Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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pensamento do ser

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Em que relação, porém, se acha o pensamento do Ser com o comportamento teórico e prático? Ele ultrapassa qualquer consideração, por se ocupar da luz na qual se pode mover e manter a visão da teoria. O pensamento se atém à clareira do Ser, inserindo seu dizer do Ser na linguagem, como a habitação da ec-sistência. Assim o pensamento é um atuar. Mas um atuar que, ao mesmo tempo, ultrapassa toda prática. O pensamento não supera o operar e produzir pela magnitude de sua eficiência nem pelas consequências de sua eficácia (Wirken  ) mas pela pouca monta (das Geringe) de seu con-sumar (voll-bringen  ), desprovido de efeito e sucesso.

Em seu dizer, o pensamento eleva apenas à linguagem a palavra impronunciada do Ser. A expressão, "elevar à linguagem", deve ser tomada aqui em seu sentido rigorosamente literal. Clareando-se, o Ser chega à linguagem. Ele está sempre a caminho da linguagem. Assim a linguagem é elevada à clareira do Ser. Somente assim a linguagem é naquele modo misterioso, que nus atravessa sempre com seu vigor. É na medida em que a linguagem, levada, destarte, à plenitude de sua Essência, for Histórica, que o Ser se conserva na memória (Andenken  ). É pensando, que a ec-sistência habita a casa do Ser. E tudo isso se dá, como se nada houvesse acontecido com o dizer do pensamento.

Há pouco se nos mostrou um exemplo dessa atuação invisível (unscheinbar) do pensamento. Pois, ao pensarmos, propriamente, a expressão, "elevar à linguagem", — só isso e nada mais — que foi destinada para a linguagem, ao retermos o que aí se pensa, sob a guarda do dizer como o que no por-vir há de se pensar sempre, elevamos à linguagem algo da Essência do próprio Ser.

O estranho no pensamento do Ser é a simplicidade. É precisamente essa que nos afasta dele. Pois estamos acostumados a procurar o pensamento, que, com o nome de "Filosofia", alcançou prestigio na História do mundo, na forma de algo tão incomum que só é accessível a iniciados. Ao mesmo tempo concebemos o pensamento segundo o conhecimento científico e seus esforços de pesquisas. Medimos a atuação pela eficiência impressionante e bem sucedida na prática. Ora, a atuação do pensamento não é nem teórica nem prática, nem tampouco a conjugação cie ambas as atitudes.

Devido à sua Essência simples, o pensamento se torna para nós irreconhecível. Todavia, se nos familiarizarmos com o que é simples, a que não somos habituados, logo nos assalta uma outra dificuldade (Bedraengnis). Cresce a suspeita de que o pensamento do Ser sucumbe à arbitrariedade uma vez que ele não se pode ater ao ente. Donde então retira o pensamento sua medida e seu critério? Qual é a lei de sua atuação? [CartaH]


O PENSAMENTO DO SER não procura apoio no ente. O pensamento essencial presta atenção aos lentos sinais do que não pode ser calculado e nele reconhece o advento do inelutável, que não pode ser antecipado pelo pensamento. Este pensamento está atento à verdade do ser e auxilia, desta maneira, o ser da verdade para que encontre seu lugar na humanidade historial. O auxilio que este pensamento presta não provoca sucessos porque não precisa de repercussão. O pensamento essencial auxilia com sua simples in-sistência no ser-aí na medida em que nela se desencadeia o que lhe é semelhante, sem que ela, entretanto, disso pudesse dispor ou mesmo apenas saber. MHeidegger: QUE É METAFÍSICA?
O pensamento, dócil à voz do ser, procura encontrar-lhe a palavra através da qual a verdade do ser chegue à linguagem. Apenas quando a linguagem do homem historial emana da palavra, está ela inserida no destino que lhe foi traçado. Atingido, porém, este equilíbrio em seu destino, então lhe acena a garantia da voz silenciosa de ocultas fontes. O PENSAMENTO DO SER protege a palavra e cumpre nesta solicitude seu destino. Este é o cuidado pelo uso da linguagem. O dizer do pensamento vem do silêncio longamente guardado e da cuidadosa clarificação do âmbito nele aberto. De igual origem é o nomear do poeta. Mas, pelo fato de o igual somente ser igual enquanto é distinto, e o poetar e o pensar terem a mais pura igualdade no cuidado da palavra, estão ambos, ao mesmo tempo, maximamente separados em sua essência. O pensador diz o ser. O poeta nomeia o sagrado. Não podemos analisar aqui, sem dúvida, como, pensado a partir do acontecimento Mesen) do ser, o poetar e o reconhecer e o pensar estão referidos um ao outro e ao mesmo tempo separados. Provavelmente o reconhecer e o poetar se originam, ainda que de maneira diversa, do pensamento originário que utilizam, sem, contudo, poderem ser, para si mesmos, um pensamento. MHeidegger: QUE É METAFÍSICA?
O desenvolvimento desta questão pela preleção que segue desemboca, por sua vez, numa pergunta. Ela se chama a questão fundamental da metafísica e diz: Por que é afinal ente e não muito antes Nada? Discutiu-se, entretanto, muito sobre a angústia e o nada que foram abordados na prelação. Mas ninguém teve a ideia de meditar por que a preleção que procura pensar, partindo do pensamento da verdade do ser, no nada, e [86] a partir deste, na essência da metafísica, considera a questão formulada como a questão fundamental da metafísica. Será que isto não poria na cabeça de algum ouvinte atento uma suspeita mais grave que todo o zelo contra a angústia e o nada? Pela questão final vemo-nos colocados diante da suspeita de que uma reflexão que procura pensar o ser, seguindo o caminho do nada, retorne no fim novamente a uma questão sobre o ente. Na medida em que esta questão, ainda no estilo tradicional de questionar da metafísica, pergunta causalmente conduzida pelo "porque", o PENSAMENTO DO SER é totalmente negado em favor do conhecimento representados do ente a partir do ente. Para acúmulo de tudo, a questão final é, sem dúvida, aquela que o metafísico Leibniz   formulou em seu Principes de la Nature e de la Grace: "Pourquoi il y a plutôt quelque chose que rien?" (Edição Gerhardt, tomo VI, 602, número 7). MHeidegger: O RETORNO AO FUNDAMENTO DA METAFÍSICA
É no PENSAMENTO DO SER que a libertação do homem para a ek-sistência, libertação que funda a história, alcança a sua palavra. A palavra não é, em primeiro lugar, a "expressão" de uma opinião  , mas é constantemente já a articulação protetora da verdade do ente em sua totalidade. O número daqueles que entendem esta palavra pouco importa. A qualidade dos que podem prestar atenção a ela decide da posição do homem na história. Mas, neste mesmo momento da história do mundo em que começa a filosofia, começa também a dominação expressa do senso comum (da sofística). MHeidegger: SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE
"… ao pensarmos desta maneira em nós, captamos com isto, ao mesmo tempo, o PENSAMENTO DO SER, da substância, do simples ou do composto, do imaterial, sim, até de Deus mesmo, ao representarmos que aquilo que em nós está presente nele é contido sem limites" (via eminential). MHeidegger: A DETERMINAÇÃO DO SER DO ENTE SEGUNDO LEIBNIZ
No fim da sessão foi lida uma carta de Heidegger a ser publicada no livro de Richardson  , Heidegger - O Caminho através da Fenomenologia para Pensamento do Ser. Esta carta, que responde sobretudo a duas questões - a) qual foi o primeiro impulso que determinou seu pensamento e b) a questão da viravolta -, clarificou as conexões que estão na base do texto comentado, o qual percorre o caminho de Ser e Tempo   para Tempo e Ser, e daí para o Ereignis  . MHeidegger: PROTOCOLO DO SEMINÁRIO SOBRE A CONFERÊNCIA "TEMPO E SER"