Página inicial > Fenomenologia > Jaspers: O Ser da Realidade Abrangente

Pensamento Ocidental Moderno

Jaspers: O Ser da Realidade Abrangente

Filósofos e Pensadores

quarta-feira 23 de março de 2022

Excertos de "Filosofia da Existência", trad. Marco Aurélio de Moura Matos.

Excertos de "Filosofia da Existência", trad. Marco Aurélio de Moura Matos.

PRIMEIRA RESPOSTA à pergunta sobre o ser surge da seguinte experiência básica:

O que quer que seja que se transforma num objeto para mim é sempre um ser determinado entre outros e somente um modo de ser. Quando penso no ser como matéria, energia, espírito, vida e assim por diante — cada categoria imaginável já foi experimentada — afinal de contas descubro sempre que absolutizei um modo de determinado ser, que surge dentro da totalidade do ser, no ser em si mesmo. Nenhum ser conhecido é o ser em si mesmo.

Sempre vivemos, por assim dizer, dentro do horizonte dos nossos conhecimentos. Lutamos por ultrapassar todos os horizontes que ainda nos cercam e circunscrevem e que obstruem nossa visão. Mas nunca chegamos a um ponto de observação em que o horizonte limitador desapareça e de onde pudéssemos examinar o todo, então completo e sem qualquer horizonte, e por conseguinte não apontando para nada mais além de si mesmo. Nem conseguimos atingir uma série de postos de observação que constituam a totalidade, na qual atingíssemos o ser absoluto avançando através dos horizontes — como ao circunavegarmos a terra. Para nós, o ser permanece aberto. Por todos os lados, ele nos leva ao ilimitado. Repetidas vezes, reiteradamente, o ser sempre provoca algum novo ser com que temos de nos defrontar.

Tal é a natureza do nosso conhecimento progressivo. Refletindo sobre essa natureza, formulamos a pergunta acerca do ser em si mesmo, que sempre parece nos elidir, na manifestação mesma de todas as aparências com que nos defrontamos. A este ser chamamos de realidade abrangente. Mas a realidade abrangente não é o horizonte do nosso conhecimento em qualquer momento particular. Diversamente disto, é a fonte de que emergem todos os novos horizontes, sem que se mostre nunca como visível, mesmo como um horizonte.

A realidade abrangente sempre se anuncia simplesmente — em objetos presentes e no âmbito dos horizontes — mas nunca se torna um objeto. Nunca aparecendo a nós ela mesma, é aquilo que tudo o mais parece. É ainda aquilo por que todas as coisas não apenas são o que imediatamente parecem ser, mas permanecem transparentes.


Ver online : Karl Jaspers