Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Sartre e Heidegger – escolha

domingo 2 de agosto de 2020

Lendo Sartre   e Heidegger sobre a questão da "escolha", que se pode depreender?

"Nosso" ser, este aí-se-é [1], é escolha "originária". E esta escolha é no mais das vezes "impessoal" do "a-gente" [das Man  ] que escolhe papel e interpretação do si-mesmo em formato de "mim-mesmo" em atos-fatos. A consciência é a vidraça transparente à escolha pelo mim-mesmo ou pelo si-mesmo.

SARTRE

E, uma vez que nosso ser é precisamente nossa escolha originária, a consciência (de) escolha é idêntica à consciência que temos (de) nós. É preciso ser consciente para escolher, e é preciso escoIher para ser consciente. Escolha e consciência são uma só e mesma coisa. É o que muitos psicólogos pressentiram ao declarar que a consciência "é seleção". Mas, por não reduzir esta seleção a seu fundamento ontológico, eles permaneceram em um terreno em que a seleção aparecia como função gratuita de uma consciência, por outro lado, substancial. Em particular, é o que se poderia reprovar em Bergson  . Mas, estando bem estabelecido que a consciência é nadificação, compreende-se que ter consciência de nós mesmos e escolher-nos são a mesma coisa. [SARTRE, Jean-Paul, O Ser e o Nada. Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Tr. Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 569-570]

HEIDEGGER

« Perdido em a-gente já fica cada vez decidido o imediato poder-ser factual do Dasein   — as tarefas, as regras, as unidades de medida, a urgência e a amplitude do ser-no-mundo ocupado e preocupado-com-o-outro. A-gente apropriando-se dessas possibilidades-de-ser já as retirou sempre das mãos do Dasein. A-gente encobre mesmo a dispensa que ele em sigilo efetuou da escolha expressa dessas possibilidades. Permanece indeterminado quem “propriamente” escolhe. Esse ser arrastado sem escolha de ninguém pelo qual o Dasein se enreda na impropriedade só pode ser revertido se por si mesmo a partir da perda em a-gente o Dasein voltar a buscar-se a si mesmo. Retorno que, no entanto, deve ter o modo-de-ser cuja omissão fez que o Dasein se perdesse na impropriedade. A busca-de-si que retrocede a partir de a-gente, isto é, a modificação existencial de a-gente-ela-mesma para o ser-si-mesmo próprio, deve ser levada a cabo como um ir em busca de uma escolha. Mas ir em busca de uma escolha significa escolher essa escolha, decidir-se por um poder-ser a partir do próprio si-mesmo. No escolher a escolha, o Dasein se possibilita pela primeira vez o seu poder-ser próprio. » [HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo  . Edição em alemão e português. Tradução, organização, nota prévia, anexos e notas Fausto Castilho. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 735, 737]


Ver online : PODER-SER-SI-MESMO