Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Fink (1966b:236) – o homem joga porque é "mundano"

segunda-feira 11 de dezembro de 2023

tradução

Mas o homem é um ente no mundo; é mundano na medida em que é como todas as coisas do universo, e é mundano na medida em que está aberto ao mundo. Mas não é mundano da mesma forma que o próprio mundo, que é uno e único. E, no entanto, certas características do governo do mundo refletem-se no homem e no seu jogo, que adquire assim o significado de um símbolo do mundo. Mas, na medida em que toda a atividade humana é determinada e fundada por motivações significativas, que a vontade humana representa para si mesma, a ação humana do "jogo" está, naturalmente, também envolvida no estilo geral da atividade humana. Mas de uma forma curiosa e surpreendente. A falta de sentido do mundo reflete-se na esfera intramundana do sentido humano de tal modo que, no seio da sua atividade orientada para um objetivo, o homem reserva para si um espaço livre, por assim dizer, onde se torna possível uma atividade sem motivação para a ação, conduzindo ainda mais à prossecução de um objetivo humano. O jogo não está sujeito a um fim para além dele mesmo; tem os seus fins apenas nele mesmo e é, no seu conjunto, como se diz, "inútil". O jogo humano é um modo em que, no meio da causalidade geral das coisas intramundanas, aparece um impulso de vida que se move sem razão dentro de si mesmo, como um símbolo do governo do mundo. Mas pelo fato de que a "ausência de fundamento" do jogo se instala no meio de ações meta e sentido, que são planificadas e determinadas pelo valor, é preciso que este jogo tenha "fins", um "sentido", um "valor" e um "plano" nele mesmo; segue-se também que o jogo só pode ser uma metáfora do mundo no médium da "aparência". Nenhuma coisa intramundana pode ser realmente semelhante ao cosmos e à sua magnificência; uma coisa só pode ser um símbolo na esfera da aparência, e em particular na esfera em que o mundo se reflete em sua intramundanidade. No jogo humano aparecem os momentos do mundo, mas estes são então estilhaçados, estilhaçados pela dualidade da realidade e da irrealidade que interferem no jogo. O jogo humano é, portanto, um símbolo do mundo. A compreensão humana é permeada de traços da ausência de fundo, de sentido e de meta, e se encontra levada pela leviandade despreocupada, quase onírica, do jogo. É porque estamos abertos ao mundo, e porque esta abertura da existência humana ao mundo implica que o homem saiba que o todo agenciando é desprovido de razão, que somos capazes de jogar. O homem joga porque ele é "mundano".

Hildenbrand & Lindenberg

Mais l’homme est un étant dans le monde; il est mondain dans la mesure où il se trouve comme toutes les choses dans l’univers, et il est mondain dans la mesure où il est ouvert au monde. Mais il n’est pas mondain de la même manière que le monde lui-même, un et unique. Et cependant certains traits du gouvernement du monde se reflètent dans l’homme et dans son jeu qui, par cela même, acquiert le sens d’un symbole du monde. Mais dans la mesure où toute activité humaine est déterminée et fondée par des motivations douées de sens, que la volonté humaine se représente, l’action humaine du « jeu » est bien sûr également impliquée dans le style d’ensemble de l’activité humaine. Mais cela d’une façon curieuse et frappante. L’absence de sens du monde se reflète dans la sphère intramondaine de sens humain de telle sorte qu’à l’intérieur de son activité déterminée par un but, l’homme se réserve pour ainsi dire une place libre où devient possible une activité sans motivation d’action qui entraîne plus loin dans la visée d’une finalité humaine. Le jeu n’est pas soumis à une fin visant au-delà d’elle-même, il a ses fins seulement en lui-même, et il est dans l’ensemble comme on dit, « inutile ». Le jeu humain est un mode sur lequel, au milieu   de la causalité générale des choses intramondaines, apparaît un élan de la vie se mouvant sans raison en lui-même, comme symbole du gouvernement du monde. Mais du fait que 1’« absence de fondement » du jeu s’installe au milieu d’actions ayant but et sens, qui sont planifiées et déterminées par la valeur, il faut d’abord que ce jeu ait des « fins », un « sens », une « valeur » et un « plan » en lui-même; il s’ensuit en outre que le jeu ne peut être métaphore du monde que dans le médium de l’« apparence ». Aucune chose intramondaine ne peut être réellement semblable au cosmos et à sa magnificence; une chose ne peut être symbole que dans la sphère de l’apparence, et notamment dans la sphère où le monde se reflète dans son intramondanité. Dans le jeu humain apparaissent des moments du monde, mais ceux-ci sont alors brisés, brisés par la dualité de la réalité et de l’irréalité qui interfèrent dans le jeu. Le jeu humain est donc symbole du monde. La compréhension humaine se pénètre des traits de l’absence de fond, de sens et de but, et se trouve entraînée vers la légèreté insouciante et quasiment onirique dpi jeu. C’est parce que nous sommes ouverts au monde et que cette ouverture de l’existence humaine au monde implique que l’homme sait que le tout agissant est sans raison, c’est pour cela que nous sommes capables de jouer. L’homme joue parce qu’il est « mondain ».

[FINK  , Eugen. Le jeu comme symbole du monde. Tr. Hans Hildenbrand & Alex Lindenberg. Paris: Minuit, 1966, p. 236]


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