Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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homem e ser

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Mensch   und Sein  

Se compreendermos o pensar como a característica do homem, então refletimos sobre um comum-pertencer [Zusammengehören] que se refere a HOMEM E SER. No mesmo instante nos surge a questão: que significa ser? Quem ou o que é o homem? Qualquer um vê facilmente que, sem a suficiente resposta a estas perguntas falta-nos o chão em que possamos decidir algo seguro sobre o comum-pertencer de HOMEM E SER. Contudo, enquanto questionarmos desta maneira ficamos presos à tentativa de representar a comunidade de HOMEM E SER como uma integração e de dispor esta ou a partir do homem ou a partir do ser e assim explicitá-la. Nisto os conceitos tradicionais de HOMEM E SER formam os pontos de apoio para a integração de ambos. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

E que seria se nós, em vez de continuamente representarmos uma coordenação de ambos, para refazer sua unidade, prestássemos uma vez atenção se e como nesta comunidade está, antes de tudo, em jogo um recíproco-pertencer [Zu-einander-Gehören  ]? Existe até a possibilidade de entrever, ainda que a distância, o comum-pertencer de HOMEM E SER já na determinação tradicional de sua essência. Até que ponto? MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Homem e ser estão entregues reciprocamente um ao outro como propriedade. Pertencem um ao outro. Deste pertencer-se reciprocamente HOMEM E SER receberam, antes de tudo, aquelas determinações de sua essência, nas quais foram compreendidas metafisicamente pela filosofia. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Este preponderante comum-pertencer de HOMEM E SER é por nós teimosamente ignorado enquanto tudo representarmos em sequências e mediações, seja com ou sem dialética. Então encontramos apenas encadeamentos que ou são urdidos por iniciativa do ser ou do homem e apresentam o comum-pertencer de HOMEM E SER como entrelaçamento. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Assim, pois, torna-se necessário um salto para se experimentar o comum-pertencer de HOMEM E SER, propriamente. Este salto é a subitamente da entrada não mediada naquele pertencer cuja missão é dispensar uma reciprocidade de HOMEM E SER e instaurar a constelação de ambos. O salto é a súbita penetração no âmbito a partir do qual HOMEM E SER desde sempre atingiram juntos a sua essência, porque ambos foram reciprocamente entregues como propriedade a partir de um gesto que dá. A penetração no âmbito desta entrega como propriedade dis-põe e harmoniza a experiência do pensar. Estranho salto, que provavelmente nos convencerá que ainda não nos demoramos bastante ali, onde propriamente já estamos. Onde estamos nós? Em que constelação de ser e homem? MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Hoje, ao menos assim parece, não necessitamos mais, como ainda há alguns anos, de indicações detalhadas para descobrimos a constelação na qual HOMEM E SER se interpelam mutuamente. Basta, assim se gostaria de crer, citar a palavra era atômica para fazer saber como o ser se presenta a nós hoje, no universo da técnica. Mas será permitido identificarmos, sem mais, o universo técnico com o ser? Manifestamente não, também não quando representamos este mundo como a totalidade em que se fundem energia atômica, planificação calculadora do homem e automatização. Por que uma referência desta natureza ao mundo técnico, por mais amplamente que o analise, não é absolutamente capaz de abrir os olhos para a constelação de ser e homem? Porque toda análise da situação não atinge o objetivo, na medida em que a mencionada totalidade do universo técnico é interpretada antecipadamente a partir do homem, como obra sua. O técnico, representado no sentido mais amplo e segundo suas múltiplas manifestações, é considerado como o plano que o homem projeta; este plano finalmente o força a decidir entre tornar-se escravo de seu plano ou permanecer senhor dele. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Aquilo, em que e de onde o HOMEM E SER se defrontam reciprocamente no universo da técnica, interpela à maneira do arrazoamento. No recíproco confronto de HOMEM E SER ouvimos a interpelação que determina a constelação de nossa época. O arrazoamento nos agride diretamente em toda parte. O arrazoamento é, caso ainda nos seja permitido falar assim, mais real(m)ente que todas as energias atômicas e toda a maquinaria, mais real(m)ente que a violência da organização, informação e automatização. Pelo fato de não encontrarmos mais no horizonte da representação, que nos permite pensar o ser do ente como presença, aquilo que se designa arrazoamento – o arrazoamento não mais nos aborda como algo presente – , é ele algo estranho. Antes de tudo, porém, o arrazoamento permanece estranho na medida em que não é algo último, mas em que ele mesmo algo nos comunica que perpasse propriamente a constelação de ser e homem. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

O comum-pertencer de HOMEM E SER ao modo da recíproca provocação nos faz ver, de uma proximidade desconcertante, o fato e a maneira como o homem está entregue como propriedade ao ser e como o ser é apropriado ao homem. Trata-se de simplesmente experimentar este ser próprio de, no qual HOMEM E SER estão reciprocamente a-propriados, experimentar que quer dizer penetrar naquilo que digamos acontecimento-apropriação. A palavra acontecimento-apropriação é tomada da linguagem natural. "Er-eignen" (acontecer) significa originariamente: "er-äugnen", quer dizer, descobrir com o olhar, despertar com o olhar, apropriar. A palavra acontecimento-apropriação deve, agora, pensada a partir da coisa apontada, falar como palavra-guia a serviço do pensamento. Como palavra-guia assim pensada, ela se deixa traduzir tão pouco quanto a palavra-guia grega logos   ou a chinesa Tao. A palavra acontecimento-apropriação não significa mais aqui aquilo que em geral chamamos qualquer acontecimento, uma ocorrência. A palavra é empregada agora como singulare tantum. Aquilo que designa só se dá no singular, no número da unidade, ou nem mesmo num número, mas unicamente. O que no arrazoamento, como constelação de ser e homem, experimentamos através do moderno universo da técnica, é um prelúdio daquilo que se chama acontecimento-apropriação. Este, contudo, não permanece necessariamente em seu prelúdio. Pois no acontecimento-apropriação fala a possibilidade de ele poder superar e realizar em profundidade o simples imperar do arrazoamento num acontecer mais originário. Uma tal superação e aprofundamento do arrazoamento, partindo do acontecimento-apropriação e nele penetrando, traria a redenção historial – portanto, jamais unicamente factível pelo homem – do universo técnico, de sua ditadura, para pô-lo a serviço no âmbito através do qual o homem encontra mais.autenticamente o caminho para o acontecimento-apropriação. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Para onde conduziu o caminho? Para a entrada de nosso pensamento naquele elemento simples que designamos no rigoroso sentido verbal o acontecimento-apropriação. Parece que agora corremos o risco de orientarmos, com demasiada despreocupação, nosso pensamento para algum vago universal distante, enquanto com aquilo que quer designar a palavra acontecimento-apropriação somente dirige seu imediato apelo para nós o mais próximo daquele próximo em que já estamos repousando. Pois o que poderia ser mais próximo de nós que aquilo que nos aproxima daquilo a que pertencemos, aquilo em que somos dóceis participantes, o acontecimento-apropriação? O acontecimento-apropriação é o âmbito dinâmico em que HOMEM E SER atingem unidos sua essência, conquistam seu caráter historial, enquanto perdem aquelas determinações que lhes emprestou a metafísica. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

O acontecimento-apropriação apropria HOMEM E SER em sua essencial comunidade. Um primeiro e embaraçoso clarão do acontecimento-apropriação descobrimos no arrazoamento. Este constitui a essência do universo moderno da técnica. No arrazoamento entrevemos um comum-pertencer de HOMEM E SER, em que o deixar pertencer primeiramente determina a espécie de comunidade e sua unidade. Acompanhou-nos na questão pelo comum-pertencer, em que o pertencer tem prioridade sobre a comunidade, o dito de Parmênides  : "Pois o mesmo é tanto pensar como ser". A questão do sentido deste mesmo é a questão da essência da identidade. A doutrina da metafísica apresenta a identidade como um traço fundamental no ser. Mas agora se mostra: ser com o pensar faz parte de uma identidade, cuja essência brota daquele comum-pertencer que designamos acontecimento-apropriação. A essência da identidade é uma propriedade do acontecimento-apropriação. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Caso, em nosso ensaio de conduzir nosso pensamento ao lugar de origem da essência da identidade, algo tiver consistência, que terá acontecido com o título da conferência? O sentido do título "O princípio da Identidade" se teria transformado. O princípio se apresenta primeiro na forma de um primeiro princípio que pressupõe a identidade como um traço no ser, quer dizer, no fundamento do ente. Este princípio no sentido de um enunciado transformou-se a caminho num princípio que é uma espécie de salto que, distanciando-se do ser como fundamento do ente, salta no abismo (sem-fundamento). Mas este abismo não é nem o nada vazio nem o negro caos, mas: o acontecimento-apropriação. No acontecimento-apropriação vibra a essência daquilo que a linguagem fala, a linguagem que certa vez designamos como a casa do ser. Princípio da identidade diz agora: um salto exigido pela essência da identidade porque dele necessita, se, entretanto, o comum-pertencer de HOMEM E SER for destinado a alcançar a luz essencial do acontecimento-apropriação. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

O pensamento se transformou a caminho desde o princípio como uma enunciação sobre a identidade para o princípio como salto para dentro da origem essencial da identidade. Por isso o pensamento descobre, encarando o presente, além da situação do homem, a constelação de ser e homem, a partir daquilo que a ambos apropria numa comunidade, a partir do acontecimento-apropriação. Supondo que nos aguarde a possibilidade de que o arrazoamento, recíproca provocação de HOMEM E SER para o cálculo do que é calculável, nos convoque e se nos explicite como acontecimento-apropriação que desapropria HOMEM E SER entregando-os àquilo que lhes é próprio, então estaria livre o caminho em que o homem experimenta de maneira mais originária o ente, a totalidade do moderno universo da técnica, da natureza e da história, e, antes de todos, o ser deles. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA

Mas ainda menos nos é permitido perseguir a ideia de que o universo da técnica é de tal espécie que impede absolutamente dele nos libertarmos. Esta opinião  , possuída pelo que é atual, tem-no como o unicamente real. Esta convicção é, aliás, fantástica; mas, pelo contrário, não o é um pensamento precursor, que encara com esperança aquilo que vem em nosso encontro como o apelo da essência da identidade de HOMEM E SER. MHeidegger: IDENTIDADE E DIFERENÇA