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O VISÍVEL E O INVISÍVEL

Merleau-Ponty (2003:146-150) – ideia

O ENTRELAÇAMENTO - O QUIASMA

domingo 17 de maio de 2020, por Cardoso de Castro

As ideias musicais ou sensíveis, exatamente porque são negatividade ou ausência circunscrita, não são possuídas por nós, possuem-nos. Já não é o executante que produz ou reproduz a sonata; ele se sente e os outros sentem-se a serviço da sonata, é ela que através dele canta ou grita tão bruscamente que ele precisa “precipitar-se sobre seu arco” para poder segui-la.

Gianotti & Oliveira

Com a primeira visão, o primeiro contato, o primeiro prazer, há iniciação, isto é, não posição de um conteúdo, mas abertura de uma dimensão que não poderá mais vir a ser fechada, estabelecimento de um nível que será ponto de referência para todas as experiências daqui em diante. A ideia é este nível, esta dimensão, não é, portanto, um invisível de fato, como objeto escondido atrás de outro, não é um invisível absoluto, que nada teria a ver com o visível, mas o invisível deste mundo, aquele que o habita, o sustenta e torna visível, sua possibilidade interior e própria, o Ser desse ente. No instante em que se diz “luz”, no instante em que os músicos chegam à “pequena frase”, não há em mim lacuna alguma; o que vivo é tão “consistente”, tão “explícito” quanto um pensamento positivo — ou mesmo mais, um pensamento positivo é o que é, mas precisamente é só isso, e nesta medida não pode fixar-nos. Já a volubilidade do espírito o conduz alhures. As ideias musicais ou sensíveis, exatamente porque são negatividade ou ausência circunscrita, não são possuídas por nós, possuem-nos. Já não é o executante que produz ou reproduz a sonata; ele se sente e os outros sentem-se a serviço da sonata, é ela que através dele canta ou grita tão bruscamente que ele precisa “precipitar-se sobre seu arco” para poder segui-la. Estes turbilhões abertos no mundo sonoro soldam-se num só, onde as ideias se ajustam uma à outra. “Nunca a linguagem falada foi tão inflexivelmente necessidade, conheceu a tal ponto a pertinência das questões, a evidência das respostas.” [1] O ser invisível e, por assim dizer, frágil é o único capaz dessa textura cerrada. Há uma idealidade rigorosa nas experiências que são experiências da carne: os momentos da sonata, os fragmentos do campo luminoso, aderem um ao outro por uma coesão sem conceito, do mesmo tipo da que une as partes de meu corpo ou o meu corpo com o mundo. O meu corpo é coisa, ideia? Não é nem uma nem outra, sendo o mensurador de todas as coisas. Teremos, pois, que reconhecer [146] uma idealidade não estranha à carne, que lhe dá seus eixos profundidade, dimensões.

Ora, uma vez enleados neste estranho domínio, não vemos como seria possível sairmos dele. Se existe animação do corpo, se a visão e o corpo se encontram imbricados um no outro — se, correlativamente, a menor película do quale, superfície do visível, está em toda a sua extensão, forrada por uma reserva invisível — e se, finalmente, tanto na nossa carne como na das coisas, o visível atual, empírico, ôntico, através de uma espécie de dobramento, de invaginação, ou de estofamento, exibe uma visibilidade, uma possihilidade que não é sombra do atual, mas seu princípio, que não é achega de um “pensamento” mas sua condição, um estilo alusivo, elíptico, como todo estilo, e como todo estilo também inimitável, inalienável, horizonte interior e exterior, entre os quais o visível atual é uma compartimentação provisória, e que, contudo, abrem indefinidamente para outros visíveis, então a distinção imediata e dualista entre o visível e o invisível, a extensão e o pensamento, sendo rejeitadas, não porque a extensão seja pensamento e o pensamento extensão mas porque uma está para o outro como o avesso está para o direito, e para sempre colocada uma atrás do outro — certamente permanece ainda a dificuldade de saber como se instauram “as ideias da inteligência”, como é que se passa da idealidade de horizonte à idealidade “pura”, e por que milagre notoriamente se vem juntar à generalidade natural do meu corpo e do mundo uma generalidade criada, uma cultura, um conhecimento que retoma e retifica os do corpo e do mundo. Mas qualquer que seja o modo pelo qual a compreendamos (a idealidade cultural), ela já brota e se espalha nas articulações do corpo estesiológico, nos contornos das coisas sensíveis, e embora nova, desliza por vias que não abriu, serve-se do mistério fundamental destas noções “sem equivalente”, como diz Proust, que só levam na noite do espírito uma vida tenebrosa porque foram adivinhadas nas junturas do mundo visível. É demasiado cedo, agora, para esclarecermos esta superação que se processa no próprio local. Digamos somente que a idealidade pura não existe sem carne nem liberta das estruturas de horizonte: vive delas, embora se trate de outra carne e de outros horizontes. É como se a visibilidade que anima   o mundo sensível emigrasse, não para fora do corpo, mas para outro corpo menos pesado, mais transparente, como se mudasse de carne, abandonando a do corpo pela da linguagem, e assim se libertasse, embora sem emancipar-se inteiramente de toda condição. Por que não admitir — e isso Proust o sabia bem, disse-o algures — que tanto a linguagem como a [147] música podem, pela força dos seus próprios “arranjos”, sustentar um sentido, captá-lo nas suas malhas, e, que a linguagem faz isso sempre que aparece como linguagem conquistadora, ativa, criadora, sempre que alguma coisa é dita, em sentido forte; que tal como a notação musical é um facsímile proposto, retrato abstrato da entidade musical, a linguagem como sistema de relações explícitas entre signos e significados, sons e sentidos, é um resultado e produto da linguagem operante no sentido em que som e sentido estão na mesma relação que a “pequena frase” e as cinco notas que lhe encontramos pospostas? Isto não quer dizer que a notação musical, a gramática, a linguística e as “ideias da inteligência” — que são ideias adquiridas, disponíveis, honorárias — sejam inúteis, ou, como dizia Leibniz  , que o asno que vai direito à forragem saiba tanto quanto nós acerca das propriedades da linha reta, mas que o sistema de relações objetivas, as ideias adquiridas são como que tomadas numa vida e percepção segundas que fazem com que o matemático vá direito às entidades que ninguém viu ainda, que a linguagem e o algoritmo operantes usem uma visibilidade segunda e que as ideias sejam o outro lado da linguagem e do cálculo. Quando penso, as ideias animam a minha palavra interior, obsediam-na como a “pequena frase” possui o violinista, e permanecem além das palavras como a “pequena frase” além das notas, não porque resplandeçam debaixo de outro sol oculto para nós, mas porque as ideias são este afastamento, esta diferenciação nunca acabada, abertura sempre a refazer entre signo e signo, como a carne, dizíamos nós, é a deiscência do vidente em visível e do visível em vidente. E tal como meu corpo só vê porque faz parte do visível onde eclode, o sentido tomado pelo arranjo dos sons nele repercute. A língua para o linguista é um sistema ideal  , um fragmento do mundo inteligível. Mas, assim como não basta para que eu veja que o meu olhar seja visível para X, é necessário que seja visível para si próprio, por uma espécie de torção, de reviravolta ou de fenômeno especular, resultante do simples fato de eu ter nascido, do mesmo modo, se as minhas palavras possuem um sentido não é porque ofereçam essa organização sistemática que o linguista desvendará, mas porque essa organização, como o olhar, relaciona-se consigo mesma: a Fala operante é a região obscura de onde vem a luz instituída tal como a surda reflexão do corpo sobre si mesmo constitui aquilo que chamamos de luz natural. Assim como há uma reversíbilidade daquele que vê e daquilo que é visto, assim como no ponto em que se cruzam as duas metamorfoses nasce o que se chama de percepção, assim há, também, uma reversíbilidade da fala e do que ela significa; [148] a significação é o que vem selar, fechar, reunir a multiplicidade dos meios psíquicos, fisiológicos, linguísticos da elocução, contraí-los num ato único, como a visão termina o corpo estesiológico; e tal como o visível capta o olhar que o desvendou e que dele faz parte, repercute nos seus meios, a significação anexa a si a fala que se torna objeto de ciência, antedata-se por um movimento retrógrado, nunca completamente falho, porque já, ao abrir o horizonte do nomeável e do dizível, confessava a palavra ter aí o seu lugar, porque, nenhum locutor fala sem de antemão transformar-se em alocutório, ainda que apenas de si próprio, sem fechar com um só gesto o circuito de sua relação consigo e com os outros, e ao mesmo tempo instituir-se também como delocutório, fala de que se fala —: ele se oferece e oferece toda a fala a uma Palavra universal. Ser-nos-á preciso acompanhar mais de perto esta passagem do mundo mudo ao mundo falante. Por ora, queremos apenas observar que não se pode falar nem de destruição nem de conservação do silêncio (e ainda menos de uma destruição que conserve ou de uma realização que destrua, o que não é resolver mas tão-somente levantar o problema). Quando a visão silenciosa cai na fala e quando, por sua vez, a palavra, abrindo um campo nomeável e dizível, nele se inscreve, em lugar seu, segundo sua verdade, em suma, quando metamorfoseia as estruturas do mundo visível e se toma olbar do espírito, intuitus mentis, é sempre mercê do mesmo fenômeno fundamental de reversibilidade, que sustenta a percepção muda e a fala, e se manifesta tanto através de uma existência quase carnal da ideia quanto por uma sublimação da came. Num sentido, se explicitássemos completamente a arquitetônica do corpo humano, sua construção ontológica e como ele se vê e se ouve, veríamos que a estrutura de seu mundo é tal que todas as possibilidades da linguagem já lá se encontram. Desde logo a nossa existência de videntes, isto é, conforme há pouco afirmamos, de seres que “põem o mundo do avesso” e que passam para o outro lado e se entreveem, que veem pelos olhos uns dos outros, e sobretudo nossa existência de seres sonoros para os outros e para si próprios contém tudo o que é necessário para que, entre um e outro, exista fala, fala sobre o mundo. E, em certo sentido compreender uma frase não é coisa diferente de acolhê-la inteiramente em seu ser sonoro, ou, como se diz tão bem, de ouvi-la; o sentido não está na frase como manteiga na fatia de pão, qual segunda camada de “realidade psíquica” estendida por cima do som: o sentido é a totalidade do que se diz, a integral de todas as diferenciações da cadeia verbal, é dado com as palavras aos que possuem ouvidos para ouvir, E, reciprocamente, toda a paisagem é inundada pelas [149] palavras como por uma invasão, a paisagem é, a meu ver, uma variedade da fala, e falar de seu “estilo”, é usar uma metáfora. Em certo sentido, como diz Husserl  , a filosofia consiste em reconstituir uma potência de significar, um nascimento do sentido ou um sentido selvagem, uma expressão de experiência pela experiência que ilumina, precipuamente, o domínio especial da linguagem. E num sentido, como diz Valéry, a linguagem é tudo, pois não é a voz de ninguém, é a própria voz das coisas, ondas e florestas. E o que temos de compreender é que, de um a outro destes modos de encarar a linguagem, não há inversão dialética, não precisamos reuni-los numa síntese: ambos são dois aspectos da reversibilidade que é verdade última.

Original

Avec la première vision, le premier contact, le premier plaisir, il y a initiation, c’est-à-dire, non pas position d’un contenu, mais ouverture d’une dimension qui ne pourra plus être refermée, établissement d’un niveau par rapport auquel désormais toute autre expérience sera repérée. L’idée est ce niveau, cette dimension, non pas donc un invisible de fait, comme un objet caché derrière un autre, et non pas un invisible absolu, qui n’aurait rien à faire avec le visible, mais l’invisible de ce monde, celui qui l’habite, le soutient et le rend visible, sa possibilité intérieure et propre, l’Être de cet étant. À l’instant où l’on dit « lumière », à l’instant où les musiciens arrivent à la « petite phrase », il n’y a nulle lacune en moi ; ce que je vis est aussi « consistant », aussi « explicite », que pourrait l’être une pensée positive   – beaucoup plus même : une pensée positive est ce qu’elle est, mais, précisément, n’est que cela, et dans cette mesure elle ne peut nous fixer. Déjà la volubilité de l’esprit le mène ailleurs. Les idées musicales ou sensibles, précisément parce qu’elles sont négativité ou absence circonscrite, nous ne les possédons pas, elles nous possèdent. Ce n’est plus l’exécutant qui produit ou reproduit la sonate : il se sent, et les autres le sentent, au service de la sonate, c’est elle qui chante à travers lui, ou qui crie si brusquement qu’il doit « se précipiter sur son archet » pour la suivre. Et ces tourbillons ouverts dans le monde sonore n’en font enfin qu’un seul où les idées s’ajustent l’une à l’autre. « Jamais le langage parlé ne fut si inflexiblement nécessité, ne connut à ce point la pertinence des questions, l’évidence des réponses [2]] . » L’être invisible et, pour ainsi dire, faible est seul capable de cette texture serrée. Il y a une idéalité rigoureuse dans des expériences qui sont expériences de la chair : les moments de la sonate, les fragments du champ lumineux, adhèrent l’un à l’autre par une cohésion sans concept, qui est du même type que la cohésion des parties de mon corps, ou celle de mon corps et du monde. Mon corps est-il chose, est-il idée ? Il n’est ni l’un ni l’autre, étant le mesurant des choses. Nous aurons donc à reconnaître une idéalité qui n’est pas étrangère à la chair, qui lui donne ses axes, sa profondeur, ses dimensions. Or, une fois entré dans cet étrange domaine, on ne voit pas comment il pourrait être question d’en sortir. S’il y a une animation du corps, si la vision et le corps sont enchevêtrés l’un à l’autre, – si, corrélativement, la mince pellicule du quale, la surface du visible, est, sur toute son étendue, doublée d’une réserve invisible – , et si finalement, dans notre chair comme dans celle des choses, le visible actuel, empirique, ontique, par une sorte de repliement, d’invagination, ou de capitonnage, exhibe une visibilité, une possibilité qui n’est pas l’ombre de l’actuel, qui en est le principe, qui n’est pas l’apport propre d’une « pensée », qui en est la condition, un style allusif, elliptique, comme tout style, mais comme tout style inimitable, inaliénable, un horizon   intérieur et un horizon extérieur, entre lesquels le visible actuel est un cloisonnement provisoire, et qui, pourtant, n’ouvrent indéfiniment que sur d’autres visibles, alors, – la distinction immédiate et dualiste du visible et de l’invisible, celle de l’étendue et de la pensée étant récusées, non que l’étendue soit pensée ou la pensée étendue, mais parce qu’elles sont l’une pour l’autre l’envers et l’endroit, et à jamais l’une derrière l’autre, – certes, c’est une question de savoir comment s’instaurent par là-dessus les « idées de l’intelligence », comment de l’idéalité d’horizon on passe à l’idéalité « pure », et par quel miracle notamment à la généralité naturelle de mon corps et du monde vient s’ajouter une généralité créée, une culture, une connaissance qui reprend et rectifie la première. Mais, de quelque façon que nous ayons finalement à la comprendre, elle fuse déjà aux articulations du corps esthésiologique, aux contours des choses sensibles, et, si neuve qu’elle soit, elle se glisse par des voies qu’elle n’a pas frayées, transfigure des horizons qu’elle n’a pas ouverts, elle emprunte au mystère fondamental de ces notions « sans équivalent », comme dit Proust, qui ne mènent dans la nuit de l’esprit leur vie ténébreuse que parce qu’elles ont été devinées aux jointures du monde visible. Il est trop tôt maintenant pour éclairer ce dépassement sur place. Disons seulement que l’idéalité pure n’est pas elle-même sans chair ni délivrée des structures d’horizon : elle en vit, quoiqu’il s’agisse d’une autre chair et d’autres horizons. C’est comme si la visibilité qui anime le monde sensible émigrait, non pas hors de tout corps, mais dans un autre corps moins lourd, plus transparent, comme si elle changeait de chair, abandonnant celle du corps pour celle du langage, et affranchie par là, mais non délivrée, de toute condition. Pourquoi ne pas admettre, – et cela, Proust le savait bien, il l’a dit ailleurs –, que le langage, aussi bien que la musique, peut soutenir par son propre arrangement, capter dans ses propres mailles un sens, qu’il le fait sans exception chaque fois qu’il est langage conquérant, actif, créateur, chaque fois que quelque chose, au sens fort est dit ; que, comme la notation musicale est un fac-similé après coup, un portrait abstrait de l’entité musicale, le langage comme système de relations explicites entre signes et signifiés, sons et sens est un résultat et un produit du langage opérant où sens et son sont dans le même rapport que la « petite phrase » et les cinq notes qu’on y trouve après coup ? Ceci ne veut pas dire que la notation musicale et la grammaire et la linguistique et les « idées de l’intelligence » – qui sont les idées acquises, disponibles, honoraires – soient inutiles, ou que, comme disait Leibniz, l’âne qui va droit au fourrage en sache   autant que nous sur les propriétés de la ligne droite, mais que le système de relations objectives, les idées acquises sont eux-mêmes pris comme dans une vie et une perception secondes qui font que le mathé maticien va droit aux entités que personne n’a encore vues, que le langage et l’algorithme opérants usent d’une visibilité seconde et que les idées sont l’autre côté du langage et du calcul. Quand je pense, elles animent ma parole intérieure, elles la hantent comme la « petite phrase » possède le violoniste, et restent au-delà des mots, comme elle au-delà des notes, non que sous un autre soleil, à nous caché, elles resplendissent, mais parce qu’elles sont ce certain écart, cette différenciation jamais achevée, cette ouverture toujours à refaire entre le signe et le signe, comme la chair, disions-nous, est la déhiscence du voyant en visible et du visible en voyant. Et, comme mon corps ne voit que parce qu’il fait partie du visible où il éclôt, le sens sur lequel ouvre l’arrangement des sons se répercute sur lui. La langue pour le linguiste est un système idéal, un fragment du monde intelligible. Mais, de même qu’il ne suffit pas, pour que je voie, que mon regard soit visible pour X, il faut qu’il soit visible pour lui-même, par une sorte de torsion, de retournement ou de phénomène spéculaire, qui est donné du seul fait que je suis né, de même, si mes paroles ont un sens, ce n’est pas parce qu’elles offrent l’organisation systématique que dévoilera le linguiste, c’est parce que cette organisation, comme le regard, se rapporte à elle-même : la Parole opérante est la région obscure d’où vient la lumière instituée, comme la sourde réflexion du corps sur lui-même est ce que nous appelons lumière naturelle. Comme il y a une réversibilité du voyant et du visible, et comme, au point où se croisent les deux métamorphoses, naît ce qu’on appelle perception, de même, il y a une réversibilité de la parole et de ce qu’elle signifie ; la signification est ce qui vient sceller, clore, rassembler la multiplicité des moyens physiques, physiologiques, linguistiques de l’élocution, les contracter en un seul acte, comme la vision vient achever le corps esthésiologique ; et, comme le visible saisit le regard qui l’a dévoilé et qui en fait partie, la signifi cation rejaillit en retour sur ses moyens, elle s’annexe la parole qui devient objet de science, elle s’antidate par un mouvement rétrograde qui n’est jamais complètement déçu, parce que déjà, en ouvrant l’horizon du nommable et du dicible, la parole avouait qu’elle y a sa place, parce que nul locuteur ne parle qu’en se faisant par avance allocutaire, ne serait-ce que de soi-même, qu’il ferme d’un seul geste le circuit de son rapport à soi et celui de son rapport aux autres et, du même coup, s’institue aussi délocutaire, parole dont on parle : il s’offre et offre toute parole à une Parole universelle. Il nous faudra suivre de plus près ce passage du monde muet au monde parlant. Nous ne voulons pour l’instant qu’indiquer qu’on ne peut parler ni de destructions ni de conservation du silence (et encore bien moins d’une destruction qui conserve ou d’une réalisation qui détruit, ce qui n’est pas résoudre mais poser le problème). Quand la vision silencieuse tombe dans la parole et quand, en retour, la parole, ouvrant un champ du nommable et du dicible, s’y inscrit, à sa place, selon sa vérité, bref, quand elle métamorphose les structures du monde visible et se fait regard de l’esprit, intuitus mentis, c’est toujours en vertu du même phénomène fondamental de réversibilité qui soutient et la perception muette et la parole, et qui se manifeste par une existence presque charnelle de l’idée comme par une sublimation de la chair. En un sens, si l’on explicitait complètement l’architectonique du corps humain, son bâti ontologique, et comment il se voit et s’entend, on verrait que la structure de son monde muet est telle que toutes les possibilités du langage y sont déjà données. Déjà notre existence de voyants, c’est-à-dire, avons-nous dit, d’êtres qui retournent le monde sur lui-même et qui passent de l’autre côté, et qui s’entre-voient, qui voient par les yeux l’un de l’autre, et surtout notre existence d’êtres sonores pour les autres et pour eux-mêmes, contiennent tout ce qui est requis pour qu’il y ait de l’un à l’autre parole, parole sur le monde. Et, en un sens, comprendre une phrase ce n’est rien d’autre que l’accueillir pleinement dans son être sonore, ou, comme on dit si bien, l’ entendre ; le sens n’est pas sur elle comme le beurre sur la tartine, comme une deuxième couche de « réalité psychique » étendue sur le son : il est la totalité de ce qui est dit, l’intégrale de toutes les différenciations de la chaîne verbale, il est donné avec les mots chez ceux qui ont des oreilles pour entendre. Et réciproquement, tout le paysage est envahi par les mots comme par une invasion, n’est plus à nos yeux qu’une variante de la parole, et parler de son « style » c’est à nos yeux faire une métaphore. En un sens, comme dit Husserl, toute la philosophie   consiste à restituer une puissance de signifier, une naissance du sens ou un sens sauvage, une expression de l’expérience par l’expérience qui éclaire notamment le domaine spécial du langage. Et en un sens, comme dit Valéry, le langage est tout, puisqu’il n’est la voix de personne, qu’il est la voix même des choses, des ondes et des bois. Et ce qu’il faut comprendre, c’est que, de l’une à l’autre de ces vues, il n’y a pas renversement dialectique, nous n’avons pas à les rassembler dans une synthèse : elles sont deux aspects de la réversibilité qui est vérité ultime.


Ver online : Maurice Merleau-Ponty


[1Du Côté de chez Swann, II, pág. 192 (NRF, 1926).

[2Du côté de chez Swann, II, p. 192. [NRF, 1926.