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Gilvan Fogel (2005:182-183) – o eu não é o sujeito da ação
sexta-feira 25 de outubro de 2024
Dissemos: o eu não é o sujeito da ação, mas sim resultado dela, a saber, do verbo ou do interesse, do qual ele se torna protagonista. Também dissemos que objetividade é a própria subjetividade projetada sobre as coisas ou a elas proposta, de modo que toda e qualquer coisa vira objeto. Com isso, a questão da objetividade fica reduzida ou inteiramente dependente da questão do sujeito. Esta, por sua vez, reduzida ou inteiramente dependente da questão do interesse, pois é perfeitamente justo dizer-se que o sujeito enquanto tal (isto é, enquanto sujeito) não é sujeito (causa, autor) de si próprio ou de sua própria gênese e constituição, mas, antes, “ob-jeto”, isto é, “ob-posição”, contra-posição e mesmo “pro-jeção” ou “proposição” do interesse, do qual ele é protagonista. E esse interesse, no fio da metafísica da subjetividade, mostra-se como sendo a reivindicação, a todo e qualquer custo, de certeza e de segurança a todo e qualquer preço.
Tudo objetivar é, portanto, tornar tudo “ob-jeto”. Isso quer dizer: através do processo de “ob-jeção” e “pro-jeção”, “sub-jetivar” e assim igualar tudo ao sujeito, que é identificado com o eu. Esse eu,porém, é tão-só o índice ou o arquétipo do certo e do seguro, à medida que ele se evidencia para si mesmo como algo assim certo e seguro na tomada de consciência de si próprio, isto é, na auto-representação, que se constitui no auto-asseguramento exemplar. Objetivar é, então, tornar tudo certo e seguro, tal qual o eu, que se representa a si próprio, o [183] é para si mesmo. O ideal, a meta é a certeza, a segurança — mais,o auto-asseguramento e toda essa estruturação, todo esse processo de objetivação-subjetivação é o meio, o instrumento para a realização de tal ideal, de tal projeto ou interesse.
No processo de tudo virar objeto respectivamente sujeito (algo demoníaco, que lembra Mefistófeles e a poção mágica que, uma vez ingerida, súbito todas as mulheres se transformam em Helena), tudo vira dado, coisa feita e pronta, ou seja, tudo já é coisificado e à espera de ser constatado, verificado — espelhado, refletido, ainda que subjetivado ou constituído.
[FOGEL , Gilvan. Conhecer é Criar. Ijuí: Unijuí, 2005]
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