Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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aparecer

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

O utensílio sacrificial não se deve, porém, apenas à prata. No cálice, o que se deve à prata aparece na figura de cálice e não de um broche ou anel. O utensílio do sacrifício deve também o que é ao perfil (eidos  ) de cálice. Tanto a prata, em que entra o perfil do cálice, como o perfil, em que a prata aparece, respondem, cada uma, a seu modo, pelo utensílio do sacrifício. [GA7  , pag. 14]

O ourives reflete e recolhe numa unidade os três modos mencionados de responder e dever. Refletir diz, em grego, legein  , logos. Funda-se no apophainestai, no fazer APARECER. O ourives é também responsável, como aquilo de onde parte e que preserva o apresentar-se e repousar em si do cálice sacrificial. Os três modos anteriores de responder devem à reflexão do ourives o fato e o modo em que eles aparecem e entram no jogo de pro-dução do cálice sacrificial. [GA7, pag. 15]

Para nos precavermos dos mal-entendidos acima mencionados sobre o que é dever e responder, tentemos esclarecer seus quatro modos, a partir daquilo pelo que respondem. Segundo o exemplo dado, eles respondem pelo dar-se e propor-se do cálice, como utensílio sacrificial. Dar-se e propor-se (hipokeistai) designam a vigência de algo que está em vigor. É que os quatro modos de responder e dever levam alguma coisa a APARECER. Deixam que algo venha a viger. [GA7, pag. 15]

Onde, porém, se joga o jogo de articulação dos quatro modos de deixar-viger? Eles deixam chegar à vigência o que ainda não vige. Com isto, são regidos e atravessados, de maneira uniforme, por uma condução que conduz o vigente a APARECER. Platão   nos diz o que é essa condução numa sentença do Banquete (205b): (citação em grego) "Todo deixar-viger o que passa e procede do não-vigente para a vigência é poiesis  , é pro-dução". [GA7, pag. 16]

Uma pro-dução, poiesis, não é apenas a confecção artesanal e nem somente levar a APARECER e conformar, poética e artisticamente, a imagem e o quadro. [GA7, pag. 16]

Assim, os modos do deixar-viger, as quatro causas, jogam no âmbito da pro-dução e do pro-duzir. É por força deste último que advém a seu aparecimento próprio, tanto o que cresce na natureza como também o que se confecciona no artesanato e se cria na arte. Mas como é que se dá e acontece a pro-dução e o pro-duzir, seja na natureza, seja no artesanato, seja na arte? O que é a pro-dução e o pro-duzir em que jogam os quatro modos de deixar-viger? O deixar-viger concerne à vigência daquilo que, na pro-dução e no pro-duzir, chega a APARECER e apresentar-se. [GA7, pag. 16]

A usina hidroelétrica posta no Reno dis-põe o rio a fornecer pressão hidráulica, que dis-põe as turbinas a girar, cujo giro impulsiona um conjunto de máquinas, cujos mecanismos produzem corrente elétrica. As centrais de transmissão e sua rede   se dis-põem a fornecer corrente. Nesta sucessão integrada de disposições de energia elétrica, o próprio rio Reno aparece, como um dis-positivo. A usina hidroelétrica não está instalada no Reno, como a velha ponte de madeira que, durante séculos, ligava uma margem à outra. A situação se inverteu. Agora é o rio que está instalado na usina. [GA7, pag. 20]

Que desencobrimento se apropria do que surge e aparece no pôr da exploração? Em toda parte, se dis-põe a estar a postos e assim estar a fim de tornar-se e vir a ser dis-ponível para ulterior disposição. [GA7, pag. 20]

Pois a força de ex-ploração, que reúne e concentra o desencobrimento da dis-posição, já está regendo a própria física, mesmo sem que apareça, como tal, em sua propriedade. [GA7, pag. 25]

A técnica moderna precisa utilizar as ciências exatas da natureza porque sua essência repousa na com-posição. Assim nasce a aparência enganosa de que a técnica moderna se reduz à aplicação das ciências naturais. Esta aparência apenas se deixa manter enquanto não se questionar, de modo suficiente, nem a proveniência da ciência moderna e nem a essência da técnica moderna. [GA7, pag. 26]

A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz APARECER o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho. [GA7, pag. 28]

Cresce a aparência de que tudo que nos vem ao encontro só existe à medida que é um feito do homem. Esta aparência faz prosperar uma derradeira ilusão, segundo a qual, em toda parte, o homem só se encontra consigo mesmo. [GA7, pag. 29]

A com-posição encobre, sobretudo, o desencobrimento, que, no sentido da poiesis, deixa o real emergir para APARECER em seu ser. Ao invés, o pôr da ex-ploração impele à referência contrária com o que é e está sendo. Onde reina a com-posição, é o direcionamento e asseguramento da dis-ponibilidade que marcam todo o desencobrimento. Já não deixam surgir e APARECER o desencobrimento em si mesmo, traço essencial da dis-ponibilidade. [GA7, pag. 30]

Pensemos esta palavra de Hölderlin   com todo o cuidado: o que significa "salvar"? Geralmente, achamos que significa apenas retirar, a tempo, da destruição o que se acha ameaçado em continuar a ser o que vinha sendo. Ora, "salvar" diz muito mais. "Salvar" diz: chegar à essência, a fim de fazê-la APARECER em seu próprio brilho. [GA7, pag. 32]

Todo vigente dura. Mas será mesmo que só é duradouro o que perdura e permanece? Será mesmo que a essência da técnica vige no sentido da duração de uma ideia que paira acima de tudo que é técnico, a ponto de se formar a aparência: o termo "a técnica" é uma abstração mítica? Ora, só se pode perceber, como vige a técnica, pela continuidade da duração em que a com-posição se dá e acontece em sua propriedade, no envio de um descobrimento. [GA7, pag. 33]

De outro lado, a com-posição se dá, por sua vez, em sua propriedade na concessão que deixa o homem continuar a ser até agora sem experiência nenhuma mas talvez no porvir com mais experiência o encarecido pela verificação da essência da verdade. Nestas condições é que surge e aparece a aurora do que salva. [GA7, pag. 35]

Será, então, que um desencobrimento concedido de modo mais originário seria capaz de fazer APARECER, pela primeira vez, a força salvadora no meio do perigo que, na idade da técnica, mais encobre do que mostra? [GA7, pag. 36]