Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Fenomenologia > Christian Sternad (2020) – fenomenologia da morte

Christian Sternad (2020) – fenomenologia da morte

quarta-feira 14 de fevereiro de 2024

tradução

A fenomenologia lida com a morte como um fenômeno. Isto gera o problema de a fenomenologia ter de refletir sobre como trazer a morte para a sua fenomenalidade. A morte não é um fenômeno entre outros, é um fenômeno na fronteira de ser fenomenal de todo. Num dos seus últimos manuscritos, Husserl   encontrou a descrição muito apropriada de um "fenômeno total" (Totalphänomen), que atribuiu a fenômenos que neutralizam a fenomenalidade enquanto tal. Neste caso, Husserl concentra-se nos chamados "fenômenos-limite" (Limesphänomene), como o nascimento, a morte e o sono. O que estes fenômenos têm em comum é o fato de, na perspetiva da primeira pessoa, não aparecerem de todo à consciência ou, dito de outra forma: o aparecimento destes fenômenos erradica a possibilidade de qualquer outro fenômeno aparecer. Estes fenômenos apresentam-se como uma espécie de hiato na consciência em que o fluxo constante da consciência é inibido ou totalmente interrompido. No nascimento, a consciência ainda não existe (totalmente); no sono, especialmente no sono sem sonhos, a consciência é temporariamente inibida; e na morte, a consciência é irrevogavelmente interrompida. As complexas inter-relações entre estes fenômenos são o tema das reflexões de Husserl nestes manuscritos. Sem aprofundar a questão das suas características respectivas ou das suas diferenças entre si, convém ter presente que todos eles partilham um problema comum: estes fenômenos algo "a-fenomenais" põem em causa a subjetividade constitutiva que é a pedra angular de toda a análise fenomenológica. No entanto, estes fenômenos-limite não podem ser ignorados, pois parecem ter um papel constitutivo da existência humana.

original

Phenomenology deals with death as a phenomenon. This generates the problem that phenomenology has to think about how to bring death into its phenomenality. Death is not   one phenomenon among others, it is a phenomenon on the borderline of being phenomenal at all. In one of his late manuscripts, Husserl found the very apt description of a “total phenomenon” (Totalphänomen) which he attributed to phenomena that neutralize phenomenality as such. Here, he focusses on the so called “limit phenomena” (Limesphänomene), such as birth, death and sleep. What theses phenomena have in common is that they, from the first-person   perspective, do not appear to consciousness at all or, put differently: the appearance of these phenomena eradicate the possibility of every other phenomenon to appear. These phenomena pose as some kind of hiatus in consciousness in which the constant streaming of consciousness is either inhibited or totally interrupted. In birth, consciousness is not yet (fully) there; in sleep, especially in dreamless sleep, consciousness is temporarily inhibited; and in death, consciousness is irrevocably interrupted. The complex interrelations between these phenomena are the subject of Husserl’s ponderings in these manuscripts. Without going further into the question of their respective features or their differences to one another, it should be kept in mind that they all share a common problem: these somewhat “a-phenomenal” phenomena put into question the constitutive subjectivity which is the cornerstone of every phenomenological analysis. However, these limit-phenomena cannot be ignored since they nevertheless seem to have a constitutive role for human existence.

[Christian Sternad. "On the Verge of Subjectivity: Phenomenologies of Death", in I. Apostolescu (ed.), The Subject(s) of Phenomenology, Contributions to Phenomenology 108. Springer, 2020]


Ver online : MORTE