Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Henry (FFC:13) – o corpo é "histórico"

segunda-feira 26 de junho de 2023

Luiz Paulo Rouanet

O homem não é essencialmente um ser histórico. Ele é sempre o mesmo. Tudo o que há de “profundo” nele — e com isso não pretendemos formular nenhuma apreciação de ordem axiológica, mas designamos o que deve ser considerado originário do ponto de vista ontológico — persiste idêntico a si mesmo e é encontrado ao longo dos séculos. É porque se apoia sobre um solo ontológico e se refere a poderes ontológicos que a moral  , por sua vez, apresenta essa permanência que é a sua, e que, como diz Kierkegaard  , cada geração se vê em presença da mesma tarefa que a geração anterior. Dir-se-á, já que se trata aqui do corpo, que, mesmo que admitamos nossa redução e abstraiamos de toda evolução biológica em terceira pessoa, o corpo humano se oferece ao homem com características que variam ao longo da história, características que se traduzem, por exemplo, nos hábitos tão diversos concernentes à alimentação, ao vestuário, à sexualidade, assim como nos numerosos “modos” a eles relacionados. Não se trata aí, porém, do corpo originário, mas das diferentes maneiras, para o homem, de representar esse corpo e se comportar em relação a ele. O que é histórico são os objetos culturais ou humanos, e as diferentes atitudes humanas a eles relacionados. No entanto, o solo ontológico que funda a ambos permanece indiferente a essa evolução; esta sempre pressupõe aquele. (HENRY, Michel. Filosofia e fenomenologia do Corpo. Tr. Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: É Realizações, 2012, p.13)

Original

L’homme n’est pas essentiellement un être historique. Il est toujours le même. Tout ce qu’il y a de « profond » en lui — et par là nous n’entendons formuler aucune appréciation d’ordre axiologique, mais désignons plutôt ce qui doit être considéré comme originaire du point de vue ontologique — persiste identique à lui-même et se retrouve à travers tous les siècles. C’est parce qu’elle prend son appui sur un sol ontologique et qu’elle se réfère à des pouvoirs ontologiques, que la morale à son tour présente cette permanence qui est la sienne et que, comme le dit Kierkegaard, chaque génération se trouve en présence de la même tâche que la génération précédente. On dira, puisqu’il s’agit ici du corps, que, même si l’on admet notre réduction et si l’on fait abstraction de toute évolution biologique en troisième personne, le corps humain s’offre à l’homme avec des caractères qui varient au long de l’histoire, caractères qui se traduisent par exemple dans les habitudes si diverses concernant la nourriture, le vêtement, la sexualité, ainsi que dans les nombreuses « modes » qui s’y rapportent. Il ne s’agit pas là, toutefois, du corps originaire, mais des différentes façons pour l’homme de se représenter ce corps et de se comporter à son égard. Ce qui est historique, ce sont les objets culturels ou humains et les différentes attitudes humaines qui s’y rapportent. Mais le sol ontologique qui fonde les uns et les autres demeure indifférent à cette évolution ; celle-ci présuppose toujours celui-là.


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