Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Malpas (2006:67-68) – ser-em

quarta-feira 2 de outubro de 2024

Ser e Tempo   [SZ  ] contém muitos elementos da análise preliminar que já encontramos em seu pensamento anterior. Ele começa com a questão do ser, mas rapidamente passa a demonstrar a maneira pela qual essa questão já está implicada com a questão do ser daquele modo de ser que é o ser-aí e com o caráter de seu ser como ser-no-mundo. De uma perspectiva topológica, é notável, no entanto, que a análise substantiva da divisão I de Ser e Tempo   comece com o problema de como entender a noção de “ser-em” (In-Sein) que é trazida à tona na ideia de ser-aí como um ser “no” mundo (e que já parece estar presente na própria ideia de “situacionalidade”). De fato, a esse respeito, a orientação fundamental de Ser e Tempo   parece, desde o início, estar voltada para a articulação do que é uma estrutura essencialmente topológica — a estrutura daquele modo de ser que é constituído em termos de seu “aí”. Essa orientação topológica não deveria ser surpresa, dado o caminho que o pensamento de Heidegger já percorreu. No entanto, ao enfocar o “dentro” como um elemento-chave dentro dessa estrutura, também parece que Heidegger está adotando, desde o início, um conceito que é, de fato, essencialmente espacial.

A ideia de “ser-em” é uma noção que entendemos primeiramente em termos da ideia de “ser-em algo”, pois uma coisa está contida em outra. Heidegger observa, na seção 12 de Ser e Tempo, na qual a questão da natureza do “ser-em” é abordada pela primeira vez, que a frase “ser em algo”:

designa o tipo de Ser que uma entidade tem quando está “dentro” de outra, como a água está “dentro” do copo, ou a roupa está “dentro” do armário. Com esse “dentro”, queremos dizer a relação de Ser que duas entidades têm uma com a outra com relação à sua localização nesse espaço. Tanto a água quanto o copo, a roupa e o armário, estão “no” espaço e “em” um local, e ambos da mesma maneira. Essa relação de Ser pode ser ampliada: por exemplo, o banco está na sala de aula, a sala de aula está na universidade, a universidade está na cidade e assim por diante, até que possamos dizer que o banco está no “espaço-mundo”.

As palavras de Heidegger aqui ecoam comentários que aparecem no texto de um curso que ele deu no semestre de verão de 1925, no qual também procura examinar o caráter do “ser-em”:

Quando tentamos dar uma demonstração intuitiva a esse “dentro”, mais precisamente ao “algo dentro de algo”, damos exemplos como a água “dentro” do copo, as roupas “dentro” do armário, as carteiras “dentro” da sala de aula. Com isso, queremos dizer que uma coisa está espacialmente contida em outra e nos referimos à relação de ser com relação ao lugar e ao espaço de duas entidades que, por sua vez, estão estendidas no espaço. Assim, tanto a primeira (água) quanto a segunda (vidro), onde a primeira está, estão “no” espaço; ambas têm seu lugar. Ambas estão apenas “no” espaço e não têm ser. … a mesa na sala de aula, a sala de aula no prédio da universidade, o prédio na cidade de Marburg, Marburg em Hessen, na Alemanha, na Europa, na Terra, em um sistema solar, no espaço mundial, no mundo.

[MALPAS  , Jeffrey E. Heidegger’s topology: being, place, world. Cambridge (Mass.): MIT Press, 2006]


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