Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Henry (AD) – ato arque-fundador da ciência

segunda-feira 26 de junho de 2023

nossa tradução

[…] Galileu   realizou o que chamo enquanto fenomenólogo, o ato arque-fundador da ciência moderna e ao mesmo tempo o ato arque-fundador do mundo moderno. Este ato nasceu de uma decisão intelectual. Galileu estimou que é preciso conhecer o universo no qual vivemos, pois deste conhecimento procede a ética, nosso dever-ser e nosso dever-fazer. Mas este conhecimento do universo tem por condição essencial a rejeição de todas as outras formas de conhecimento, em particular aquelas originárias das qualidades sensíveis. Trata-se desde então de substituir o conhecimento sensível pelo conhecimento verdadeiro, a geometria, que é conhecimento das figuras dos corpos estendidos quer dizer situados no espaço. Fenomenologicamente estes dois conhecimentos apresentam, do ponto de vista de sua cientificidade e de sua racionalidade, uma oposição completa. O conhecimento sensível é variável de um indivíduo para outro de tal maneira que não pode engendrar a respeito da ciência senão proposições singulares, aleatórias, subjetivas e contingentes. O conhecimento geométrico suscita proposições racionais, verdadeiras. Assim a geometria é o modo exclusivo de conhecimento do universo material que se compõe de corpos estendidos.


Esta expressão matemática dos conhecimentos geométricos vai fundar a ciência moderna que jamais será nada além que a abordagem geométrico-matemática das partículas microfísicas. Todas as crises advirão doravante no interior deste horizonte imodificável. A própria crise da cultura, interpretada como uma crise do saber científico, se situa neste horizonte. Arrisco dizer que este horizonte do saber está circunscrito à abordagem físico-matemática da coisa material estendida no espaço — res extensa  .
Estamos em condições de levantar duas questões: o que é a ética e o que é o ser humano? Estas questões são fundamentais. Com efeito, se se concebe a vida como a vida dos indivíduos vivos, ou ao contrário se se considera a vida como um sistema inerte, as consequências não são evidentemente as mesmas de um ponto de vista ético. A maior parte dos pesquisadores que estudam as ciências da matéria e as ciências ditas humanas querem aplicar as metodologias, as normas e os pressupostos do saber galileano. Ora, considero que não existe possibilidade para um fundamento da ética neste campo do saber físico-matemático do universo material. O estudo deste campo é certo perfeitamente legítimo na medida que ela se limita a este campo, mas é fortemente provável que as partículas microfísicas ou as moléculas não são habitadas de nenhum desejo, de nenhuma vontade de carreira, de reconhecimento social, de sede de poder, etc. Galileu e Descartes   tinham razão de precisar que na matéria nada há que se assemelhe à sensibilidade.

Original

[…] Galilée accomplit ce que j’appelle en tant que phénoménologue l’acte archi-fondateur de la science moderne et, du même coup, l’acte archi-fondateur du monde moderne – ce monde auquel nous appartenons, auquel nous croyons naïvement, dont nous sommes tous les enfants, les habitants sans recul. Car l’esprit critique ne peut venir que d’une réflexion sur cet acte archi-fondateur qui a décidé de notre destin au début du XVIIe siècle.

Cet acte est né d’une décision intellectuelle. Galilée a estimé qu’il faut connaître l’univers dans lequel nous vivons, car de cette connaissance procède l’éthique, notre devoir-être et notre devoir-faire. Mais cette connaissance de l’univers a pour condition essentielle le rejet de toutes les autres formes de connaissances, en particulier celles issues des qualités sensibles. Il s’agit dès lors de remplacer la connaissance sensible par la connaissance vraie, la géométrie, qui est la connaissance des figures des corps étendus c’est-à-dire situés dans l’espace. Phénoménologiquement ces deux connaissances présentent, du point de vue de leur scientificité et de leur rationalité, une opposition complète. La connaissance sensible est variable d’un individu à l’autre de telle façon qu’elle ne peut engendrer au regard de la science que des propositions singulières, aléatoires, subjectives et contingentes. Si j’énonce la proposition « le ciel est bleu » il s’agit d’une proposition singulière, puisque demain il y aura des nuages, le ciel sera gris, ou d’une toute autre couleur pour un daltonien. L’humanité a pourtant fondé un savoir sur des propositions de ce genre. La connaissance géométrique suscite, elle, des propositions rationnelles, vraies, du type « dans un cercle tous les rayons sont égaux ». Les rayons sont égaux aujourd’hui, ils le seront demain et à tout jamais. La géométrie est ainsi le mode exclusif de connaissance de l’univers matériel qui se compose de corps étendus dans l’espace.


Cette expression mathématique des connaissances géométriques va fonder la science moderne qui ne sera jamais rien d’autre que l’approche géométrico-mathématique des particules microphysiques. Toutes les crises adviendront désormais à l’intérieur de cet horizon   immodifiable.

La crise de la culture, interprétée comme une crise du savoir scientifique, se situe dans cet horizon-là. Je prends le risque de dire que cet horizon du savoir est circonscrit à l’approche physico-mathématique de la chose matérielle étendue — res extensa, dit Descartes.


Nous sommes donc en droit de soulever deux questions : qu’est-ce que l’éthique et qu’est-ce que l’être humain ? Ces questions sont fondamentales. Si l’on conçoit en effet la vie comme la vie des individus vivants, ou au contraire si on la considère comme un système inerte, les conséquences ne sont évidemment pas les mêmes d’un point de vue éthique. La plupart des chercheurs qui étudient les sciences de la matière et les sciences dites humaines veulent appliquer les méthodologies, les normes et les présupposés du savoir galiléen. Or, je considère qu’il n’existe pas de possibilité pour un fondement de l’éthique dans ce champ du savoir physico-mathématique de l’univers matériel. L’étude de ce champ est certes parfaitement légitime pour autant qu’elle se limite à ce champ, mais il est fort probable que les particules microphysiques ou les molécules ne sont habitées d’aucun désir, d’aucune volonté de carrière, de reconnaissance sociale, de soif de pouvoir, etc. Galilée et Descartes avaient donc raison de préciser que dans la matière il n’y a rien qui ressemble à de la sensibilité.


Ver online : Michel Henry