Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Fenomenologia > Henry (E:9-10) – a carne e o corpo

Henry (E:9-10) – a carne e o corpo

segunda-feira 26 de junho de 2023

Carlos Nougué

Definida por tudo aquilo de que um corpo se acha desprovido, a carne não poderia confundir-se com ele; ela é antes, por assim dizer, o exato contrário. Carne e corpo opõem-se como o sentir e o não sentir — o que desfruta de si, por um lado; a matéria cega, opaca, inerte, por outro. Tão radical é essa diferença, que, por mais evidente que pareça, nos é muito difícil, e até impossível, pensá-la verdadeiramente. E isso porque ela se estabelece entre dois termos, um dos quais, afinal de contas, nos escapa. Se nos é fácil conhecer nossa carne porque ela não nos deixa nunca e se cola à nossa pele na forma dessas múltiplas impressões de dor e de prazer que nos afetam sem cessar de modo que cada um, com efeito, sabe muito bem, com um saber absoluto e ininterrupto, o que é sua carne — ainda que não seja capaz de exprimir conceptualmente esse saber —, totalmente diverso é nosso conhecimento dos corpos inertes da natureza material: ele vem perder-se e terminar numa ignorância completa. (p. 12)

Original

Définie par tout ce dont un corps se trouve dépourvu, la chair ne saurait se confondre avec lui, elle en est bien plutôt, si l’on peut dire, l’exact contraire. Chair et corps s’opposent comme le sentir et le non-sentir — ce qui jouit de soi d’un côté ; la matière aveugle, opaque, inerte de l’autre. Si radicale est cette différence que, pour évidente qu’elle paraisse, il nous est très difficile, voire impossible, de la penser véritablement. Et cela parce qu’elle s’établit entre deux termes, dont l’un, en fin de compte, nous échappe. S’il nous est aisé de connaître notre chair pour autant qu’elle ne nous quitte jamais et nous colle à la peau sous la forme de ces multiples impressions de douleur et de plaisir qui nous affectent sans cesse, en sorte que chacun en effet sait très bien, d’un savoir absolu et ininterrompu, ce qu’est sa chair — même s’il n’est pas capable d’exprimer ce savoir conceptuellement — tout autre est notre connaissance des corps inertes de la nature matérielle : elle vient se perdre et s’achever dans une ignorance complète. (p. 9-10)


Ver online : Michel Henry