Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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poesia

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Poesie, Dichtung  

A POESIA de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única POESIA, dizendo-a sempre a cada vez. Do lugar da POESIA emerge a onda que a cada vez movimenta o dizer como uma saga poética. Longe de abandonar o lugar da POESIA, a onda que emerge permite que toda a movimentação do dizer seja reconduzida para a origem sempre mais velada. Como fonte da onda em movimento, o lugar da POESIA abriga a essência velada do que a representação estética e metafísica apreende de imediato como ritmo.

Como essa única POESIA está sempre impronunciada, só podemos fazer uma colocação acerca de seu lugar, quando tentamos mostrar o lugar a partir do que se diz em cada poema isolado. [GA12MSC:28]


O dizer do pensamento vem do silêncio longamente guardado e da cuidadosa clarificação do âmbito nele aberto. De igual origem é o nomear do poeta. Mas, pelo fato de o igual somente ser igual enquanto é distinto, e o poetar e o pensar terem a mais pura igualdade no cuidado da palavra, estão ambos, ao mesmo tempo, maximamente separados em sua essência. O pensador diz o ser. O poeta nomeia o sagrado. Não podemos analisar aqui, sem dúvida, como, pensado a partir do acontecimento Mesen) do ser, o poetar e o reconhecer e o pensar estão referidos um ao outro e ao mesmo tempo separados. Provavelmente o reconhecer e o poetar se originam, ainda que de maneira diversa, do pensamento originário que utilizam, sem, contudo, poderem ser, para si mesmos, um pensamento.

Conhecemos, é claro, muita coisa sobre a relação entre filosofia e POESIA. Não sabemos, porém, do diálogo dos poetas e dos pensadores que "moram próximos nas montanhas mais separadas".

Um dos lugares fundamentais em que reina a indigência da linguagem é a angústia, no sentido do espanto, no qual o abismo do nada dispõe o homem. O nada, enquanto o outro do ente, é o véu do ser. No ser já todo o destino do ente chegou originariamente à sua plenitude.

A última POESIA do último poeta da Grécia antiga, Édipo em Colonos, de Sófocles  , encena com a palavra que incompreensivelmente se volta sobre a oculta história deste povo e conserva seu começo na ignota verdade do ser:

All’apopayete med’epì pleío
threnon egeírete
pantós gàr ékhei tilde kyro.

"Mas agora cessai e nunca mais para o futuro
O lamento suscitai;
Pois, em todos os quadrantes, o que aconteceu retém junto a si
Guardada uma decisão de plenitude." [MHeidegger POSFACIO]