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ENTENDRE HEIDEGGER

Fédier (2013:34-37) – verstehen - entendre - entender - compreender

Et autres exercices d’écoute

segunda-feira 29 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

Entender é inseparável de vibrar. Esta união com efeito — seria preciso até dizer: este uníssono primeiro — é a assinatura disto que Heidegger denomina no livro mestre de 1927 um "existencial".

nossa tradução

Então como tomar este termo: entender [entendre]? Certamente como nossa maneira, a nós que falamos línguas latinas, de verter o Verstehen   alemão. Ainda é preciso ser fiel à acepção elementar desta palavra, e medir em que entender responde bem a Verstehen.

Entender, em francês, é atestado desde o século XI, onde ele permite já dizer: como ser atento à algo que nos concerne. Entender com efeito não tem a princípio a acepção de escutar, de dar ouvidos, mas ainda mais aquela do latim: intelligere — com uma nuance suplementar: aquela de estar tencionado face ao que entendemos apreender, e mesmo, se posso dizer: de estar posto em tensão a partir disso que entendemos apreender.

É bem esta nuance que aparenta nosso entendimento ao Verstehen alemão. Neste último com efeito, é o radical stehen   (estar de pé e se manter aí onde a gente se mantém) que dá seu verdadeiro acento à palavra alemã. Como o compreender? Façamos um desvio pelo domínio inglês, onde "entender" se diz understand. Uma célebre anedota relata que Dionísio de Siracusa, para fazer entender a Dâmocles que a vida do Tirano não é uma sucessão de delícias, fez suspender em cima de sua cabeça durante um banquete uma espada desembainhada, pendurada a uma crina de cavalo! Esta anedota nos põe diretamente a ponto de compreender o que pode querer dizer understand: ser e dever permanecer sob o impacto disto que vos põe em perigo, sem que tenhais o direito de abandonar, que digo eu: de fugires longe desta ameaça. Cada um de nós, bastando se figurar em lugar de Dâmocles, pode quase fisicamente fazer a experiência disto que understand pode implicar, em entendendo a fundo o que isso significa: tremer por sua vida.

Eis o que sem dúvida dará se necessário algum relevo à notação que se encontra no início do parágrafo §31 de Ser e Tempo  . Heidegger aí anota: "Verstehen ist immer gestimmtes." A impecável tradução de François Vezin   dá em francês: "Entendre est inséparable de vibrer" [Entender é inseparável de vibrar]. Dito de outro modo: impossível entender o que quer que seja sem que, em nosso próprio corpo, se despertem harmônicos que entram em ressonância com este entendimento.

As línguas latinas conservam algo desta correspondência elementar: nosso verbo para a culminação do entendimento [entente] — o verbo savoir [saber] — só demanda que lembremos disto, que nenhum saber é inteiramente destacado de um certo saveur [sabor], ficando bem entendido que o espectro de sabores se estende do amargo mais repulsivo à melodiosa doçura do mel, sem esquecer a aparente indiferença do imperceptível, por exemplo, a água — incolor, inodora e sem sabor (como aprendemos nos bancos da escola) — a água que Píndaro   sabia no entanto ainda saudar, no primeiro verso da primeira Ode Victoriale, como ariston   men hydor… ("Primeiro é a Água…". Cito na tradução de Jean-Paul Savignac: Pindare Oeuvres complètes, la Différence, Paris, 1990.)

O entendimento [entente] é assim intimamente ligado ao que a tradição não é até aqui apta a referir senão como "afetividade" — mas que é muito mais que isso, na medida que isso não somos — muito é preciso — somente passivos. Pois não há em nós algo (por exemplo uma "substância") que seria por conta "afetada". Cada um de nós é sempre já um: precisamente a título de gestimmtes Verstehen. Entender é inseparável de vibrar. Esta união com efeito — seria preciso até dizer: este uníssono primeiro — é a assinatura disto que Heidegger denomina no livro mestre de 1927 um "existencial".

Original

D’abord comment prendre ce terme : entendre ? Bien sûr comme notre manière, à nous qui parlons des langues latines, de rendre le Verstehen allemand. Encore faut-il être fidèle à l’acception élémentaire de ce mot, et mesurer en quoi entendre répond bien à Verstehen.

Entendre, en français, est attesté depuis le XIe siècle, où il permet déjà de dire : comment être attentif à quelque chose qui nous concerne. Entendre en effet n’a pas d’abord l’acception d’écouter, de prêter l’oreille, mais bien encore celle du latin : intelligere — avec une nuance supplémentaire : celle d’être tendu face à ce que nous entendons saisir, et même, si je puis dire : d’être mis en tension à partir de cela que nous entendons saisir.

C’est bien cette nuance qui apparente notre entente au Verstehen allemand. Chez ce dernier en effet, c’est le radical stehen (être debout et se maintenir là où l’on se tient) qui donne son véritable accent au mot allemand. Comment le comprendre ? Faisons un détour par le domaine anglais, où « entendre » se dit understand. Une célèbre anecdote rapporte que Denys de Syracuse, pour faire entendre à Damoclès que la vie du Tyran n’était pas une succession de délices, fit suspendre au-dessus de sa tête pour la durée d’un festin une épée dégainée, nouée à un crin de cheval ! Cette anecdote nous met directement à même de comprendre ce que peut vouloir dire understand : être et devoir rester sous l’impact de ce qui vous met en danger, sans que vous ayez le droit de vous en aller, que dis-je : de vous enfuir loin de cette menace. Chacun de nous, rien qu’en se figurant en lieu et place de Damoclès, peut quasi physiquement faire l’expérience de ce que under stand   peut impliquer, en entendant à fond que cela signifie : trembler pour sa vie.

Voilà qui sans doute donnera si nécessaire quelque relief à la notation qui se trouve au début du § 31 d’Être et temps. Heidegger y note :

Verstehen ist immer gestimmtes.

L’impeccable traduction de François Vezin donne en français : « Entendre est inséparable de vibrer. » Autrement dit : impossible d’entendre quoi que ce soit sans que, en notre propre corps, s’éveillent des harmoniques qui entrent en résonance avec cette entente.

Nos langues latines conservent quelque chose de cette correspondance élémentaire : notre verbe pour la culmination de l’entente — le verbe savoir — ne demande qu’à nous rappeler ceci, qu’aucun savoir n’est entièrement détaché d’une certaine saveur, étant bien entendu que le spectre des saveurs s’étend de l’amertume la plus répulsive à la mélodieuse douceur du miel, sans oublier l’apparente indifférence de l’imperceptible, par exemple Veau — incolore, inodore et sans saveur (comme nous avons appris sur les bancs de l’école) — l’eau que Pindare savait pourtant encore saluer, au premier vers de la première Ode Victoriale, comme ἄριστον μὲν ὕδωρ… [1]

L’entente est ainsi intimement liée à ce que la tradition   n’a jusqu’ici été apte à repérer que comme « affectivité » — mais qui est bien davantage que cela, dans la mesure où nous n’y sommes pas — il s’en faut de beaucoup — seulement passifs. Car il n’y a pas chez nous quelque chose (par exemple une « substance ») qui serait par ailleurs « affecté ». Chacun de nous est toujours déjà un : précisément à titre de gestimmtes Verstehen. Entendre est inséparable de vibrer. Cette union en effet — il faudrait aller jusqu’à dire : cet unisson premier — est la signature de ce que Heidegger nomme dans le maître livre de 1927 un « existential ».


Ver online : François Fédier


[1« Première est l’Eau… ». Je cite la traduction de Jean-Paul Savignac : Pindare Œuvres complètes, La Différence, Paris, 1990.