Birault (1978:35) – O ser, como um poder possibilitador e desejante, é o possível

Ser é tempo, tempo é ser. Por meio dessa identidade, o ser perde seu peso, torna-se mais leve ou irrealizado. O ser não é mais pensado em termos de realidade; o ser emigra da realidade em direção à possibilidade. Uma nova figura de possibilidade — a mais antiga e apagada — é descoberta. Em uma fórmula quase intraduzível, a Carta sobre o humanismo diz: “Das Sein als das Vermögend-Mögende ist das Mögliche” [GA9  :CartaH]. Transposição simples, aproximação simples: “O ser, como um poder possibilitador e desejante, é o possível”.

Temporalização do possível, possibilização do tempo. Todas as definições e determinações do ser devem estar relacionadas ao tempo, porque na verdade elas procedem dele. Considerado em sua transcendência ou em sua extaticidade original, o tempo também é das “Mögliche”, o “possível”, die “stille Kraft” des Möglichen, a “força calma” do possível. Das Mögliche vem de mögen, que significa tanto ser capaz quanto querer, amar e desejar. Die stille Kraft é a virtude, a graça ou o favor que só permite que você seja… Como um poder que permite e deseja, o tempo poderia ser chamado de cavaleiro. Ele evoca o aditivo ou o adjunto, o advento e a conveniência, o que acontece e o que convém, o que agrada ou é agradável, o que ama ou é amável. É assim que o ser e o tempo se apaixonam pelas coisas: as desejam, as amam, lhes dão ser ou essência… E é assim que são eles mesmos e são como são.