Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Léxico Alemão > Figal (FL:30-31) – consciência (Bewusstsein)

Figal (FL:30-31) – consciência (Bewusstsein)

terça-feira 13 de junho de 2023

Husserl   toma o fato de os processos mentais que possuem o caráter de intencionalidade poderem se tornar eles mesmos tema do pensamento como um ensejo para tomar a consciência como um “ser imanente” [1] e para cindi-la do que não é consciência. Mediante a reflexão acerca dos processos mentais em sua intencionalidade, esses processos não se tornam, na verdade, desprovidos de objeto – se assim fosse, eles não seriam intencionais. Contudo, a consciência se mostra de qualquer forma como um âmbito que não carece de nenhum objeto exterior para existir; [2] a reflexão mostra que a consciência continua tendo objetos, mesmo que não haja nada exterior a ela, e que, além disso, o que não é ele mesmo consciência só pode ser dado em geral intencionalmente. Na formulação heideggeriana  : “O ser real pode ser de outra maneira ou não ser absolutamente. Apesar disso, a consciência consegue apresentar em si mesma um contexto ontológico fechado. Essa ponderação acaba por indicar: a consciência é absoluta no sentido de que ela é a pressuposição ontológica em função da qual em geral a realidade pode se anunciar. Um ser transcendente é sempre dado na apresentação e ele se apresenta como objeto justamente da intencionalidade” (GA20  , 144). Conforme o ponto de partida husserliano, a consciência é o fundamento absoluto da realidade, e, se se leva em conta o fato de Heidegger, já nas Phänomenologischen Interpretationen zu Aristoteles   (Interpretações fenomenológicas de Aristóteles), criticar a tentativa de uma fundamentação teorético-cognitiva da realidade, [3] fica claro que ele não está em condições de seguir Husserl nesse ponto. Sua alternativa não é certamente nenhuma variedade do realismo, mas aparentemente uma radicalização do modo husserliano de colocação do problema, um modo intrínseco à teoria da consciência. Contra a determinação de consciência tal como é estabelecida por Husserl, Heidegger faz valer, em verdade, que ela não é nenhuma determinação da consciência “em seu ser” (GA20, 145), e essa objeção ainda pode ser completamente compreendida no contexto do [31] programa de investigação husserliano. Sem que fique claro inicialmente o que designa o termo “ser” no discurso sobre a “consciência em seu ser”, poder-se-ia, de qualquer forma, supor que se trataria de contestar a capacidade de demonstração que Husserl exige da consciência, mas não de abandonar a orientação pela consciência mesma.


Ver online : Günter Figal


[1Husserl. Ideen (Ideias). Cf. GA20, p. 142.

[2Nulla "re” indiget ad existendum; comparar Ideen I(Ideias I), p. 115, e GA20, p. 143.

[3Isso significa: “Kant e Aristóteles têm em comum o fato de que para os dois o mundo exterior está aí. Para Aristóteles, o conhecimento do mundo não é um problema” (GA61,4).