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Hebeche (2005:326-327) – indícios formais
segunda-feira 11 de novembro de 2024
Os “indícios formais” dizem respeito a um paradoxo: mostrar os fenômenos da vida fática sem encobri-los pela explicação teórica. O que leva Heidegger a colocar esse problema no seu curso de 1920 — Introdução à Filosofia da Religião [GA60 ] — é a pergunta sobre o sentido do histórico, ou melhor ainda, de que modo o sentido do histórico provém da experiência da vida fática. E isso envolve uma grande dificuldade que atinge todo o procedimento da fenomenologia, à medida que conduz ao tema do processo de universalização (Verallgemeinerungen). Em sua origem esse tema também já se encontra em Husserl [1]. Daí por que esse problema é abordado junto ao da generalização e formalização, sendo introduzido pela questão do sentido geral do “histórico” (historisch). Ele não é, porém, um assunto de fácil entendimento, embora Heidegger chame a atenção de que, para evitar abordagens muito simplificadas ou limitações regionais, “nós devemos ser claros sobre o sentido dos indícios formais”. Seu vínculo inicial com a explicação fenomenológica como recurso metodológico está na origem do que ele chama de “indício formal”. Ou seja, a concepção de indício formal diz respeito ao próprio método da fenomenologia e, como tal, ele pertence ao modo teórico de abordar esse método: “O problema dos ‘indícios formais’ pertence à ‘teoria’ do método fenomenológico mesmo, num sentido amplo ao problema do teórico (Theoretischen), do ato teórico do fenômeno das distinções (Unterscheidens) [GA60 :55]. Temos, aí, então uma dificuldade metódico-metodológica. Como dar conta do método que diz respeito ao teórico e ao [327] pré-teórico? Método (μέθοδος) é todo o procedimento que leva à verdade das coisas, mas aqui a “coisa” é a vida fática. Um método que procura alcançar a faticidade da vida não encobre aquilo que tenta mostrar? Como liberar o fenômeno da vida sem que a explicação o oculte sob conceitos gerais? Como “indicar” a vida fática sem objetivá-la? A dificuldade está em que ela só poderá ser mostrada quando for afastada a ilusão metafísica que tenta “corrigi-la” sob conceitos gerais. Daí por que o jovem Heidegger destaca a palavra “Theoretischen”. Como toda teoria é encobridora, é preciso, então, dar conta do pré-teórico.
[HEBECHE, Luiz. O escândalo de Cristo : ensaio sobre Heidegger e São Paulo. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005]
Ver online : INDÍCIOS FORMAIS
[1] Heidegger refere-se às Logische Untersuchungen e às Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie. Ver Gesamtausgabe, Band 60, Phänomenologie des religiösen Lehens (GA60), Vittorio Klostermann, Frankfurt am Main, 1995, p.54.