Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Bret Davis (2007:10) – vontade segundo Levinas

sexta-feira 8 de dezembro de 2023

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A (des)sintonia fundamental da vontade é caracterizada, como vimos, por um movimento circular em que o sujeito sai e traz à força o outro que não é ele próprio de volta ao domínio do seu poder. Levinas   fala disto como a "redução do Outro ao Mesmo". A vontade é um movimento de redução da alteridade à semelhança, da diferença à identidade, mesmo quando, paradoxalmente, isto tem o efeito alienante de solidificar dicotomias. O sujeito da vontade aliena-se dos outros, mesmo quando — ou precisamente porque — tenta trazê-los à força de volta ao seu próprio domínio. Por um lado, a vontade do Mesmo é uma negação e recusa da alteridade. Mas, por outro lado, o sujeito da vontade, na ekstasis da sua incorporação extática, não pode deixar de correr o risco de se expor à ameaça da alteridade. Para se lançar numa missão de conquista, é preciso abrir as portas da fortaleza ao que está para além das muralhas e ainda não foi conquistado. Além disso, na própria vontade de conquistar e incorporar os outros, na vontade de reivindicar os seus corpos exteriores como território próprio, expomo-nos inevitavelmente a um reconhecimento do traço de alteridade radical nos seus rostos, o traço dessa interioridade que sempre se afasta e resiste à conquista e à assimilação. Daí que, como diz Levinas  , haja "esta ambiguidade do poder voluntário, expondo-se aos outros no seu movimento centrípeto de egoísmo". A vontade quer o impossível: possuir os outros como outros; mas no momento em que consegue possuí-los, eles são despojados da sua alteridade. A vontade falha, portanto, mesmo quando consegue, e o seu movimento de auto-expansão inquieta deve continuar sem fim.

original

The fundamental (dis)attunement of willing is characterized, as we have seen, by a circular movement where the subject steps out and forcefully brings the other-than-itself back into the domain of his power. Levinas   speaks of this as the “reduction of the Other to the Same.” The will is a movement of reducing otherness to sameness, difference to identity, even when paradoxically this has the alienating effect of solidifying dichotomies. The subject of will alienates himself from others, even when — or precisely because — he attempts to forcefully bring them back into his own domain. On the one hand, the will to the Same is a denial and refusal of alterity. On the other hand, however, the subject of will, in the ekstasis of his ecstatic-incorporation, cannot help but run the risk of exposing himself to the threat of otherness. In order to embark on a mission of conquest, the fortress gates must be opened to that which lies beyond the walls and is not yet conquered. Moreover, in the very will to conquer and incorporate others, the will to lay claim to their exterior bodies as one’s own territory, one inevitably exposes oneself to a recognition of the trace of radical alterity in their faces, the trace of that interiority which forever withdraws from and resists conquest and assimilation. Hence, as Levinas   puts it, there is “this ambiguity of voluntary power, exposing itself to the others in its centripetal movement of egoism.” [1] The will wants the impossible: to possess others as other; but the moment it succeeds in possessing them, they are stripped of their otherness. The will therefore fails even when it succeeds, and its movement of restless self-expansion must continue without end.

DAVIS, B. W. Heidegger and the will: on the way to Gelassenheit. Evanston, Ill: Northwestern Univ. Press, 2007.


Ver online : Bret Davis


[1Emmanuel Levinas, Totality and Infinity, trans. Alphonso Lingis (Pittsburgh: Duquesne University Press, 1969), 229-30. While my own reading of the problem of the will in Heidegger has no doubt been to some extent influenced by Levinas’s thought, in particular by the rigor of his attempt to think — or to mark the limits of thought in the face of — the radically Other which resists and exposes the egoism of the will, I cannot here take up his complex and critical relation to Heidegger. (To begin with, see Jacques Derrida, “Violence and Metaphysics: An Essay on the Thought of Emmanuel Levinas,” in Writing and Difference, trans. Alan Bass [Chicago: University of Chicago Press, 1978], esp. 134ff., and chapter 9 below.) In the context of Levinas’s thought, one question that would need to be asked is whether his idea of “radical passivity,” more passive than a passivity opposed to activity, ultimately twists free of the very horizon of this dichotomy. For some discussion in this regard, see John Llewelyn, The Middle Voice of Ecological Conscience: A Chiasmic Reading of Responsibility in the Neighborhood of Levinas, Heidegger, and Others (New York: St. Martin’s, 1991); and Thomas Carl Wall, Radical Passivity: Levinas, Blanchot, and Agamben (Albany: SUNY Press, 1999).