Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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fala

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

Sprechen  , Sprache, Rede  

O homem FALA. Falamos quando acordados e em sonho. Falamos continuamente. Falamos mesmo quando não deixamos soar nenhuma palavra. Falamos quando ouvimos e lemos. Falamos igualmente quando não ouvimos e não lemos e, ao invés, realizamos um trabalho ou ficamos à toa. Falamos sempre de um jeito ou de outro. Falamos porque FALAr nos é natural. Falar não provém de uma vontade especial. Costuma-se dizer que por natureza o homem possui linguagem. Guarda-se a concepção de que, à diferença da planta e do animal, o homem é o ser vivo dotado de linguagem. Essa definição não diz apenas que, dentre muitas outras faculdades, o homem também possui a de FALAr. Nela se diz que a linguagem é o que faculta o homem a ser o ser vivo que ele é enquanto homem. Enquanto aquele que FALA, o homem é: homem. Essas palavras são de Wilhelm von Humboldt  . Mas ainda resta pensar o que se chama assim: o homem.

O que significa FALAr [sprechen]? Segundo a opinião corrente: a FALA é uma atividade dos órgãos que servem para a emissão de sons e para a escuta. Fala é expressão e comunicação sonora de movimentos da alma humana. Esses movimentos são acompanhados por pensamentos. De acordo com essa caracterização da linguagem sustentam-se três posições:

Considera-se, primeiro e sobretudo, que FALA é expressão. A representação da linguagem como expressão é a mais habitual. Pressupõe a ideia de um interior que se exterioriza. A representação mais exterior à linguagem a considera como expressão e isso precisamente quando se explica a expressão pelo recurso de uma interioridade.

Considera-se, em segundo lugar, que FALAr é uma atividade humana. Nesse sentido, devemos dizer que o homem FALA, e que ele sempre FALA uma língua. Então não podemos dizer: a linguagem FALA. Pois isso significaria que é a linguagem que propicia e con-cede o homem. Assim pensado, o homem seria uma promessa da linguagem.

Considera-se, por fim, que a expressão do homem é uma representação e apresentação do real e do irreal.

A linguagem FALA. O que acontece com essa sua FALA? Onde encontramos a FALAda linguagem? Sobremaneira no que se diz. No dito, a FALA se consuma, mas não acaba. No dito, a FALA se resguarda. No dito, a FALA recolhe e reúne tanto os modos em que ela perdura como o que pela FALA perdura — seu perdurar, seu vigorar, sua essência. Contudo, na maior parte das vezes e com frequência, o dito nos vem ao encontro como uma FALA que passou.

Se devemos buscar a FALA da linguagem no que se diz, faríamos bem em encontrar um dito que se diz genuinamente e não um dito qualquer, escolhido de qualquer modo. Dizer genuinamente é dizer de tal maneira que a plenitude do dizer, própria ao dito, é por sua vez inaugural. O que se diz genuinamente é o poema. Deixemos essa frase soar, por enquanto, como simples asserção. Precisamos agir assim, caso seja possível escutar num poema o que se diz genuinamente. Mas que poema é capaz de nos FALAr? Agora só temos uma escolha, assegurada contra qualquer arbitrariedade. O que confere essa segurança? O que já está sendo pensado como a essência da linguagem quando pensamos desde a FALA da linguagem. Seguindo essa condição, escolheremos como o que se diz genuinamente um poema, que mais do que outros pode nos ajudar a dar os primeiros passos na experiência do condicionante dessa condição. [GA12MSC:7-12]


Falamos a linguagem. Que outra proximidade da linguagem possuímos senão a FALA? Mesmo assim, nossa relação com a linguagem mantém-se indeterminada, obscura, quase indizível. Refletindo sobre essa estranha conjuntura, dificilmente conseguimos evitar a impressão de estranheza e incompreensibilidade que acompanha uma tal observação. Por isso, é indispensável perdermos o hábito de só ouvir o que já compreendemos. Esse conselho não vale apenas para cada ouvinte em particular. Vale sobremaneira para aquele que pretende FALAr sobre a linguagem e isso ainda mais quando essa FALA tem a intenção de mostrar possibilidades que nos permitam atentar para a linguagem e para a nossa relação com a linguagem [Sprache]. [GA12MSC:122]