosso" mundo de Ser-com-um-outro é um mundo que é primeiro revelado no e através do discurso, que por si só permite a divulgação comunicativa aos outros, uma "comunicação" (Mitteilung: literalmente, um separar e com-partilhar) de nosso próprio Ser.

In the case of the third question — Can we transpose ourselves into another human being? — the very question, Heidegger indicates, is meaningless. Not   because a going-along-with the other human being is impossible, but because we as human beings are already transposed into other human beings in the very manner of our existing. Insofar as the Being of human beings is Dasein (as analysed in Heidegger’s 1927 treatise Being and Time), and Dasein intrinsically entails Being-with-others, it is fundamentally unquestionable for us that we can, for example, "share with one another" the same comportment toward the same things, and indeed do so without this comportment being fragmented in the process. As a specific way of Being that we ourselves in each case are, Dasein, as Heidegger explained in Being and Time, is neither an isolated sphere nor an interiority, but is, as its manner of Being, an always-already-being-in-the-world with other beings of its own kind (and in the presence of other non-Dasein-like entities). Of course, this possibility of community, of Being-with (Mitsein), does not preclude our having factical difficulties in going along with the other human being. It does not exclude difference, but must precisely allow for difference within (and indeed as first enabling) community. Being with (others), as Heidegger puts it, "belongs to the essence of human existence, that is, to the existence of every unique individual in each case" (301). There is no human individual who would not always already have been exposed to being in a world, to a Being-in-the-world that is also a Being with other human beings. Heidegger does not spell it out here, but the "unquestionability" of the sharing (teilen) at issue is due to the fact that "our" world of Being-with-one-another is a world that is first disclosed in and through discourse, which itself enables communicative disclosure to others, a "communicating" (Mitteilung: literally, a separating and sharing-with) of our own Being. (p. 23)