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Loreau (1989:289-291) – compreensão [Verständnis]

sexta-feira 27 de setembro de 2024, por Cardoso de Castro

[…] O que é, então, “compreensão” quando é atribuída ao Dasein e é um fato deste último? O que é quando é originalmente voltado para o ser e se relaciona com ele? A resposta requer primeiro alguns esclarecimentos.

O Dasein não aparece meramente no seio do ser (SZ  :12). Ele existe: ele tem de ser seu próprio ser, e esse ter-de-ser o torna um ser que está de acordo com o modo de ser-no-mundo. O ser-no-mundo é a base sobre a qual o ser do Dasein é constituído (42; 53). Sua explicitação, portanto, fornece o ponto de partida para a pesquisa sobre a questão do ser.

Mas a “compreensão” ( Verstehen ) não é, estritamente falando, uma forma de ser-no-mundo. Pois o ser-no-mundo, tomado como um todo, é um fenômeno composto de três momentos constitutivos: de um lado, o mundo; de outro, o ente que é-no-mundo — a saber, o Dasein; e, finalmente, entre eles, o ser-em, que é o núcleo a partir do qual o Dasein e o mundo são um para o outro. O ser-em é o ser-no-mundo, uma vez que o Dasein e o mundo tenham sido reduzidos. Ele constitui o movimento de “apego a” tomado em si mesmo como um movimento unitário no qual e por meio do qual o mundo e o Dasein podem, cada um por si mesmo, tornar-se o fenômeno. Na medida em que o Dasein é ser-no-mundo, ser-em é a estrutura formal do ser do Dasein (54). Em termos gerais, isso significa que o Dasein não é como um ser corpóreo que está simplesmente no espaço, mas que habita próximo ao mundo que sempre lhe é familiar. O fato de a compreensão ser um modo de ser do ser-em significa, então, que ela é re-compreendida não como um ato cognitivo ou como conhecimento, mas, ao contrário, como um modo original de ser que torna possível qualquer ato de conhecer e, a partir daí, qualquer conhecimento.

[…]

Ser-em é ser o Aí — abertura. Para a questão que nos preocupa — a saber, a da compreensão do ser e da existência de um logos fundamental alojado nele — a abertura do Dasein é essencialmente a compreensão: “… é somente porque o Dasein é constituído pela abertura, isto é, pela compreensão, que algo como o ser pode, em geral, ser compreendido — que a compreensão do ser é possível” (230; trans. 169). A compreensão é, portanto, o que torna o ser possível para a fenomenologia. Além disso, o discurso ou a Rede, cuja noção foi imediatamente introduzida em relação ao conceito de logos (33), é discutido aqui em relação à explicitação e, portanto, à compreensão que torna a explicitação possível. Isso indica que compreender e dizer exigem um esclarecimento de sua relação original. E a compreensão, na medida em que torna a explicitação possível, é o que os fenômenos utilizam. Assim, por meio da questão da relação entre compreender e discurso, é a questão fundamental das ligações originais entre o fenômeno e o logos que ressurge no aprofundamento do que é explicitação dentro da compreensão; isso é o que está realmente em jogo na análise expressa da abertura que é o Dasein.

Qual é a articulação do logos e do ver na abertura que é a compreensão?


Ver online : Max Loreau


LOREAU, M. La genèse du phénomène. Paris: Editions de Minuit, 1989.