Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Beistegui (2005:9) – nada [Nichts]

quinta-feira 7 de novembro de 2024

[…] Atualmente, a literatura sobre sonhos e seus significados é abundante. Os sonhos são sempre entendidos como mensagens codificadas, como sinais escritos em uma linguagem misteriosa, que somente o especialista e o expert estão aptos a decodificar. Não importa o quanto sejam indiretos ou velados, sempre se pensa que os sonhos falam de algo, especialmente de nossos desejos e medos ocultos e reprimidos. Eles são essencialmente metafóricos. Heidegger, por outro lado, não diz praticamente nada sobre sonhos. Mas ele leva a sério a possibilidade da experiência de “algo” que chamamos de “nada”. Sério? Como podemos levar isso a sério? Como podemos sequer começar a falar sobre o nada, quando o nada é precisamente a ausência de algo sobre o que falar? Não deveríamos descartar isso como pura especulação ou bobagem metafísica, como fez um famoso positivista lógico do Círculo de Viena? [1] Heidegger não apenas leva a sério a possibilidade de que haja algo no nada. Ele considera essa possibilidade como uma pista decisiva para investigar quem somos e, assim, desvendar o significado de nosso ser, que ele considera ser o próprio objetivo e a razão de ser da filosofia.

[BEISTEGUI  , Miguel de. The New Heidegger. London: Bloomsbury Publishing, 2005]


Ver online : Miguel de Beistegui


[1See Carnap’s critique of Heidegger’s ‘What is Metaphysics?’ in ‘The Elimination of Metaphysics through Logical Analysis of Language’ (1931), trans. A. Pap, in Logical Positivism (ed.) A. J. Ayer (Glencoe, Scotland: Free Press, 1959). A good and lively discussion of this critique can be found in Simon Critchley, Continental Philosophy. A Very Short Introduction (Oxford: Oxford University Press, 2001), pp. 90—110. In a lecture from 1920, Henri Bergson, the famous French philosopher, had already criticized the problem of nothingness, and the famous question, first formulated by Leibniz, of why there is something rather than nothing, as a pseudo-problem, that is, as a problem to which no reality actually corresponds. ‘Nothing’ (rien), Bergson suggests, is only a word, not an idea, and one that is the mere negation, and so the ultimate confirmation, of the fact that there always is something. See H. Bergson, ‘The Possible and the Real’ (1930), in The Creative Mind (New York: Citadel Press, 2002), pp. 95ff.