Sloterdijk (WIC) – ação sempre sem consciência

Pode-se obter uma visão das razões mais profundas para a hesitação da cultura de reflexão em estudar o mundo da ação, assim que se considera o quanto a sombra moral   lançada pela energia em seus tentáculos para o real cresce a cada exame radical da ação. Se tomarmos o informado poder de ação em seu crepúsculo intransponível como um fator básico, encontraremos uma autoridade na qual a diferenciação entre energia legítima e criminosa ainda não ocorreu. Qualquer pessoa que, com toda a seriedade, colocasse a "ação" no início, como o Fausto de Goethe  , inicialmente não teria nenhum critério para separar empreendimentos econômicos, expedições políticas, missões religiosas e criações artísticas com clareza suficiente do que normalmente está intimamente ligado a tais operações: crime. A separação dos atos costuma ser tarefa da historiografia, por mais que alguns perpetradores possam tentar colocar a avaliação de seus atos sob seu próprio controle. Ninguém que realmente age - seja Colombo, Pizarro, Napoleão ou Lênin - pode saber antes do ato se não pode ser considerado um tolo ou um criminoso depois de praticá-lo. A conhecida observação de Goethe de que quem age está sempre sem consciência resume essa situação. Os mais sérios entre os praticantes de atos tomaram isso como uma indicação da natureza trágica de toda ação verdadeira - não sem solicitar sua própria absolvição devido a circunstâncias supralegais. Eles se juntaram logo no início a uma categoria de perpetradores que comunicaram com franqueza o pouco que se preocupavam com tais incertezas; eles foram chamados de "blasfemadores" na linguagem do século XVIII, ou "aventureiros" em uma maneira de falar um pouco mais atemporal. Compreensivelmente, sua "prática" é ignorada pela filosofia prática, embora seja óbvio que este grupo frequentemente inclui aqueles agentes que giram a roda da modernização com mais energia.

One can gain insight into the deeper reasons for the hesitation of the culture of reflection to study the world of action as soon as one considers how much the moral shadow cast by energy in its reachings-out into the real grows with each radical examination of action. If one takes the informed power of action in its insurmountable twilight as a basic factor, one encounters an authority in which the differentiation between legitimate and criminal energy has not   yet taken place. Anyone who would, in all earnest, place the ‘deed’ at the beginning like Goethe’s Faust would initially lack any criteria to separate economic undertakings, political expeditions, religious missions and artistic creations with sufficient clarity from what is usually closely connected to such operations: crime. Separating the deeds is usually the business of historiography, as much as some perpetrators might attempt to bring the evaluation of their actions under their own control. No one who truly acts – be it Columbus, Pizarro, Napoleon or Lenin – can know before the deed whether they might not stand   as a fool or a criminal after carrying it out. Goethe’s well-known remark that someone who acts is always without conscience puts this situation   in a nutshell. The more serious among the doers of deeds took this as indicating the tragic nature of all true action – not without requesting their own acquittal due to supra-legal circumstances. They were joined early on by a category of perpetrators who communicated quite frankly how little they worried about such uncertainties; they were called ‘blasphemers’ in the language of the eighteenth century, or ‘adventurers’ in a slightly more timeless manner of speaking. Understandably, their ‘practice’ is ignored by practical philosophy, even though it is obvious that this group frequently includes those agents who turn the wheel of modernization most energetically.