Razão e anti-razão em mosso tempo
Karl Jaspers
Trad. Álvaro Vieira Pinto
Conferências na Universidade de Heidelberg 1950
A EXIGÊNCIA DE CIENTIFICIDADE
Não temos hoje no filosofar nenhum terreno comum. Uma exceção é a filosofia tomista, para os seus crentes. Espiritualmente a grande distância desta, há as escolas e os movimentos literários, que se agrupam em redor de um mestre, entre eles os de maior êxito: o marxismo e a psicanálise.
No pouco tempo destas lições, não quero tratar de um problema. Isso seria pressupor aquele terreno comum. Desejaria referir-me ao que constitui o essencial e universal do filosofar, àquilo em que talvez encontremos de novo um terreno comum, a essa evidência que é a razão.
Refiro-me, com isso, à coisa mais antiga, pensada desde milênios, muitas vezes sepultada ou levianamente desprezada, que deve ser sempre de novo reconquistada, e que nunca está concluída. Desde quando um dia, em 1901, como estudante, entrei, com toda a veneração, na Universidade de Heidelberg, nestas mesmas salas, sempre considerei a razão como o autêntico filosofar. Depois de uma experiência de meio século no mundo e na Universidade, não cheguei finalmente a saber o que ela é.
Um elemento indispensável da razão é a ciência. Sobre esta vou falar hoje. Amanhã falarei da razão mesma; depois de amanhã, sobre a razão em luta.
Utilizarei hoje, como fios condutores, o marxismo e a psicanálise, a fim de, mediante a crítica destes fenômenos que vos são conhecidos, apontar a ciência como condição de toda verdadeira filosofia.