Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Fink (1988:77) – Nietzsche e a metáfora do jogo

sábado 3 de junho de 2023

Duarte Peixoto

[…] Nietzsche   invoca na metáfora do jogo a natureza original e verdadeira da liberdade como criação de novos valores e de mundos de valores. O jogo é a natureza da liberdade positiva. Com a morte de Deus, torna-se manifesto o carácter lúdico e arriscado inerente à existência humana. O espírito criador do homem reside no jogo. A transformação do homem no super-homem não é uma mutação de tipo biológico em que subitamente aparece acima do Homo sapiens uma nova raça de seres vivos. Esta mutação é uma metamorfose da liberdade finita, a sua alforria da alienação e a manifestação do seu carácter lúdico.

Recorde-se que já no seu primeiro período — numa tentativa de encontrar um elo de ligação a Heráclito   —, Nietzsche toma o conceito de jogo, o coloca no centro da sua reflexão e se socorre desse conceito para interpretar o seu conceito fundamental do dionisíaco. Mas o jogo neste discurso de Zaratustra não é ainda o pleno   jogo dionisíaco do mundo, não é o jogo do fundo original que cria e destrói o mundo dos fenômenos; é aqui entendido como o jogo da avaliação do homem, a criação lúdica de mundos de valores. Com o jogo da avaliação criadora, porém, torna-se problemático todo o esquema metafísico do mundo sensível e do mundo inteligível, do mundus sensibilis e do mundos intelligibilis, do aquém e do Além; os devaneios da metafísica, tal como a transcendência dos valores, repousa no Deus vivo. Mas após a morte de Deus tais distinções caducaram.

Goetz Richter

The true, primordial essence of freedom as a creation of new values and realms of value is addressed in the metaphor of the play. Play is the essence of positive   freedom. The death of God reveals the playful, risky dimension of human existence. Human creativity is play. The progress from man towards the overman is not   an evolutionary leap of a biological kind in which a new kind of living being appears beyond the homo sapiens. This progress is the development of finite freedom, its retrieval from a self-alienation and the free emergence of the character of play.

It must be pointed out that Nietzsche takes up the concept of play already in this first period in the attempted continuation of Heraclitus and uses it to focus on the fundamental concept of the Dionysian. The play is not yet the entire Dionysian world in this speech by Zarathustra. Play is here understood as the playful design of the worlds of value, not as the primordial ground which constitutes and destroys the world of appearance. The play of creative valuation, however, makes the entire metaphysical structure of sensible and spiritual, of mundus sensibilis and mundus intelligibilis or of this world and the other world, questionable. Like the transcendence of values, the transcendence of metaphysics is based on a living God. After the death of God, however, such a distinction is superfluous.


Ver online : Eugen Fink