Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Romano – Onde passou o passado?

domingo 3 de dezembro de 2023

tradução

Mas como é que estes filósofos justificam a tese de que o tempo pertence originalmente àquilo a que chamamos, à falta de um termo melhor, subjetividade, deixando de lado as diferenças - muitas vezes consideráveis - entre eles? Através de um argumento aparentemente simples, aquele que acabámos de enunciar: para que haja tempo, dizíamos, não basta que os fenômenos se sucedam, é preciso que essa sucessão possa aparecer, e para que isso aconteça é necessário que os momentos anteriores sejam retidos por uma consciência, mantidos presentes apesar de passados, ou melhor, como passados por um ato de memória. Se o passado se limitasse a passar, se não pudesse de modo algum permanecer ali, quase-presente, sob a luz da consciência, não haveria de fato passado, nem presente, nem sucessão de espécie alguma, não haveria tempo algum. O passado deve poder permanecer presente no presente sob a forma de um presente de-passado, para poder passar como passa e permanecer como permanece, deve poder negar o seu próprio ser passado para se conservar e se apresentar ao presente, para poder ser o que é: passado. Se o passado não estivesse algures, para nós, como que à mão, se não estivesse presente à sua maneira no "presente expandido" de uma consciência, nem sequer seria passado; ou, mais simplesmente: se o passado não estivesse presente de alguma maneira, nem sequer se poderia dizer que é passado: toda a sucessão seria abolida, e já nem sequer haveria tempo.

Todas as filosofias que acreditam poder pensar o tempo como um fenômeno originalmente subjetivo colocam a mesma questão: para onde foi o passado? Ou, dito de outro modo: como é que o passado está presente, ainda lá, no presente, permanecendo precisamente em si mesmo como passado? Se o passado é apenas passado, não há tempo nenhum; mas se o passado está inteiramente presente no presente, perde o seu próprio caráter de passado: tal é a aporia ou dupla impossibilidade que qualquer fenomenologia coerente do tempo tem de enfrentar, ao que parece.

Original

Mais comment ces philosophes justifient-ils la thèse d’une appartenance originaire du temps à ce que nous appelons, faute de mieux, la subjectivité, laissant ici de côté les différences - souvent considérables - qui les séparent? Par un argument simple en apparence, celui que nous énoncions à l’instant : pour qu’il y ait temps, disions-nous, il ne suffit nullement que des phénomènes se succèdent, il faut que cette succession elle-même puisse apparaître, et pour cela, il est nécessaire que les moments antérieurs soient retenus par une conscience, maintenus présents bien que passés, ou plutôt, en tant que passés par un acte de mémoire. Si le passé ne faisait que passer, s’il ne pouvait d’aucune manière demeurer là, quasi-présent, sous le jour d’une conscience, il n’y aurait, en vérité, ni passé, ni présent, ni succession d’aucune sorte, il n’y aurait pas du tout de temps. Le passé doit pouvoir rester présent dans le présent sous forme de présent dé-passé, pour pouvoir passer comme il passe et demeurer comme il demeure, il doit pouvoir nier son propre être-passé afin de se préserver et de se présenter lui-même au présent, afin de pouvoir être ce qu’il est : passé. Si le passé n’était là quelque part, pour nous, comme à portée de main, s’il n’était présent à sa manière dans le "présent élargi" d’une conscience, il ne serait pas même passé ; ou, plus simplement : si le passé n’était présent en quelque manière, il ne pourrait même pas être dit passé : tout succession serait abolie, et il n’y aurait plus même de temps.

C’est donc une seule et unique question qui scande toutes les philosophies qui croient pouvoir penser le temps comme un phénomène originairement subjectif : où est passé le passé? Ou, en d’autres termes : comment le passé est-il présent, encore là, dans le présent, tout en demeurant précisément en lui-même comme passé? Si le passé, en effet, n’est que passé, il n’y a plus du tout de temps ; mais si le passé est présent tout entier dans le présent, il perd son caractère même de passé : telle est l’aporie ou la double impossibilité que doit affronter, semble-t-il, toute phénoménologie cohérente du temps.

OÙ EST PASSÉ LE PASSÉ?


Ver online : CLAUDE ROMANO