Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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MacDowell: ÜBERLIEFERUNG - TRANSMISSÃO

terça-feira 11 de abril de 2017

O verdadeiro retorno às origens acontece quando o eis-aí-ser se entrega (sich überliefern  ) livremente a possibilidades passadas de existir autêntico, escolhendo-as como suas. Ao projetar-se em função de uma compreensão da existência, recebida em herança, o eis-aí-ser a patenteia, constituindo assim a verdadeira tradição (Ueberlieferung), oposta à tradição (Tradition  ), como a interpretação do ente, transmitida pelo palavreado de todo-mundo. Se o eis-aí-ser nota expressamente a proveniência das possibilidades em função das quais ele se entende, a sua resolução torna-se a recapitulação (Wiederholung  ) de um poder-ser, que já foi. A recapitulação não consiste nem em re-evocar o passado através de uma reconstrução histórica perfeita, nem em restaurar possibilidades de existir já transcorridas, tornando-as mais uma vez efetivas. Ela não intenta enriquecer o depósito da tradição com novos elementos ou adaptá-lo às novas circunstâncias. Trata-se, antes, de replicar as possibilidades passadas de existência, réplica que é, ao mesmo tempo, abjuração daquilo que, arrastado como peso morto através do tempo, influencia ainda o hoje.

Recapitular a questão do sentido de ser significa, portanto, para Heidegger, conferir à Filosofia aquela autenticidade em relação a seu passado que lhe faltou durante todo o período de domínio da Metafísica, e com a qual está indissoluvelmente ligado qualquer projeto filosófico, capaz de inserir o pensamento na situação presente. Voltando-se para as origens da Metafísica, que a tradição manteve continuamente encobertas, Heidegger coloca-se, pela primeira vez, em condições de esclarecer, no seu desenrolar-se essencial, a história do homem ocidental. A radicalidade do seu questionar põe ipso facto a descoberto as limitações das diversas tentativas de interpretação ontológica do ente, de modo que a recapitulação da questão do ser se transforma em Destruição da História da Ontologia tradicional. Este título não envolve a pretensão de rejeitar, em bloco, a tradição ontológica do Ocidente. Ao contrário, a destruição, apontando, em cada encruzilhada do pensar, no esquecimento da questão do sentido de ser, a razão das direções que ele toma, tem a função positiva de liberar as possibilidades autênticas que oferece a sua história. (1993, p. 176-177)


Ver online : A GÊNESE DA ONTOLOGIA FUNDAMENTAL DE M. HEIDEGGER