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Caminhos de Floresta

GA5:102-106 - homem, medida de todas as coisas

O tempo da imagem do mundo (notas)

sábado 27 de fevereiro de 2021, por Cardoso de Castro

HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Coordenação Científica da Edição e Tradução Irene Borges-Duarte  . Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014, p. 127-131

Borges-Duarte

(8) Mas não ousou um sofista dizer, no tempo de Sócrates  , que o homem é a medida de todas as coisas, tanto do ser das que são, como também do não-ser das que não [95] são? Não soa esta frase de Protágoras   como se falasse Descartes  ? E, como se isso não bastasse, não é concebido por Platão   o ser do ente como o que é contemplado, como a ἰδέα  ? A referência ao ente enquanto tal não é para Aristóteles   a θεωρία  , o puro olhar? Só que aquela frase sofistica de Protágoras não significa subjectivismo nenhum, porquanto só Descartes pode efectuar a inversão do pensar grego. Certamente que se cumpre, através do pensar de Platão e através do perguntar de Aristóteles, uma viragem decisiva da interpretação do ente e do homem, mas que permanece sempre ainda dentro da experiência fundamental grega do ente. Esta interpretação, precisamente enquanto combate contra a sofistica e, por isso, na dependência dela, é tão decisiva que se converte no fim do mundo grego, fim esse que ajuda a preparar, de um modo mediato, a possibilidade da modernidade. Daí que o pensar platônico e aristotélico, mais tarde, não apenas na Idade Média, mas através do que foi a modernidade até agora, tenha podido valer como o pensar grego por excelência, e todo o pensar pré-platónico como apenas uma preparação para Platão. E porque se está de há muito habituado a ver o mundo grego através de uma interpretação humanista moderna que continua a estar-nos vedado reflectir sobre o ser que se abriu à antiguidade grega, deixando-lhe o que tem de próprio e de estranho. A frase de Protágoras diz: πάντων χρημάτων μέτρον ἐστίν ἄνθρωπος  , των μεν όντων ώς ἐστι, των δε μὴ δντων ώς οὐκ ἐστιν (cf. Platão. Teeteto, 152 a).

“De todas as coisas (nomeadamente, das que o homem usa, daquelas de que precisa e, assim, das que tem constantemente em torno a si, χρήματα χρήσθαι), ο (respectivo) homem é a medida, das coisas presentes, a [127] medida de estarem presentes como estão presentes, mas daquelas às quais permanece vedado estarem presentes, de não estarem presentes”. O ente cujo ser está para decisão é aqui compreendido como o que, neste âmbito, está presente a partir de si no círculo do homem. Mas quem é o homem? Platão, na mesma passagem, dá uma informação sobre isso, na medida em que faz dizer a Sócrates: Ούκοὔν ο6το πως λέγει, ώς οία μεν ίκαστα ἐμοι φαίνεται τοιαὔτα μεν £στιν ἐμοί, οία δε σοί, τοιαὕτα δε αὔ σοί. ἄνθρωπος δε σύ τε και ἐγώ  ; “(Protágoras) não [96] compreende isso, de algum modo, assim? Será que o que se me mostra, em cada caso, terá (também) um certo aspecto para mim, enquanto para ti, por sua vez, terá aquele com que a ti se te mostra? Mas tu és homem, tal como eu”.

O homem é aqui, deste modo, quem é em cada caso (eu e tu e ele e ela). Não se identificará este ἐγώ com o ego cogito   de Descartes? Nunca; pois é diferente tudo o que de essencial determina, com igual necessidade, ambas as posições fundamentais metafísicas em Protágoras e Descartes. O essencial de uma posição metafísica fundamental abrange:

1. O modo como o homem é homem, isto é, como é ele mesmo; o modo essencial da mesmidade, a qual de modo nenhum se identifica com a egoi-dade, mas se determina a partir da referência ao ser enquanto tal;

2. A interpretação da essência do ser do ente;

3. O projecto da essência da verdade;

4. O sentido de acordo com o qual o homem é, aqui e ali, medida.

Nenhum dos mencionados momentos da essência da posição metafísica fundamental se deixa conceber isolado dos outros. Cada um caracteriza sempre já a totalidade de uma posição metafísica fundamental. Porquê e em que medida precisamente estes quatro momentos, à partida, suportam e articulam uma posição metafísica fundamental [128] enquanto tal, isso já não se pode perguntar nem responder a partir da metafísica e através desta. Isso é já dito a partir da ultrapassagem da metafísica.

Para Protágoras, o ente permanece referido ao homem enquanto ἐγώ. Porém, de que tipo é esta referência ao eu? Ο ἐγώ demora-se no círculo do não-encoberto, enquanto algo que lhe está atribuído. Desta forma, ele percepciona tudo o que neste círculo está presente como sendo. O percepcionar do que está presente funda-se no demorar-se dentro do círculo do não-estar-encoberto. Através do demorar-se no que está presente, a pertença do eu ao que-está-presente é. Este pertencer ao que está presente e aberto delimita este contra o ausente. A partir deste limite, o homem recebe e guarda a medida para aquilo [GA5  :97] que-está-presente e ausente. Confinando-se ao que está, em cada caso, não-encoberto, dá-se ao homem a medida que limita o si mesmo respectivamente a isto ou àquilo. O homem não coloca a medida, à qual todo o ente, no seu ser, se tem de conformar, a partir de uma egoidade isolada. O homem da relação grega fundamental ao ente e ao seu não-estar-encoberto é μέτρον (medida), na medida em que assume o comedimento ao círculo do não-estar-encoberto, delimitado pela egoidade, e assim reconhece o estar-encoberto do ente e a impossibilidade de decidir sobre o seu vir-à-presença ou ausência, do mesmo modo que sobre o aspecto daquilo que se essencia [1]. Daí que Protágoras diga (Diels. Fragmente der Vorsokratiker  , Protágoras B, 4): περι μεν θεών οὐκ ἐ’χω εἰδέναι, οί)θ’ώς είσίν, οβθ’ ώς οὐκ είσίν, οόθ’όποῖοί τινες ἰδέαν. “Não estou em [129] condições de saber algo (isto é, de modo grego: de receber algo “visualmente”) sobre os deuses, nem que são, nem que não são, nem como são no seu aspecto (ἰδέα)”.

πολλά   γάρ τὰ κωλύοντα εἰδέναι, ἡ τ’ ἀδηλότης καί βραχύς ών ὁ βίος τοὕ ἀνθρώπου. “Muito é aquilo que impede percepcionar o ente como tal: tanto o não-estar-manifesto (o estar-encoberto) do ente como também a brevidade do curso da história do homem”.

Não é de admirar de que Sócrates, em vista desta prudência [2] de Protágoras, diga dele (Platão. Teeteto, 152 b): είκός μέντοι σοφόν   âvôpa μὴ ληρεῖν. “Ε de presumir que ele (Protágoras), enquanto homem prudente, não fale à toa (na sua frase sobre o homem como μέτρον)”.

A posição metafísica fundamental de Protágoras é apenas uma delimitação, isto é, ainda uma conservação da posição fundamental de Heráclito   e Parmênides  . A sofistica só é possível sobre o fundamento da σοφία, isto é, da interpretação grega do ser como vir-à-presença e da verdade como não-estar-encoberto, não-estar-encoberto esse que permanece ele mesmo uma determinação essencial do ser, pelo que o que-está-presente se determina a partir do não-estar-encoberto e o vir-à-presença a partir do que-não-está-encoberto como tal. Mas qual a distância que separa PB] Descartes do início do pensar grego, quão diferente é a interpretação do homem que o representa como sujeito? E precisamente porque no conceito do subjectum ainda ressoa a essência grega do ser, ο ὑποκεῖσθαι do ὑποκείμενον   na forma do vir-à-presença (ou seja, do constantemente subjacente), tornado desconhecido e inquestionado, que se pode ver a partir dele a essência da mutação da posição metafísica fundamental. [130]

Uma coisa é a conservação do círculo em cada caso delimitado do não-estar-encoberto através do percepcionar do que-está-presente (o homem enquanto μέτρον). Outra coisa é o avançar para a área desobstruída da objec-tivação possível, através do calcular do representável, que é acessível a qualquer um e vinculativo para todos.

Qualquer subjectivismo é impossível na sofistica grega porque aqui o homem nunca pode ser subjectum; não pode sê-lo porque o ser é aqui vir-à-presença, e a verdade é não-estar-encoberto.

No não-estar-encoberto, acontece apropriando-se a φαντασία  , isto é, o vir a aparecer do que-está-presente enquanto tal para o homem, homem que está presente face àquilo que se manifesta. O homem, enquanto sujeito que representa, fantasia, isto é, movimenta-se na imaginatio, na medida em que o seu representar insere imageticamente o ente, enquanto objectivo, no mundo como imagem.

Brokmeier

(8) Mais un sophiste n’osait-il pas dire, au temps de Socrate : « De toutes choses, l’homme est la mesure, de celles qui sont, qu’elles sont, de celles qui ne sont pas, qu’elles ne sont pas » ? Cette phrase de Protagoras n’a-t-elle pas une résonance cartésienne ? L’être de l’étant n’est-il pas, de plus, compris par Platon comme le visé de la vision, l’ἰδέα ? Le rapport à l’étant comme tel n’est-il pas pour Aristote la θεωρία, la vision pure ? Mais la phrase sophistique de Protagoras n’est aucunement l’expression d’un subjectivisme ; seul Descartes était à même de mener à bien l’inversion de la pensée grecque. Sans doute y a-t-il eu, dans la pensée de Platon et le questionnement d’Aristote, un changement décisif quant à l’interprétation de l’étant et de l’homme ; mais ce changement continue de se manifester à l’intérieur de l’appréhension fondamentalement grecque de l’étant. Or, cette interprétation, en tant que lutte contre la sophistique, et par là dans la dépendance de celle-ci, est précisément si décisive qu’elle marque la fin du monde grec, laquelle fin aide à préparer médiatement la possibilité des Temps Modernes. Voilà pourquoi la pensée platonicienne et aristotélicienne a pu plus tard, non seulement au Moyen Age, mais encore à travers tous les Temps Modernes, passer pour la pensée grecque par excellence, et toute pensée pré-platonicienne pour rien de plus qu’une préparation à Platon. Parce qu’on voit, sous l’effet d’une longue habitude, le monde grec à travers une interprétation humaniste et moderne, il nous reste refusé de recueillir et de penser l’être qui s’ouvrit a l’antiquité grecque de telle sorte que nous arrivions à lui laisser vraiment le propre et le déconcertant de sa présence. La phrase de Protagoras est ainsi conçue : Πάντων χρημάτων μέτρον ἐστὶν ἄνθρωπος, τῶν μὲν ὄν  των ὡς ἔστιν, τῶν δὲ μὴ ὄντων ὡς οὐκ ἔστιν (cf. Platon, Théétète, 152 a).

« De toutes choses (à savoir celles que l’homme a en usage et qu’il a, les utilisant, constamment autour de lui, χρήματα χρῆσθαι) l’homme (chaque fois) est la mesure, de celles qui sont présentes, qu’elles soient présentes telles qu’elles le sont, de celles auxquelles il n’est pas accordé d’être présentes, de ne pas l’être. » L’étant sur l’être duquel il y a à décider est compris ici comme ce qui, dans la sphère de l’homme, est présent à partir de lui-même dans cette région. Or, qui est l’homme ? Platon nous renseigne sur ce point dans le même passage, en faisant dire à Socrate : Οὐκοῦν οὕτως πως λέγει, ὡς οἷα μὲν ἕκαστα ἐμοὶ φαίνεται, τοιαῦτα μὲν ἔστιν ἐμοί, οἷα δὲ σοί τοιαῦτα δὲ αὖ σοί· ἄνθρωπος δὲ σύ τε καὶ ἐγώ ;

« Ne l’entend-il (Protagoras) pas en quelque sorte ainsi ? Ce comme quoi toute chose se montre chaque fois à moi, de tel aspect est-elle pour moi ; ce comme quoi à toi, telle est-elle d’autre part pour toi ? Or, homme, tu l’es aussi bien que moi. »

L’homme est donc ici celui qui est à chaque fois présent (moi et toi, lui et eux). Mais cet ἐγώ ne coïnciderait-il pas avec l’ego cogito de Descartes ? Absolument pas. Car tout ce qui, chez Protagoras comme chez Descartes, détermine, avec une égale nécessité, les deux positions métaphysiques fondamentales, diffère essentiellement. L’essentiel d’une position métaphysique fondamentale comprend :

1o le mode sur lequel l’homme est homme, c’est-à-dire est lui-même ; le mode d’advenance de son ipséité, laquelle ne fait nullement un avec l’égoïté, mais se détermine à partir du rapport à l’être en tant que tel ;

2o l’interprétation de l’essence de l’être de l’étant ;

3o la projection de la vérité en son essence ;

4o le sens d’après lequel l’homme est – ici et là – mesure.

Aucun de ces moments essentiels d’une position métaphysique fondamentale ne peut se comprendre séparément des autres. Chacun caractérise déjà par lui-même l’ensemble d’une position métaphysique fondamentale. Pourquoi et dans quelle mesure ce sont précisément ces quatre moments qui supportent et disposent d’avance une position métaphysique fondamentale comme telle, voilà une question qui ne se pose plus et à laquelle il n’y a plus de réponse à partir de la Métaphysique et par elle : l’énoncé même de ces moments est déjà un effet du dépassement de la Métaphysique.

Or, chez Protagoras, l’étant est référé à l’homme en tant qu’ἐγώ. De quel genre est cette référence au Je ? Chaque ἐγώ séjourne dans l’orbe du dévoilé qui lui est dévolu, à lui comme étant celui-ci. Ainsi, il entend et comprend comme étant tout ce qui est présent dans cette orbe. L’entente du présent a son fondement dans le séjour à l’intérieur de l’orbe du dévoilé. Par le séjour auprès du présent, l’appartenance du moi à ce qui est présent est. Cette appartenance au présent ouvert délimite celui-ci par rapport à ce qui est absent. C’est à partir de cette limite que l’homme reçoit et garde la mesure, tant pour ce qui se présente que pour ce qui s’absente. Dans la restriction de ce qui est chaque fois dévoilé se donne à l’homme la mesure qui limite chaque fois un « soi » par rapport à « ceci » et « cela ». L’homme ne pose pas d’abord à partir d’une égoïté isolée la mesure à laquelle tout étant en son être aurait à se conformer. L’homme de la relation fondamentalement grecque à l’étant et à son ouverture (Unverborgenheit  ) est μέτρον (mesure), pour autant qu’il prend sur soi de ne pas outrepasser la sphère de dévoilement limitée au rayon de presence d’un je, reconnaissant ainsi le retrait de l’étant avec son indécidabilité quant à la présence ou à l’absence de celui-ci, quant au visage, tout aussi bien, de l’ainsi présent-absent. C’est pourquoi Protagoras peut dire (Diels, Fragmente der Vorsokratiker ; Protagoras, B, 4) : περὶ μὲν θεῶν οὐκ ἔχω   εἰδέναι, οὔθ’ ὡς εἰσίν, οὔθ’ ὡς οὐκ εἰσίν, οὔθ’ ὁποῖοί τινες ἰδέαν· « Quant à envisager quelque chose au sujet des dieux, j’en suis hors d’état, ni qu’ils soient, ni qu’ils ne soient pas, ni comment ils seraient en leur aspect (ἰδέα). »

Πολλὰ γἀρ τὰ κωλύοντα εἰδέναι, ἥ τ’ ἀδηλότης καὶ βραχὺς ὢν ὁ βίος τοῦ ἀνθρώπου.

« Car multiples sont les choses qui empêchent d’entendre l’étant comme un tel : aussi bien la non-manifestation (retrait) de l’étant que la brièveté de la carrière humaine. »

Nous étonnerons-nous donc que Socrate, en face d’une telle circonspection de la part de Protagoras, dise de celui-ci (Platon, Théétète, 152 b) : εἰκὸς μέντοι σοφόν ἄνδρα μὴ ληρεῖν. « Il faut croire qu’il (Protagoras) ne tient pas, étant homme sensé, des discours en l’air (dans sa phrase sur l’homme comme μέτρον). »

La position métaphysique fondamentale de Protagoras n’est qu’une restriction, et cela veut tout de même dire une conservation de la position fondamentale d’Héraclite et de Parménide. La Sophistique n’est possible que sur le fond de la σοφία, c’est-à-dire de l’acception grecque de l’être comme présence et de la vérité comme ouvert sans retrait (Unverborgenheit), lequel reste à son tour une détermination essentielle de l’être ; c’est d’ailleurs la raison pour laquelle le présent se détermine à partir de l’ouvert sans retrait, et la présence à partir du sans retrait comme tel. Combien Descartes est-il éloigné de l’origine de la pensée grecque, combien différente est l’interprétation de l’homme qui le représente comme sujet ? C’est précisément parce que dans la notion de subjectum résonne encore quelque chose de l’advenance grecque de l’être, de l’ὑποκεῖσθαι, de l’ὐποκείμενον, mais sous la forme d’une présence devenue méconnaissable et tombée hors de question (c’est-à-dire sous la forme de la sous-jacence constante de ce qui se trouve là-devant), qu’à partir de ladite notion, l’essence propre de la mutation de la position métaphysique fondamentale devient visible.

Sauvegarder l’orbe de l’ouvert sans retrait à chaque fois délimitée par l’entente du présent (l’homme comme μέτρον) est une chose. Une autre est la pénétration investigatrice du rayon affranchi de limites de l’objectivation possible, pénétration s’effectuant par la calculation du représentable accessible à tout le monde et normatif pour tous.

Toute espèce de subjectivisme est impossible dans la Sophistique grecque, parce que l’homme n’y peut jamais être sujet ; et il ne saurait le devenir, parce que l’être est ici présence, et la vérité ouvert sans retrait.

Dans l’ouvert sans retrait advient à soi la φαντασία, c’est-à-dire le venir au paraître (zum Erscheinen  -Kommen  ) du présent comme tel pour l’homme qui est, de son côté, présent pour ce qui apparaît. L’homme comme sujet représentant, par contre, se livre à des fantaisies, c’est-à-dire se meut dans l’imagination dans la mesure où sa représentation imagine (einbildet) l’étant comme l’objectif dans le monde conçu comme image. [HEIDEGGER, Martin. Chemins qui ne mènent nulle part. Tr. Wolfgang Brokmeier. Paris: Gallimard, 1962.]

Original

(8) Aber wagte nicht   um die Zeit   des Sokrates ein Sophist zu sagen  : Aller Dinge Maß ist der Mensch  , der seienden  , daß   sie 95 sind, der nichtseienden, daß sie nicht sind? Klingt dieser Satz   des Protagoras nicht, als spräche Descartes? Wird vollends nicht durch Platon das Sein   des Seienden als das Angeschaute, die ἰδέα begriffen? Ist nicht für Aristoteles der Bezug   zum [103] Seienden als solchem die θεωρία, das reine Schauen? Allein, jener sophistische Satz des Protagoras ist sowenig Subjektivismus, wie Descartes nur die Umkehrung des griechischen Denkens ausführen konnte. Gewiß vollzieht sich durch das Denken   Platons und durch das Fragen   des Aristoteles ein entscheidender, aber immer noch innerhalb   der griechischen Grunderfahrung des Seienden verbleibender Wandel der Auslegung   des Seienden und des Menschen. Diese ist gerade als Kampf   gegen die Sophistik und damit, in der Abhängigkeit von ihr so entscheidend  , daß sie zum Ende   des Griechentums wird, welches Ende mittelbar die Möglichkeit   der Neuzeit   mitvorbereitet. Darum hat das platonische und aristotelische Denken später, nicht nur im Mittelalter, sondern durch die bisherige Neuzeit hindurch, als das griechische Denken schlechthin gelten   können und alles vorplatonische Denken nur als eine Vorbereitung zu Platon.

Weil man aus langer Gewöhnung   das Griechentum durch eine neuzeitliche humanistische Auslegung hindurch sieht, deshalb bleibt es uns versagt, dem Sein, das sich dem griechischen Altertum öffnete, so nachzudenken, daß wir ihm das Eigene und Befremdliche   lassen  . Der Satz des Protagoras läutet: πάντων χρημάτων μέτρον ἐστιν ἄνθρωπος, των μέν δντων ως εστι, των δὲ μὴ δντων ως οὔκ ἐστίν (vgl. Platon, Theätet 152a).

»Aller Dinge (die nämlich der Mensch im Gebrauch   und Brauch und somit ständig um sich hat, χρήματα χρήσθαι) ist der (jeweilige) Mensch das Maß, der anwesenden, daß sie so an-wesen  , wie sie anwesen, derjenigen aber, denen versagt bleibt, anzuwesen, daß sie nicht anwesen.« Das Seiende, dessen Sein zur Entscheidung steht, ist hier verstanden als das im Umkreis   des Menschen von sich her in diesem Bereich Anwesende. Wer   aber ist der Mensch? Platon gibt darüber an derselben Stelle   die Auskunft, indem er den Sokrates sagen läßt: Οὔκοὔν οὔτω πως λέγει, ως οια μέν εκαστα ἐμοι φαίνεται τοιαὔτα μέν ἐστίν ἐμοί, οῖα δὲ σοί, τοιαὔτα δὲ αὔ σοί · ἄνθρωπος δὲ συ τε και ἐγώ; »Versteht 96 er (Protagoras) dies nicht irgendwie so? Als was jeweilig ein Jegliches mir sich zeigt, solchen Aussehens ist es (auch) für [104] mich, als was aber dir, solches ist es wiederum für dich? Mensch aber bist du sowohl wie ich  

Der Mensch ist hier demnach der jeweilige (ich und du und er und sie). Und dieses ἐγώ soll sich mit dem ego cogito des Descartes nicht decken? Niemals; denn alles Wesentliche, was die beiden metaphysischen Grundstellungen bei   Protagoras und Descartes gleichnotwendig bestimmt, ist verschieden. Das Wesentliche einer metaphysischen Grundstellung umfaßt:

1. die Art und Weise  , wie der Mensch Mensch und d. h. er selbst   ist; die Wesensart der Selbstheit, die mit der Ichheit keineswegs zusammenfällt, sondern sich aus dem Bezug zum Sein als solchem bestimmt;

2. die Wesensauslegung des Seins des Seienden; δ. den Wesensentwurf der Wahrheit  ;

4. den Sinn  , demgemäß der Mensch hier und dort Maß ist.

Keines der genannten Wesensmomente der metaphysischen Grundstellung läßt sich abgesondert von den anderen   begreifen  . Jedes kennzeichnet je schon das Ganze   einer metaphysischen Grundstellung. Weshalb und inwiefern gerade diese vier Momente zum voraus eine metaphysische Grundstellung als solche tragen und fügen, das läßt sich aus der Metaphysik   und durch diese nicht mehr fragen und beantworten. Es ist schon aus der Überwindung   der Metaphysik gesprochen.

Für Protagoras bleibt zwar das Seiende auf   den Menschen als ἐγώ bezogen. Welcher Art ist dieser Bezug auf das Ich? Das ἐγώ verweilt im Umkreis des ihm als je diesem zugeteilten Unverborgenen. Dergestalt vernimmt es alles in diesem Umkreis Anwesende als seiend. Das Vernehmen   des Anwesenden gründet im Verweilen   innerhalb des Umkreises der Unverborgenheit. Durch das Verweilen beim Anwesenden ist die Zugehörigkeit des Ich in das Anwesende. Dies Zugehören   zum offenen Anwesenden grenzt dieses gegen das Abwesende ab. Aus dieser Grenze   empfängt und wahrt der Mensch das Maß für 97 das, was an- und abwest. In einer Beschränkung auf das jeweilig Unverborgene gibt sich dem Menschen das Maß, das [105] ein Selbst je zu diesem und jenem begrenzt. Der Mensch setzt nicht von einer abgesonderten Ichheit her das Mali, dem sich alles Seiende in seinem Sein zu   fügen hat. Der Mensch des griechischen Grundverhältnisses zum Seienden und seiner Unverborgenheit ist μέτροv (Maß), insofern er die Mäßigung auf den ichhaft beschränkten Umkreis der Unverborgenheit übernimmt und somit die Verborgenheit von Seiendem und die Unentscheidbarkeit über dessen Anwesen oder Abwesen, insgleichen über das Aussehen   des Wesenden anerkennt. Daher sagt Protagoras (Diels, Fragmente der Vorsokratiker; Protagoras B, 4): περί μέν θεών οὐκ εχω είδέναι, οὔθ* ώς εϊσίν, οὔθ’ ώς οὐκ εϊσίν, οὔθ* οποίοι τινες Ιδέαν* »Über die Götter   freilich etwas zu wissen   (d. h. griechisch: etwas zu »Gesicht« zu bekommen) bin ich nicht imstande, weder daß sie sind, noch daß sie nicht sind, noch wie sie sind in ihrem Aussehen (ἰδέα).«

πολλά γάρ τὰ κωλύοντα είδέναι, η τ* ἀδηλότης καί βραχύς ών δ βίος τού ἀνθρώπου. »Vielerlei nämlich ist, was daran hindert, das Seiende als ein solches zu vernehmen: sowohl die Nichtoffenbarkeit (Verborgenheit) des Seienden als auch die Kürze des Geschichtsganges des Menschen.«

Dürfen wir uns wundem, daß Sokrates angesichts dieser Besonnenheit des Protagoras von ihm sagt (Platon, Theätet 152 b): είκός μέντοι σοφόν ανδρα μὴ ληρειν. »Zu vermuten ist, daß er (Protagoras) als ein besinnlicher Mann   (bei seinem Satz über den Menschen als μέτρον) nicht einfach daherschwatzt.«

Die metaphysische Grundstellung des Protagoras ist nur eine Einschränkung und d. h. doch Bewahrung der Grundstellung des Heraklit und Parmenides. Die Sophistik ist nur möglich auf dem Grunde der σοφία, d. h. der griechischen Auslegung des Seins als Anwesen und der Wahrheit als Unverborgenheit, welche Unverborgenheit selbst eine Wesensbestimmung   des Seins bleibt, weshalb sich das Anwesende aus der Unverborgenheit und das Anwesen aus dem Unverborgenen als einem solchen bestimmt. Wie weit aber ist Descartes vom Anfang   des griechischen Denkens entfernt, wie anders ist die 98 [106] Auslegung des Menschen, die ihn als das Subjekt   vorstellt? Gerade weil im Begriff des Subjectum noch das griechische Wesen des Seins, ὔποκεῖσθαι des ὑποκείμενον, in der Form des unkenntlich und fraglos gewordenen Anwesens (nämlich des ständig Vorliegenden) nachklingt, ist aus ihm das Wesen der Wandlung der metaphysischen Grundstellung zu ersehen.

Eines ist die Bewahrung des jeweilig beschränkten Umkreises der Unverborgenbeit durch das Vernehmen des Anwesenden (der Mensch als μέτρον). Ein Anderes ist das Vorgehen in den entschränkten Bezirk der möglichen Vergegenständlichung durch das Errechnen des jedermann   zugänglichen und für alle verbindlichen Vorstellbaren.

Jeder Subjektivismus ist in der griechischen Sophistik unmöglich, weil hier der Mensch nie Subjectum sein kann; er kann dies nicht werden  , weil das Sein hier Anwesen und die Wahrheit Unverborgenheit ist.

In der Unverborgenheit ereignet   sich die φαντασία, d. h. das zum Erscheinen-Kommen des Anwesenden als eines solchen für den zum Erscheinenden hin anwesenden Menschen. Der Mensch als das vorstellende Subjekt jedoch phantasiert, d. h. er bewegt sich in der imaginatio, insofern sein Vorstellen   das Seiende als das Gegenständliche in die Welt   als Bild   einbildet. [GA5 HOLZWEGE, p. 102-106]


Ver online : Caminhos de Floresta


[1N.T. O que se essencia traduz o particípio presente substantivado deis Wesende, A palavra Wesen (essência) é por Heidegger entendida num sentido verbal, expressando o modo como o ser é no ente, ou seja, o tornar-se essência no e através do ente.

[2N.T. O termo traduzido por prudência é Besonnenheit, a característica do homem que medita, que exerce uma meditação (Besinnung).