Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Fenomenologia > Caron (2005:926) – Entschlossenheit - décision - decisão

Caron (2005:926) – Entschlossenheit - décision - decisão

quarta-feira 13 de dezembro de 2017

Tradução

"A decisão, e ela somente, é justamente o projetar e o determinar abridor disto que é a cada vez possibilidade fática. À abertura resoluta pertence necessariamente a indeterminação que caracteriza todo poder-ser faticamente lançado do Dasein  ". [1] Esta frase vai precisamente de encontro a tudo que estamos habituados a pensar. A decisão precede a aparição de toda possibilidade fática, ela não é portanto uma decisão determinada, nem mesmo a forma de toda decisão ou o livre arbítrio, mas a manutenção na abertura e o campo livre que tornam possível a emergência de algo em-direção-a-que nos determinar. O que se traduz desconcertantemente por "resolução" permanece em si mesmo indeterminado e nada tem a ver com o fato de se resolver sobre algo: a palavra Entschlossenheit   exprime um estado (sufixo "heit") e não um agir, o que o termo "resolução" traduz portanto muito mal, nos fazendo verdadeiramente tomar gato por lebre. A Entschlossenheit, é o poder-ser, presentemente compreendido em si próprio. Heidegger pensa de maneira totalmente inédita o par decisão/resolução que retira de seu lado voluntarista e articula a seu sabor fundamental-ontológico. A Entschlossenheit é abertura à abertura, não fechamento sobre um projeto determinado; e, como toda abertura se fecha naquilo que abre, se põe coberto naquilo que descobre, a Entschlossenheit é des-fechamento (de ent-schliessen) deste fechamento constitutivo da abertura (que chega à perda de si no a-gente). É o retorno à fonte mesma do si. Esta fonte é o poder ser propriamente deste si, o domínio no qual o nada espacializando lhe é revelado como possibilização de todo desdobramento e de todo agir. Não há portanto ação, no sentido fático do termo, sem a Entschlossenheit. Esta abertura resoluta é um agir ontológico — frequentemente tomado por inação porque não em afazer, a cotidianidade tendo associado desde muito tempo agir e afazer como ela associou realidade e sendo-presente-subsistente — que torna possível todo agir antigo. É porque o Dasein acede ao espaço de jogo que lhe é oferecido propriamente, que lhe é dado ser a possibilidade que ele é e de fazer advir algo propriamente. "A abertura resoluta é o que dá pela primeira vez ao Dasein sua translucidez autêntica. Na resolução, transcorre para o Dasein seu poder-ser mais próprio" (Sein und Zeit  , p. 299). A Entschlossenheit — abertura resoluta — compreende e sustenta o estado de abertura que é a Erschlossenheit   (ser-aberto). Nela o Dasein assume isto que ele é.

Original

« La décision, et elle seule, est justement le projeter et le déterminer ouvrant de ce qui est à chaque fois possibilité factice. À l’ouverture résolue appartient nécessairement l’indétermination qui caractérise tout pouvoir-être facticement jeté du Dasein ». [2] Cette phrase va précisément à l’encontre de tout ce que nous sommes habitués à penser. La décision précède l’apparition de toute possibilité factice, elle n’est donc pas une décision déterminée, ni même la forme de toute décision ou le libre arbitre, mais le maintien dans l’ouverture et le champ libre qui rendent possible l’émergence [926] de quelque chose vers-quoi nous déterminer. Ce qu’on traduit malencontreusement par « résolution » demeure en elle-même indéterminée et n’a rien à voir avec le fait de se résoudre à quelque chose : le mot Entschlossenheit exprime un état (suffixe en « heit ») et non un agir, ce que le terme de « résolution » traduit donc très mal, nous faisant véritablement prendre des vessies pour des lanternes. L’Entschlossenheit, c’est le pouvoir-être, à présent compris en son propre. Heidegger pense de manière totalement inédite le couple décision/résolution qu’il arrache à son côté volontariste et articule selon sa guise fondamentale-ontologique. L’ Entschlossenheit est ouverture à l’ouverture, non fermeture sur un projet déterminé ; et, comme toute ouverture se ferme en ce qu’elle ouvre, se met à couvert dans ce qu’elle découvre, l’Entschlossenheit est dé-fermeture (de ent-schliessen) de cette fermeture constitutive de l’ouverture (qui aboutit à la perte de soi dans le On). Elle est retour à la source même du soi. Cette source est le pouvoir être en propre de ce soi, le domaine en lequel le néant spatialisant lui est révélé comme possibilisation de tout déploiement et de tout agir. Il n’y a donc pas d’action, au sens factice du terme, sans l’ Entschlossenheit. Cette ouverture résolue est un agir ontologique — souvent pris pour de l’inaction parce que non affairé, la quotidienneté ayant associé depuis longtemps agir et affairement comme elle a associé réalité et étant-présent-subsistant — qui rend possible tout agir antique. C’est parce que le Dasein accède à l’espace de jeu qui lui est offert en propre, qu’il lui est donné d’être la possibilité qu’il est et de faire advenir quelque chose en propre. « L’ouverture résolue est ce qui donne pour la première fois au Dasein sa translucidité authentique. Dans la résolution, il y va pour le Dasein de son pouvoir-être le plus propre » [3]· L’Entschlossenheit — ouverture résolue — comprend et soutient l’état d’ouverture qu’est l’ Erschlossenheit (ouvertude ou être-ouvert). En elle, le Dasein assume ce qu’il est. (p. 926)

[Excerto de CARON  , Maxence. Heidegger. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005, p. 926]

CARON, Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


Ver online : Maxence Caron


[1Ibid. : « Der Entschluss ist gerade erst das erschliessende Entwerfen und Bestimmen der jeweiligen faktischen Möglichkeit. Zur Entschlossenheit gehört notwendig die Unbestimmtheit, die jedesfaktisch-gewofen Seinkönnen des Daseins charakterisiert ».

[2Ibid. : « Der Entschluss ist gerade erst das erschliessende Entwerfen und Bestimmen der jeweiligen faktischen Möglichkeit. Zur Entschlossenheit gehört notwendig die Unbestimmtheit, die jedesfaktisch-gewofen Seinkönnen des Daseins charakterisiert ».

[3Ibid., p. 299.