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Marcos Fernandes (2011:389-390) – morada [Haus]
domingo 17 de novembro de 2024
O ser se dá no pudor e na simplicidade modesta do retraimento de seu mistério. Não aparece, nem se impõe à força. É vigor da fraqueza. É superabundância da pobreza. Na fraqueza e pobreza de si, gratuitamente, como fonte, o ser deixa ser o outro de si: o homem. A ele se confia. Entrega-se ao seu cuidado [Sorge], à sua solicitude (Sorge für, Fürsorge), à sua proximidade, que é vizinhança e familiaridade. Por isso, o homem é, essencialmente, o pastor do ser, muito mais do que o dominador dos entes. E isso, por graça do próprio ser [1]. Por sua vez, o ser mesmo se relaciona com o homem no modo do cuidado, como o que oferece paradeiro, isto é, de-mora, morada, ao homem. Na morada, o homem encontra apoio, amparo e sustento.
“Mais Essencial para o homem do que todo e qualquer estabelecimento de regras é encontrar um caminho para a morada da Verdade do Ser. Pois é essa morada que assegura a experiência do que propicia amparo e sustento. O apoio para toda atitude concede a Verdade do Ser. “Apoio ” (Halt) significa, em alemão, o “amparo”, “a guarda”. O Ser é a guarda que resguarda o homem, em sua Essência ec-sistente [Ek-sistenz], para a Verdade do Ser a ponto de fazer a ec-sistência habitar (behausen) na linguagem.” [2]
É por graça e virtude do seu estar fincado na relação do ser para consigo, que o homem é quem ele é, ou seja, ele é um ec-sistente que in-siste na verdade do ser. O ser é ele mesmo essa relação com o homem. O homem é ele mesmo essa relação com o ser. É-o no modo do cuidar e habitar. O ser prepara na verdade a morada para o homem. O homem prepara na linguagem a morada para o ser.
[FERNANDES, Marcos A. À clareira do ser: da fenomenologia da intencionalidade à abertura da existência. Teresópolis: Daimon Editora Ltda, 2011]
Ver online : Sobre o Humanismo [GA9]
[1] HEIDEGGER, M. Sobre o Humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 68s.
[2] HEIDEGGER, M. Sobre o Humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967, p. 95.