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Birault (1978:37) – ter-sido e passado
domingo 29 de setembro de 2024
Ser é sempre ser ainda; ser é sempre já ser. Sobre o fundo do ter-de-ser se alinha o ter-sido. Ter-sido não é o passado ou a preterição do passado. Heidegger chama o passado da temporalidade nivelada de das Vergangene. O ter-sido da temporalidade extática, por outro lado, é das Gewesene. Como só pode ocorrer a partir do futuro, o ter-sido, no ser recolhido de sua presença, está diante de nós antes de estar atrás de nós. O passado é passado, o passado não é mais, o ter-sido ainda é… Somente o ser que é também deve ter sido. Aquele que não é mais não foi. Na verdade, ele nem mesmo tem um passado. Com ele e como ele, o passado foi abolido ou aniquilado: o passado não é enquanto ser-passado.
Já ser sempre não é ter sido desde sempre. Ter sempre que ser também não é ser para sempre. Promoção existencial do ainda e do já. A permanência da existência não é a permanência da vida: nela não há vestígio de nascimento nem premonição de morte. A existência não nega o início ou o fim da vida, ela simplesmente os ignora. Além disso, ela mesma funda essa ignorância. De fato, é porque em seu próprio ser ele sempre já é, que o homem não pode ser contemporâneo de seu nascimento. É porque, em seu próprio ser, ele ainda tem que ser, que o homem não pode ser contemporâneo de sua morte. Inevitavelmente, o sempre-já e o sempre-ainda dão origem a uma dupla impotência diante do nascimento e da morte: o nascimento sempre irrecuperável, a morte sempre oculta.
Ver online : Henri Birault