Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Taylor: eixos do pensamento moral

terça-feira 24 de dezembro de 2019

A “moralidade”, com efeito, pode ser e com frequência é definida tão-somente em termos do respeito aos outros. Considera-se que a categoria da [29] moral   abrange precisamente nossas obrigações para com as outras pessoas. Se, contudo, adotarmos essa definição, teremos de admitir que existem outras questões além da moral que são de essencial importância para nós e põem em jogo uma avaliação forte. Há questões sobre como vou levar minha vida que remetem ao aspecto de que tipo de vida vale a pena ter ou que tipo de vida vai cumprir a promessa implícita em meus talentos particulares, nas exigências incidentes sobre alguém com minha capacidade, ou do que constitui uma vida rica e significativa em contraposição uma vida voltada para questões secundárias ou trivialidades. Trata-se de interrogações de avaliação forte, visto que quem as faz não tem dúvida de que se possa, ao seguir os próprios anseios e desejos imediatos, dar um mau passo e, em consequência, fracassar na tarefa de levar uma vida plena. Para compreender nosso mundo moral, temos de ver não só que ideias e quadros descritivos subjazem a nosso sentido de respeito pelos outros, mas também aqueles que alicerçam nossas noções de uma vida plena. E, como veremos, essas não são duas ordens muito distintas de ideias. Existe uma sobreposição substancial, ou melhor, uma relação complexa na qual algumas das mesmas noções básicas ressurgem de maneira nova. Isso acontece de modo particular naquilo que chamei acima de afirmação da vida cotidiana.

Em termos gerais, poder-se-ia tentar discernir três eixos daquilo que se pode denominar, no sentido mais amplo, pensamento moral. Assim como os dois que acabamos de mencionar — nosso sentido de respeito pelos outros e de obrigação perante eles e nossos modos de compreender o que constitui uma vida plena —, há também a gama de noções relacionadas com a dignidade. Com isso, reporto-me às características mediante as quais pensamos em nós mesmos como merecedores (ou não-merecedores) do respeito das pessoas que nos cercam. Aqui, o termo “respeito” tem um significado ligeiramente distinto do que tinha acima. Não me refiro agora ao respeito a direitos, no sentido da não-violação, que podemos denominar respeito “ativo”, mas ao pensar bem de alguém, até mesmo admirá-lo, que é o que está implícito quando dizemos na linguagem comum que alguém tem nosso respeito. (Chamemos esse tipo de respeito de “atitudinal”.)

TAYLOR, Charles. As Fontes do Self. A construção da identidade moderna. Tr. Adail Ubirajara Sobral e Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Edições Loyola, 1997, p. 28-29


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