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GA6T2:136-137 – EGO - EU
quinta-feira 8 de agosto de 2019
A sentença de Protágoras diz inequivocamente que “todo” ente está ligado ao homem como ἐγώ (eu), e que o homem é a medida para o ser do ente. Mas de que tipo é essa ligação do ente com o “eu”, pressupondo que pensemos de maneira grega em nossa pós-compreensão dessa sentença e que não venhamos a inserir inopinadamente na sentença representações do homem como “sujeito”? O homem apreende aquilo que se presenta na região de sua apreensão. Esse ente que se presenta mantém-se como um tal de antemão em uma região própria àquilo que é acessível, porque essa região é uma região de desvelamento. A [102] apreensão daquilo que se presenta funda-se sobre a sua permanência no interior da região do desvelamento.
Tal como algumas gerações antes de nós, hoje já esquecemos há muito essa região do desvelamento do ente. No entanto, continuamos a requisitá-la constantemente. Achamos, em verdade, que um ente se torna acessível pelo fato de um eu representar enquanto sujeito um objeto. Como se para tanto não precisasse vigorar de antemão um aberto, no interior de cuja abertura algo se torna acessível enquanto objeto para um sujeito e a própria acessibilidade ainda pode ser atravessada como experimentável! Ainda que de maneira bastante indeterminada, os gregos conheciam, contudo, esse desvelamento, em meio ao qual o ente se presenta e o qual ele por assim dizer traz consigo. Apesar de tudo aquilo que se encontra desde então entre nós e os gregos em termos de uma interpretação metafísica do ente, podemos nos lembrar dessa região do desvelamento e experimentá-la como o lugar em que se mantém o nosso ser-homem. Podemos atentar suficientemente para o desvelamento, sem que sejamos e pensemos de modo grego. Por meio da permanência na região do desvelamento, o homem pertence à esfera fixa daquilo que se presenta para ele. Por meio desse pertecimento a essa esfera, um limite é ao mesmo tempo assumido contra aquilo que não se presenta. É aqui, portanto, que o si mesmo do homem é definido como o “eu” respectivo por meio da restrição ao desvelado circundante. A pertinência restrita à esfera do desvelado constitui concomitantemente o ser si mesmo do homem. É por meio da restrição que o homem se transforma em ἐγώ, mas não por meio de uma supressão de tal ordem das restrições que o eu que representa a si mesmo se incha e transforma em ponto de medida e em centro de tudo aquilo que é re-presentável. O “eu” é para os gregos o nome para o homem que se insere nessa restrição, e, assim, é junto a si mesmo ele mesmo. [GA6T2 :136-137; GA6Casanova II:101-102]
Ver online : NIETZSCHE II [GA6T2]