Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Harada (2009a:84-86) – sentido do ser [Seinssinn]

quarta-feira 20 de dezembro de 2023

A pergunta que interroga o ente no seu ser se chama questão do sentido do ser [1]. Questão significa busca.

Segundo Ser e Tempo  , §2 (A estrutura formal   da pergunta pelo ser), numa busca temos o que buscamos. O que buscamos é o ser ou melhor o sentido do ser. Ao sentido do ser não o encontramos como isso ou aquilo, não como algo, como ente, como objeto, como o contra-posto, seja ele de que feitio for, não como coisa-Ding  , coisa-Sache. Tudo isso que nomeamos como termos indicativos afins ao ente, que aparecem como coisas de infinitas variações, nuances e diferenciações, são como que lugares, situações, a partir e dentro das quais a busca procura o seu buscado, o Ser, submetendo o respectivo ente sob o interrogatório acerca do seu ser. Essa situação da busca se perfaz numa estruturação de colocação bipolar, na qual num dos pólos se acha o interrogante com o seu interrogatório e no outro o interrogado, como ente-objeto, contraposto a quem interroga. Surge assim uma interação, um intercâmbio de dois tipos de ente, denominados, usualmente, sujeito e objeto. [2] Esta estruturação pode se dar em diferentes complexidades de interação, e em interpretações diferenciadas, mas como tal, por assim dizer, estatui o modo de agir e ser do que denominamos conhecimento, cuja estruturação está baseada na definição tradicional da verdade, como adequação da coisa e do intelecto, [3] cuja esquematização se fixa como relação S — O, refletido na fala lógica como S-P, i. é, conhecimento, como juízo. Essa fixação é algo como redução da questão do sentido do ser à estrutura da teoria do conhecimento, insuficiente para levar à consumação a busca, na sua radicalidade. Assim substitui-se por doutrina e teoria dogmatizada do conhecimento, a questão do sentido do ser, que se perfaz, como busca do sentido do ser, na situação do ente submetido ao interrogatório acerca do seu ser, a partir e dentro do qual pode emergir o vir à fala o ser no seu sentido, não como ente, como algo, não como algo-sujeito, nem como algo-objeto, nem como algo comum de dois, mas como pregnância de uma presença toda própria, como ente-no-ser e ser-no-ente.

A fenomenologia, como deixar ver de si mesmo o que se mostra assim como se mostra, a partir dele mesmo, é a tentativa de fazer retornar a busca da verdade enquanto questão do sentido do ser, libertando-a desse aprisionamento impróprio da sua essência dentro da camisa de força da teoria do conhecimento, convocando-a para a volta, para coisa ela mesma, i. é, para a causa ela mesma da sua dinâmica, evocada na própria expressão fenomenologia , i.é, deixar ver de si mesmo o que se mostra assim como se mostra, a partir dele mesmo: o deloun  .


Ver online : Hermógenes Harada


[1Sentido do ser não é idêntico com significação da palavra ser. Sentido, propriamente, nada tem a ver com signo ou significação, embora tenha muito a ver com aceno. Sentido, usualmente, indica os 5 sentidos que, por sua vez, de modo não muito claro, se referem ambiguamente ao sensorial, ao sensual, ao sensível, à sensibilidade estética. Mas, sentido diz tudo isso, porque, em todas essas referências, está presente o sentir. E o sentir está também no sentimento. Mas, então, o que é o sentir? No sentir, há recepção. Na recepção, se é afetado previamente, por um a priori, para que se receba. Mas, aqui não se dá, não há um quê, que afeta. A anterioridade do prévio, do a priori na recepção, não é anterioridade factual, ôntica, de algo que ocorre antes, em si e então afeta, mas sim atinência ao toque de um aceno que deixa ser sempre de novo, cada vez diferente e nova a possibilidade do eclodir silencioso da estruturação do mundo.

[2Variante de coisas da natureza e coisas da cultura

[3adaequatio rei et intellectus